Publicada em 14/10/2025 às 09h18
Porto Velho, RO — O vereador de Porto Velho Thiago Tezzari afirmou que não pratica “rachadinha” e atribuiu a origem das suspeitas a uma denúncia feita por uma pessoa com quem, segundo ele, mantinha “relação de proximidade”. A declaração foi dada no podcast Resenha Política, apresentado por Robson Oliveira em parceria exclusiva com o Rondônia Dinâmica. A conversa foi gravada logo após a operação realizada por órgãos de segurança do Estado. Tezzari confirmou ter sido afastado por 30 dias por decisão judicial e disse que ainda não teve acesso aos autos, apenas à decisão. “Eu não fui ouvido”, declarou. A investigação tramita sob sigilo.
Provocado sobre a suspeita de “rachadinha”, Tezzari respondeu: “Não existe. Existe o contrário. Existe dinheiro meu para essas pessoas.” Ele afirmou que “cinco pessoas” ligadas ao gabinete contribuem, “de forma espontânea”, com R$ 1.500 por mês para um amigo que estuda em Ji-Paraná. Questionado se haveria retorno desses valores a ele, disse: “Só fala da ida… Eu tô aguardando ver como volta.” O vereador afirmou ainda que valores pix apontados na decisão seriam “ajudas” pagas por ele: “Vão me condenar porque eu ajudo as pessoas que chegam na minha frente falando que estão passando fome e eu dou meu dinheiro?”
Sobre a referência a “funcionário fantasma”, Tezzari contestou: “O funcionário fantasma é servidor concursado da Prefeitura de Porto Velho, trabalha na segunda sala à direita quando você entra na SEMAD.” Ele disse que o servidor não exerce função comissionada “nem na prefeitura, nem comigo”. A respeito da ligação com uma empresa de biquínis, o vereador negou ser proprietário: afirmou que conhece a empresária “há uns oito anos”, que a empresa existe “há 15 anos”, e que a atual assessora “se afastou da empresa e foi pro meu gabinete”, mas “é dela. Não é meu.”
Tezzari disse ter sido alvo de operação semelhante “há quatro anos”, quando era secretário municipal e atuava em processo de licitação do transporte coletivo. Segundo ele, naquela ocasião “não fui nem denunciado” e os bens apreendidos foram devolvidos; relatou que o telefone “voltou sem funcionar”. Ao relacionar os episódios atuais ao debate sobre a concessão do lixo na capital, declarou: “Eu vejo com muita clareza… nós estamos falando de algo que vale dois bilhões [de reais].” Indagado se haveria contaminação política, respondeu: “Eu tenho certeza, porque a primeira teve.” E sugeriu, sobre a atual ação: “Essa operação pode ser um instrumento para pegar o celular de um vereador para, daí, do celular desse vereador, puxar alguma coisa.”
Apesar de não empregar o termo técnico, a sugestão feita pelo vereador remete ao conceito de “pescaria probatória” (fishing expedition), prática vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Esse tipo de expediente caracteriza-se por investigações genéricas e especulativas, conduzidas sem objeto específico, com o intuito de “lançar redes” e colher eventuais provas que possam fundamentar futuras acusações. O sistema jurídico nacional, contudo, admite o chamado “encontro fortuito de provas” (serendipidade), que ocorre quando, no curso de uma investigação regularmente autorizada, surgem indícios ou elementos de prova relativos a crimes que inicialmente não eram alvo da apuração.
O parlamentar disse que recebeu a equipe policial “sem excesso” e afirmou manter “extremo respeito” à Polícia, ao Ministério Público e ao Judiciário. Ao ser questionado por que não forneceu acesso espontâneo ao aparelho, disse “não ter nada a esconder”, mas declarou não ter “esse nível de confiança” e citou “incidentes recentes de uma certa politização das forças de segurança do Estado”, mencionando caso público discutido em entrevistas anteriores do programa. Reiterou que pretende pedir para ser ouvido “para poupar tempo e desgaste”.
Tezzari sustentou que sua atuação na Câmara na fiscalização da concessão de resíduos sólidos e sua história na licitação do transporte coletivo o colocaram “em confronto” com “interesses muito fortes”. “Toda vez que eu confronto um interesse poderoso… eu tomo uma operação na minha casa? Então eu já estou vendo um certo padrão”, disse. Questionado sobre possível “ataque sistemático” à Câmara Municipal, afirmou acreditar que a “casa vai ser atacada”.
No plano pessoal, o vereador relatou que a busca ocorreu no início da manhã, após ter acompanhado de madrugada a instalação de faixa de pedestres. Disse que compareceu, em silêncio, à coletiva dos órgãos responsáveis pela operação “para elogiar publicamente a postura, educada, elegante, respeitosa” e que tem recebido manifestações de apoio nas redes. Segundo ele, o gabinete atende “das oito da manhã às nove da noite” e já teria “atendido mais de três mil pessoas”. Declarou viver de salário, residir “com o sogro” e ter “um carro financiado”. Ao ser questionado se processaria responsáveis caso sua versão prevalecesse ao final, respondeu: “Não vou processar ninguém, não. Eu acredito num julgamento maior.”
O apresentador recordou que a entrevista foi realizada um dia após as medidas judiciais e informou que a investigação permanece sob sigilo. Tezzari disse que seu advogado “já está constituído” no processo, mas que “não deram acesso ainda”. Ao longo do programa, reafirmou tranquilidade quanto ao desfecho: “Eu já vivi isso uma vez… É uma questão de tempo.” No encerramento, voltou a negar “rachadinha” e a classificar as transferências financeiras como ajudas: “Existe eu dando dinheiro pros outros", encerrou.



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