Publicada em 25/10/2025 às 09h54
Porto Velho, RO – O texto publicado pelo portal Rondoniagora na última sexta-feira, 24, expôs com objetividade a realidade que Hildon Chaves levou algum tempo para admitir: o casamento político entre o ex-prefeito e os irmãos Maurício e Mariana Carvalho parece ter chegado ao fim. Durante anos, o trio surfou uma parceria frutífera, construída em conveniências e objetivos comuns. O PSDB funcionou como plataforma eleitoral, guarda-sol partidário e capital simbólico para dois nomes em ascensão e um gestor oriundo do Ministério Público. Com a consolidação do União Brasil em Rondônia e o controle do Republicanos pelo patriarca Aparício Carvalho, o tucanato se tornou, como relatou o próprio site, um mero “puxadinho”.
O ninho tucano foi relegado a segundo plano, a ponto de o comando partidário ser uma incógnita para boa parte do eleitorado e até de lideranças políticas. Essa invisibilidade só foi revertida em março de 2024, quando Hildon assumiu a direção estadual, substituindo Fabrício Jurado. Antes disso, Mariana Carvalho chegou a presidir a sigla, mas logo migrou ao Republicanos e, na sequência, ao União Brasil, em busca de novas plataformas eleitorais.
Aliás, importante salientar que Maurício Carvalho, até então vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de Porto Velho, só se tornou “gente grande na política” a partir da aliança direta com Hildon Chaves. Foi com a chancela do ex-prefeito que ele ocupou a vice-prefeitura em 2020, venceu a eleição e permaneceu no cargo até se credenciar para disputar a Câmara Federal em 2022. Conquistou o mandato e assumiu em 2023, ganhando ainda mais projeção ao se tornar o atual comandante da bancada rondoniense no Congresso Nacional.
Porém, o desgaste da sigla não se explica sem revisitar também as derrotas de Mariana. Em 2022, ainda no Republicanos, fracassou na disputa ao Senado contra Jaime Bagattoli, do PL. Em 2024, já pelo União Brasil, perdeu a Prefeitura de Porto Velho para Léo Moraes, que virou o jogo no segundo turno. A dupla de insucessos deslocou a balança interna do grupo e consolidou o PSDB como legenda instrumental, orbitando interesses privados dos Carvalho. Ao mesmo tempo, Maurício Carvalho, hoje deputado federal e líder da bancada de Rondônia em Brasília, como mencionado, passou a priorizar o União Brasil como abrigo principal de seu projeto. Sob tal arranjo, o PSDB foi depenado e abandonado.
As consequências recaíram sobre Hildon. O partido que prometia ser trampolim para uma candidatura ao Governo tornou-se um fardo. Sob o comando tático dos irmãos, o PSDB atrofiou. Faltou musculatura, faltaram quadros, faltou planejamento. Nas últimas eleições, o partido se limitou a moeda de troca para candidaturas proporcionais, sem qualquer estratégia para 2026. A tendência agora é que os poucos eleitos busquem pouso no PSD.
O ex-chefe da Casa Civil, Júnior Gonçalves, também aparece nesse cenário como figura central dos arranjos que privilegiaram outras legendas em detrimento do PSDB. A sintonia entre ele e os Carvalho reforçou a percepção de que Hildon esteve afastado do centro das discussões políticas, relegado aos bastidores das decisões de terceiros.
Mesmo assim, o ex-prefeito chegou a sinalizar o que viria pela frente. Foi o primeiro a lançar o nome ao Governo, sob a justificativa de que “quem é manco parte cedo”. A metáfora, agora, ganha outro significado. O PSDB, do qual ele esperava apoio, talvez não seja apenas manco. Poderia ser descrito, recorrendo ao bordão viral de Renata Vasconcellos, como “xoxo, capenga, anêmico, frágil e inconsistente”.
Ainda que o partido tenha se tornado um obstáculo, a situação de Hildon como figura política permanece confortável. Fora do Palácio Rio Madeira, mas dentro do jogo. Seu nome é lembrado nas pesquisas e, caso recalcule a rota em direção à Câmara Federal, o capital eleitoral acumulado pode ser convertido com eficiência. Disputa majoritária exige estrutura, alianças e milícia política. Proporcional exige principalmente voto.
O Rondônia Dinâmica, ao longo da semana, reforçou que o isolamento político do tucano não representa sentença, mas transição. O jornalista Robson Oliveira definiu a fase como “soprando brasa molhada”, interpretação que, ainda assim, não descarta um novo roteiro. Em 2016, Hildon venceu quando o trataram como carta fora do baralho. Sondagens recentes dos institutos Phoenix, Paraná Pesquisas e Real Time Big Data indicam que ele segue competitivo. A possível migração para o Legislativo pode ser um passo tão pragmático quanto viável.
A ruptura com os Carvalho relembra um princípio elementar: política não tolera amadorismo na administração de alianças. Hildon descobriu tarde que nenhum partido se reconstrói sem lealdade, sem base e sem cultivo de quadros. O PSDB encolheu sob o ego alheio e, agora, obriga seu principal expoente a flertar com alternativas de sobrevivência.
Por outro lado, Rondônia conhece bem o instinto de resiliência de Hildon Chaves. O ex-governador Ivo Cassol, mestre do improviso em metáforas de poder, repetia que “ninguém é bom sozinho”. Talvez, neste caso específico, seja possível refutar o ditado. Principalmente sem o peso dos irmãos Carvalho nas costas.



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