Ivo Cassol “vence” em um dos cenários da última pesquisa — mas continua fora do jogo eleitoral / Charge-IA
Publicada em 18/10/2025 às 08h41
Porto Velho, RO — Em Rondônia, o ciclo das pesquisas eleitorais volta a apresentar sintomas de um velho problema: números que pouco dialogam com a realidade jurídica e política do Estado. O caso mais emblemático continua sendo o do ex-governador e ex-senador Ivo Cassol (PP), que, mesmo inelegível, volta a aparecer como um dos “líderes” na disputa pelo Governo do Estado.
Segundo levantamento divulgado pelo Real Time Big Data e reproduzido pelo portal R7 em 17 de outubro de 2025, Cassol figura à frente em um dos cenários simulados, com 25% das intenções de voto, empatando tecnicamente ou superando nomes como Marcos Rogério (PL) e Fernando Máximo (União Brasil). O estudo, feito com 1.200 entrevistados entre os dias 15 e 16 de outubro, tem margem de erro de três pontos percentuais.
A despeito do rigor metodológico informado, o dado que chama a atenção é a reincidência do nome de um político impedido de concorrer, como se sua candidatura fosse uma possibilidade concreta. Cassol continua inelegível — condição reconhecida judicialmente —, e ainda assim segue sendo incluído nos testes eleitorais como opção válida de escolha. Esse tipo de inclusão, por si só, reforça a distorção do processo informativo e alimenta falsas expectativas no eleitorado.
A presença de Ivo Cassol nas pesquisas mais recentes reabre um debate que Rondônia já conhece bem: o peso simbólico de sua figura e o uso político de seu nome. Mesmo fora do páreo, o ex-governador tenta preservar influência no tabuleiro eleitoral. A coluna Opinião de Primeira, do jornalista Sérgio Pires, publicou recentemente que Cassol “não está fora do jogo” e planeja agir “como treinador”, lançando a própria filha, Juliana Cassol, como candidata ao Governo em 2026.
RELEMBRE
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De acordo com a publicação, o ex-governador tem mantido conversas com lideranças políticas, entre elas o prefeito de Cacoal, Adailton Fúria, o ex-prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, e o deputado federal Fernando Máximo. Nos bastidores, Cassol avalia alternativas para continuar exercendo influência, ainda que por meio de terceiros. “Tem gente que se elege com o apoio dos amigos e depois só nomeia e governa com adversários”, teria dito, segundo o colunista.
O que se desenha, portanto, é uma contradição evidente: de um lado, a impossibilidade jurídica de Cassol disputar qualquer cargo; de outro, a insistência de institutos e veículos em tratá-lo como competidor legítimo, perpetuando um cenário de confusão deliberada.
Além da polêmica sobre sua elegibilidade, há outro dado que torna ainda mais inverossímil o uso do nome Cassol como termômetro político. Quando o ex-governador decidiu apostar em familiares, os resultados foram desastrosos. As tentativas de emplacar a esposa, Ivone Cassol, ao Senado, e o genro, Júnior Raposos, à Câmara Federal, não obtiveram êxito.
A única exceção de sucesso eleitoral foi a irmã, Jaqueline Cassol, com quem o ex-senador rompeu politicamente. A trajetória recente mostra que o “peso do sobrenome” já não tem o mesmo alcance — um indício de que insistir na ideia de influência hereditária é um exercício mais nostálgico do que realista. Ainda assim, o nome Cassol continua sendo inserido em simulações eleitorais, como se Rondônia vivesse sob a eterna sombra de seu passado político.
Em 4 de outubro deste ano, o portal Rondônia Dinâmica já havia alertado para as inconsistências e o descontrole do mercado de pesquisas. No editorial intitulado “Lei fraca propicia clima de leilão em pesquisas eleitorais”, o veículo denunciou o cenário de “sondagens desconexas” e “resultados que se transformam em mercadoria”. O texto destacou que levantamentos sem registro ou transparência metodológica permitem que interesses políticos comprem posições e fabriquem tendências.
A ausência de fiscalização efetiva, especialmente fora do período eleitoral formal, cria brechas para a divulgação de números que pouco refletem o sentimento real das urnas. Nessas condições, cada nova pesquisa se torna menos uma ferramenta de informação e mais um instrumento de manipulação, favorecendo quem domina o marketing e os bastidores do poder.
O retorno de Ivo Cassol às pesquisas — mesmo sem condições legais de candidatura — simboliza um vício que se repete: a insistência em cenários fantasiosos que confundem o eleitor, distorcem o debate público e corroem a confiança nas instituições. O fenômeno não é isolado; é parte de um modelo que, ano após ano, transforma estatística em ficção política.
Cabe à sociedade rondoniense aprender a driblar esse tipo de engodo. Mas em 2025, a era dos coachs, da inteligência artificial, dos memes, das fake news e das bets, a tarefa parece cada vez mais difícil. O eleitor continua vulnerável — vítima de golpes, sejam eles digitais, institucionais ou disfarçados de pesquisa. Enquanto a cultura política não amadurecer, Rondônia continuará refém das ilusões vendidas em forma de porcentagem.



Parabéns pelo editorial!
Demonstra lucidez e identidade a respeito dos fatos. Se os leitores acessasse mais conteúdos nesse nível, não se deixaria manipular por pseudos jornais.