Publicada em 04/12/2025 às 10h07
PORTO VELHO (RO) – Laerte Gomes foi o convidado do Resenha Política, programa apresentado por Robson Oliveira em parceria exclusiva com o Rondônia Dinâmica, em uma conversa de mais de trinta minutos marcada por revelações sobre auditorias, disputas internas na Assembleia, negociações partidárias, possíveis renúncias, projeções eleitorais, tensões entre grupos rivais e declarações que reconstroem parte do tabuleiro político que se forma para as eleições de 2026. O deputado estadual, atual vice-presidente da Assembleia Legislativa, tratou de temas já conhecidos dos bastidores e outros pouco verbalizados publicamente, começando pela cobrança de Robson sobre episódios envolvendo o Poder Judiciário durante sua gestão na presidência do Legislativo. Ele reconheceu que houve processos decorrentes do período em que assinava nomeações e explicou que o ato se relacionava exclusivamente ao fato de exercer a presidência no biênio 2019–2020. Em seguida, lembrou que mudou a dinâmica administrativa da Casa, ao transferir a ordenação de despesas para o secretário-geral, afirmando que foi a primeira vez que um presidente adotou esse modelo: “Eu tive a coragem de fazer isso, ninguém nunca tinha feito.”
A entrevista avançou rapidamente para a maior controvérsia quando Laerte revelou ter sido, segundo suas palavras, um dos raros presidentes da Assembleia submetidos a uma tomada de contas especial, aberta a pedido do Ministério Público e da Polícia Federal, com execução técnica conduzida pelo Tribunal de Contas do Estado. Ele relatou que auditores permaneceram três meses instalados dentro da Assembleia, vasculhando folhas funcionais, contratos, rotinas administrativas e documentos de pessoal. De acordo com Laerte, o relatório final não apontou prejuízo ou irregularidades, e a tomada de contas foi aprovada. “Eles foram em todas as fichas. Se faltar um documento, dois, às vezes é erro humano, mas já dá indício. A gente sempre teve controle interno muito forte”, declarou. Robson afirmou ter lido o relatório antes da entrevista e confirmou que não encontrou elementos que o levassem a confrontar Laerte a respeito.
Ao perceber que o clima permitia aprofundar temas espinhosos, Robson provocou com uma pergunta que corre nos bastidores: se Laerte teria conseguido tomar posse de “300 cargos” no governo estadual durante negociações políticas. O deputado negou de forma direta. “Se eu tivesse isso… Eu nem sei se tem estudo de cargos no governo.” Ele lembrou que nunca votou em Marcos Rocha e que apoiou Expedito Júnior, mas destacou que, mesmo assim, tornou-se líder do governo no Parlamento após a reeleição do governador. Ele explicou que, durante o processo, manteve lealdade ao compromisso assumido com Marcos Rogério e insistiu que Rocha o convidou para a liderança justamente por reconhecer essa postura. “A tua palavra foi de homem”, disse o governador a ele, segundo relatou. Laerte reforçou que negociou posições institucionais, não loteamentos ou espaços administrativos.
A partir desse ponto a entrevista entrou no terreno das projeções eleitorais, onde Laerte fez declarações que repercutem entre os principais grupos políticos do estado. Ele afirmou que a disputa majoritária de 2026 está antecipada e polarizada em dois blocos: o PSD, com o prefeito de Cacoal, Adailton Fúria, como pré-candidato ao governo, e o PL, representado pelo senador Marcos Rogério. O deputado destacou que Fúria foi reeleito com mais de 80% dos votos e ressaltou sua habilidade nas redes sociais como elemento central de sua estratégia. Ao tratar do PL, afirmou que Marcos Rogério “veio de um recalque muito forte na última eleição” e que perdeu cerca de 30 a 40 mil votos para Marcos Rocha, lembrado por Robson como uma disputa decidida por cerca de 3%. Laerte reconheceu que participou da coordenação da campanha de Marcos Rogério, mas afirmou que o cenário atual é diferente e que há uma reorganização natural das alianças.
Para além da polarização, Laerte destacou a possibilidade de surgimento de um terceiro nome competitivo. Ele citou diretamente o prefeito de Porto Velho, Léo Moraes, ressaltando sua força política, boa avaliação e capacidade de comunicação. Também mencionou o ex-prefeito Hildon Chaves, afirmando que ele ora manifesta intenção de disputar o governo, ora a Câmara Federal, ora nenhuma das opções. Laerte avaliou que esse movimento pode ocorrer porque o eleitor tende a buscar alternativas quando a eleição se divide entre dois polos fixos. “Eu sinto que falta alguma coisa nisso, porque está muito polarizado”, afirmou. Também mencionou que outros grupos políticos, incluindo Podemos e setores independentes, podem articular candidaturas próprias.
Outro ponto de grande repercussão foi a análise sobre a possível renúncia do governador Marcos Rocha para disputar o Senado. Indagado diretamente, Laerte disse: “Eu acho que ele renuncia. Porque tem o projeto dele e da esposa dele.” Ele complementou que o irmão do governador também planeja candidatura a deputado estadual, mas ponderou que se trata de decisão íntima e que pode mudar até abril. Também reconheceu que renunciar é um ato pesado: “Pegar uma caneta e assinar renúncia de governo não é fácil.”
Ainda sobre Marcos Rocha, Laerte relatou que há mais de um ano tenta convencê-lo a se filiar ao PSD. Ele afirmou acreditar que esse seria o melhor caminho político para o governador, citando dificuldades no União Brasil, especialmente dentro da federação com o PP. Explicou que o partido precisa deixar uma das vagas ao Senado em aberto para negociar alianças em 2026, mas que, se o governador se filiar, seria natural que ocupasse essa vaga. Disse que a nominata do PSD para deputado estadual é forte, que a de federal precisa ser reforçada e que a presença de Rocha ajudaria a estruturar o time. Robson o pressionou sobre conversa recente entre Expedito Júnior, Fúria e Marcos Rocha; Laerte respondeu que, se houve diálogo, acredita que tenha sido “questão partidária” e que não vê outra pauta possível além da reorganização política.
Depois de longos blocos sobre disputas de poder, alianças, resistências e projeções, a entrevista caminhou para pormenores e passagens mais descritivas. Laerte falou sobre sua experiência como prefeito de Alvorada e sobre ter todas as contas aprovadas, tanto pelo Tribunal de Contas quanto pela Câmara Municipal. Recordou que devolveu mais de cem milhões de reais durante sua gestão na Assembleia, além de valores destinados ao Hospital do Amor e recursos encaminhados ao Iperon após aprovação de lei que vinculou sobras orçamentárias ao instituto. Contou também que visitou uma escola em Ji-Paraná cuja obra foi interrompida quando a empresa responsável “quebrou”, dificultando a continuidade dos serviços e ilustrando, segundo ele, como burocracias e falhas operacionais atrasam políticas públicas.
Confirmou que será candidato à reeleição e que não pretende disputar outro cargo, embora reconheça sentir-se preparado para qualquer função. Afirmou que o PSD e lideranças de outros partidos o estimulam a buscar vaga na Câmara Federal, mas disse considerar que seu projeto permanece na Assembleia. A conversa terminou com perguntas rápidas sobre o cenário presidencial. Laerte afirmou que os embargos que atingiram Bolsonaro foram “muito ruins” para o campo de centro-direita e que o episódio acabou fortalecendo Lula, que vinha “em baixa” segundo pesquisas. Defendeu união da direita em torno de Tarcísio ou Ratinho Júnior e declarou preferência pessoal por Ratinho, destacando sua popularidade entre classes C, D e E. Sobre Lula, afirmou: “Ele disputa eleição fortemente.”
Entre comentários descontraídos sobre o Flamengo e bastidores recentes, a entrevista se encerrou com agradecimentos, deixando no ar a soma de declarações que reconfiguram expectativas eleitorais, registram disputas internas, destacam reorganizações partidárias em curso e confirmam que a disputa de 2026 já se move muito antes do início oficial do período eleitoral.
10 frases de Laerte Gomes durante o podcast Resenha Política
01. “Eu acho que ele renuncia.”
Laerte respondia à pergunta direta de Robson sobre a possibilidade de o governador Marcos Rocha deixar o cargo para disputar o Senado. O deputado explicou que a renúncia seria coerente com o projeto eleitoral da família Rocha, que inclui a esposa e o irmão do governador como candidatos em 2026.
02. “Tem o projeto dele e da esposa dele… e do irmão para a estadual.”
Na mesma sequência, Laerte detalhou que, na sua percepção, a renúncia de Marcos Rocha seria parte de uma estratégia mais ampla de fortalecimento eleitoral da família, o que, naturalmente, atrai repercussões e disputas internas em vários partidos.
03. “Eu tive a coragem de fazer isso, ninguém nunca tinha feito.”
O deputado defendia a decisão de retirar da presidência da Assembleia a função de ordenador de despesas, transferindo-a para o secretário-geral.
04. “Eu fui um dos únicos presidentes da história da Assembleia que fui auditado pela Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas.”
Laerte falava das investigações sofridas durante sua presidência, enfatizando que os órgãos de controle ficaram três meses dentro da Assembleia.
05. “Veio de um recalque muito forte na última eleição.”
Ao comentar o desempenho de Marcos Rogério na disputa de 2022, Laerte usou o termo para caracterizar a derrota do senador na corrida pelo governo.
06. “O teu caminho é aqui. Ali onde você está, tem muito chefe.”
Frase usada para convencer Marcos Rocha a se filiar ao PSD. Laerte afirmou que o União Brasil, por estar em federação, cria travas e disputas internas que poderiam dificultar o projeto do governador.
07. “Se eu tivesse 300 cargos… eu nem sei se tem tudo isso no governo.”
Respondendo à especulação de bastidores, Robson perguntou se Laerte teria “abocanhado” centenas de cargos.
08. “Não é à toa que eu virei líder dele sem nunca ter votado nele.”
Ao relatar sua aproximação institucional com Marcos Rocha, Laerte disse nunca ter dado voto ao governador, mas mesmo assim tornou-se líder do governo na Assembleia após as eleições.
09. “Eu acho que ainda falta alguma coisa nessa eleição. Está muito polarizado.”
Laerte sustentou que a disputa entre PSD e PL abre espaço para um terceiro nome forte, citando prefeitos e ex-prefeitos.
10. “Quem não tem um partido para chamar de seu não escolhe o que quer ser. Vai o que sobrar.”
Comentando a situação de Marcos Rogério e, indiretamente, de outros líderes regionais, Laerte concordou com Robson que candidatos sem controle partidário ficam vulneráveis.



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