Publicada em 21/10/2025 às 09h37
Porto Velho, RO — Em entrevista ao podcast Resenha Política, apresentado por Robson Oliveira em parceria exclusiva com o Rondônia Dinâmica, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Rondônia (Sedec/RO), Lauro Fernandes, construiu uma defesa prolongada das viagens internacionais e interestaduais do governador Marcos Rocha, associando esses deslocamentos a negócios concretos, expansão de mercados e melhora de indicadores fiscais; em paralelo, tratou de conflitos fundiários e ambientais, classificou como infundadas as especulações de risco em estruturas de geração de energia e detalhou, com números, o descompasso entre a oferta de empregos e a qualificação disponível no estado.
No bloco mais sensível, ao responder sobre críticas ao volume de viagens oficiais, Fernandes vinculou diretamente as agendas externas a resultados econômicos e à abertura diplomática de portas para produtos rondonienses: “O governador viajou levando os produtos do estado de Rondônia, viajou levando empresários de Rondônia, viajou levando produtores do nosso estado”, disse, emendando que esses movimentos estariam refletidos em indicadores: “O nosso PIB vem crescendo cada vez mais… nós já chegamos a 70 bilhões de reais”. Na mesma linha, sustentou que as missões comerciais resultaram em novos destinos de exportação e citou a carne como exemplo, com dado específico: “Só esse ano nós vendemos 18 milhões de dólares de carne para o Peru”.
Ainda no terreno das controvérsias públicas, o secretário abordou o tema de segurança de barragens e usinas depois de reportagens que aventaram riscos, contrapondo-se com uma negativa enfática e contextualizada: “Teve um boato que por conta dessa cheia… poderia ceder as paredes da usina; ele [o responsável técnico] falou que jamais isso aconteça aqui; tudo isso é muito certificado, é tudo muito acompanhado, monitorado por especialistas”, afirmou, para em seguida reconhecer que a vigilância regulatória não pode arrefecer: “A gente precisa ficar atento e os órgãos de controle de fiscalização precisam atuar de forma mais eficaz”.
A entrevista avançou então para a questão fundiária e de conservação, em que Fernandes resgatou a opção do governo, em 2022, por desafetar áreas com ocupações antigas e redirecionar unidades para acomodar a permanência de famílias que já produzem, citando nominalmente regiões de conflito: “Bom Futuro, Soldado da Borracha, Resex Jaci-Paraná, Resex Guajará-Mirim, todas elas estão passando por conflitos”, disse, e explicitou a diretriz que, segundo ele, orienta a posição do Executivo: “O governador deseja a permanência dessas pessoas que já estão lá produzindo há muito tempo… Não as pessoas que vão ingressar dentro dessas áreas e destruir”.
Na agenda de inserção internacional, Fernandes descreveu um desenho logístico ancorado na integração com os países andinos, com porto seco em Guajará-Mirim e uso de corredores ao Pacífico para reduzir tempo e custo de transporte; ao defender a viabilidade da rota, ele comparou prazos de trânsito com a alternativa atlântica: “Saindo pelo porto de Xangai ou de Arica no Chile, nós vamos ter uma redução… pra 20 dias”, afirmou, argumentando que a compressão logística “coloca o nosso produto no mercado” com mais competitividade. O secretário acrescentou que há memorandos de intenção assinados e reuniões com investidores interessados em instalar estruturas alfandegadas tanto em Porto Velho quanto em Guajará-Mirim, vinculando esse interesse à “localização geográfica favorável” e à possibilidade de escoamento por rotas curtinhas até o Pacífico.
Ao tratar de diversificação produtiva e pauta exportadora, Fernandes listou segmentos além da carne — do café premiado ao cacau, pescado e frutas nativas — e relatou pressões de demanda que, segundo ele, já superam a capacidade atual de oferta, o que levou a Sedec/RO a articular um acordo técnico com a Embrapa para ampliar mudas e selecionar materiais mais resilientes: “Já me trouxeram o plano de trabalho de 7 milhões de reais… para poder desenvolver realmente uma planta que consiga ter durabilidade e um fruto bom”, disse, frisando a necessidade de resistência a pragas para sustentar a expansão.
O gargalo central, porém, foi apresentado como a falta de mão de obra capacitada, com um número que guiou a argumentação do secretário: “No nosso sistema da geração [de] emprego, nós temos lá praticamente 3 mil ofertas de emprego aqui em Rondônia”, afirmou, destacando que a maioria das vagas exige qualificação técnica e operacional e que a pasta decidiu contratar empresas para cursos de formação alinhados às demandas do mercado; nesse ponto, vinculou a estratégia a parcerias com Senai, federações e o Fórum de Micro e Pequenas Empresas, com a meta de “viabilizar as melhores políticas públicas” para encurtar a distância entre vagas e candidatos.
Ao costurar crescimento econômico e proteção ambiental, Fernandes tentou acomodar o discurso de sustentabilidade dentro de uma política de resultados, rejeitando a oposição ideológica como filtro de decisões: “O mundo quer trabalhar de forma desenvolvida, mas de forma sustentável”, disse, e reforçou que Rondônia “cresceu, aumentou a produção e desmatou pouco”. Em paralelo, citou o turismo de pesca como cadeia emergente e apontou práticas predatórias recentes como uma ameaça direta ao esforço promocional do estado; por isso, disse estar “trabalhando uma demanda… para capacitar esses pescadores profissionais para que eles consigam mudar de profissão… e virem guias de pesca”.
No plano político, a entrevista fechou com recados sobre 2026 sem confirmação de candidatura própria do secretário; ao comentar o futuro de Marcos Rocha, Fernandes afirmou que o governador reúne condições para disputar o Senado, vinculando essa avaliação a indicadores fiscais e à recepção no interior: “Hoje o estado é AAA, em solidez fiscal”, disse, e completou que “onde ele vai… ele é muito bem recebido pela população”.
Fernandes ainda contou que assumir a Sedec/RO após passagem do vice-governador pela pasta foi “assustador” pelo peso da responsabilidade e disse que organizou apresentações institucionais em feiras como a Ficomex, relatando — em tom de bastidor — que “quando eu terminei a palestra… fez uma fila de embaixadores pra falar comigo; eu passei até um pouquinho de vergonha porque eu não speak English”, embora tenha dito que conduz diálogos em espanhol. No turismo, citou visitas pessoais a cachoeiras em Alta Alegre dos Parecis e Pimenta Bueno e descreveu propriedades privadas que “abriram as portas” ao público, enquanto, sobre a indústria de transformação do couro, reconheceu que hoje o couro sai “in natura” e repetiu que a estratégia é atrair beneficiamento local apoiado em energia e água disponíveis. Ao tratar de ambições eleitorais, concluiu que “hoje” não tem desejo de disputar mandato, mas aceitaria colaborar na montagem de nominatas “se vier a oportunidade”, observando que “a campanha é muito desgastante”, encerrou.



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