Publicada em 20/10/2025 às 10h37
Porto Velho, RO — O último fim de semana registrou um encontro que viralizou nas redes sociais, movimentando os bastidores da política rondoniense. Na fazenda de Ivo Cassol, ex-governador e ex-senador da Repúblicam reuniram-se lideranças que, por coincidência — ou não —, figuraram entre os principais nomes da mais recente pesquisa eleitoral do Instituto Real Time Big Data, divulgada em 17 de outubro. O levantamento voltou a colocar Cassol no centro do debate político, mesmo ele estando inelegível, e alimentou discussões sobre a real influência do ex-governador no tabuleiro de 2026.
A fotografia do encontro, feita em um ambiente descontraído e de aparência informal, mostra Cassol entre o senador Marcos Rogério, do PL; e o deputado federal Fernando Máximo, do União Brasil. Sorrisos, cumprimentos e polegares erguidos reforçaram a imagem de união e proximidade. Mas, no meio político, o registro foi interpretado como um gesto de reposicionamento estratégico — um sinal de que Cassol tenta reafirmar relevância num cenário em que, oficialmente, não pode disputar nada, mas segue imaginando o poder de influenciar quase tudo.
A pesquisa do Real Time Big Data, contratada pela Rede Record e feita com 1.200 entrevistados entre os dias 15 e 16 de outubro, apontou Cassol com 25% das intenções de voto em um dos cenários testados. O dado causou surpresa, já que o ex-governador segue inelegível em razão de condenação transitada em julgado por fraudes em licitações, decisão que o enquadra na Lei da Ficha Limpa.
O Rondônia Dinâmica, em editorial publicado no sábado, dia 18, classificou o episódio como “um exercício de fantasia eleitoral”, afirmando que “as pesquisas insistem em transformar a estatística em ficção política”. Segundo o texto, o simples ato de incluir Cassol como opção de voto “alimenta ilusões no eleitorado e distorce o debate público, criando um ambiente de confusão deliberada”.
RELEMBRE
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Ainda de acordo com a veiculação, a reincidência do nome de Cassol em levantamentos “sintetiza o vício de um sistema que transforma popularidade em moeda política, mesmo quando a lei já retirou o direito de disputar”.
Outra publicação, também de autoria do Rondônia Dinâmica, trazida à tona em 31 de maio de 2025 e intitulada “O dedo podre de Ivo Cassol”, revisitou o histórico eleitoral do ex-governador e os resultados pouco animadores de seus apadrinhados. Desde João Cahúlla, derrotado por Confúcio Moura em 2010, passando pela esposa dele, Ivone Cassol, que fracassou ao disputar o Senado em 2014, até nomes como Lindomar Garçon, DJ Maluco e Ivan da Saga, a lista é extensa — e, em sua maioria, marcada por resultados negativos nas urnas.
A exceção parcial foi Jaqueline Cassol, irmã do ex-governador, eleita deputada federal em 2018, mas cujo rompimento político com o irmão se tornou público e aparentemente irreversível. O caso de Júnior Raposo, genro de Cassol, também reforça a tese da “maldição”: mesmo com o apoio direto do sogro, terminou longe de se eleger deputado federal.
A expressão “dedo podre”, usada pelo Rondônia Dinâmica, acabou incorporada ao vocabulário jornalístico local. Refere-se à capacidade de Cassol atrair holofotes, mas não transferir votos. Ele “brilha sozinho”, mas “quem se aproxima demais, geralmente termina ofuscado”.
E AINDA
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A presença de Marcos Rogério e Fernando Máximo na fazenda, dias após a divulgação da pesquisa, reavivou esse debate. Ambos aparecem bem posicionados nas simulações eleitorais e têm percorrido o Estado em agendas que misturam articulação política e projeção pessoal. O primeiro, senador e candidato ao Governo do Estado em 2022, mantém base sólida no interior, especialmente no eixo Ji-Paraná–Ariquemes. O segundo, deputado federal e ex-secretário de Saúde do governo Marcos Rocha, é visto como um dos nomes mais competitivos dentro da nova geração da direita rondoniense.
A foto com Cassol, portanto, vai além da cordialidade rural. Representa um gesto calculado, de aproximação com uma figura ainda influente junto a setores do agronegócio, prefeitos e lideranças evangélicas. Pode ser um movimento pragmático, embora haja riscos políticos: além de outros fatores, o de herdar não apenas o apoio, mas também o desgaste de uma imagem cercada por controvérsias jurídicas e eleitorais.
Mesmo inelegível, Cassol não abandonou o jogo. Em declarações recentes a aliados, teria afirmado que “não está fora do processo”, sinalizando disposição de atuar como mentor, apoiador ou articulador de candidaturas. Há especulações sobre a possível entrada de sua filha, Juliana Cassol, como candidata ao governo em 2026 — uma tentativa de manter o sobrenome na corrida pelo Palácio Rio Madeira.
A trajetória política de Cassol reforça esse padrão. Desde que deixou o governo, em 2010, o ex-senador alterna períodos de silêncio com reaparições estratégicas em momentos-chave do calendário eleitoral. O encontro na fazenda é apenas mais um episódio dessa sequência, mas suficiente para incendiar os bastidores e dividir opiniões.
Cassol permanece como um dos políticos mais conhecidos de Rondônia. Seu nome é facilmente lembrado nas pesquisas espontâneas, especialmente em regiões agrícolas e no eixo Cacoal–Rolim de Moura. Essa popularidade, contudo, não se traduz mais em capacidade eleitoral efetiva. Ele é popular para si mesmo, mas, quando tenta emprestar essa popularidade, o feitiço se volta contra o feiticeiro.
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O reencontro na fazenda reacende essa contradição: um líder que continua influente, mas preso às sombras de um passado que o impede de concorrer; aliados que buscam visibilidade, mas correm o risco de repetir a sina dos apadrinhados que não venceram.
Mais do que uma simples confraternização, a fotografia tornou-se símbolo de uma encruzilhada política. De um lado, a nostalgia de quem já comandou Rondônia por dois mandatos. Do outro, o pragmatismo de quem enxerga nele ainda um ativo — mas também um fardo.
E, à sombra das árvores da fazenda de Cassol, o gesto do polegar erguido parece anunciar um novo capítulo: Fernando Máximo e Marcos Rogério, ao contrário de antigos apadrinhados, possuem capitais políticos próprios e trajetória consolidada, o que pode lhes permitir quebrar a maldição que persegue os aliados do ex-governador. Nesse sentido, Cassol pode até voltar a brilhar, emprestando a fatia positiva de sua popularidade sem comprometer os parceiros. Entretanto, não se pode duvidar — jamais — do talento do seu célebre “dedo podre” em transformar promessas em tropeços e levar aliados à lona.



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