Por Redação | Rondônia Dinâmica
Publicada em 06/12/2025 às 10h31
PORTO VELHO (RO) – O anúncio de Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República, decisão atribuída ao próprio Jair Bolsonaro, abriu uma nova etapa para o bolsonarismo em Rondônia: o inevitável “Teste de Fidelidade”. A referência ao programa de João Kléber se sustenta diante do silêncio inicial de várias lideranças que, até então, se apresentavam como defensores incondicionais do ex-presidente. O primeiro a reagir foi o senador Jaime Bagattoli, do PL. Ele publicou em suas redes apoio explícito à decisão da família Bolsonaro, assumindo a defesa da pré-candidatura de Flávio.
O gesto, porém, abriu uma fissura entre ele e parte considerável de seus seguidores. Nos comentários, muitos expressaram frustração e sugeriram alternativas. Alguns defenderam uma chapa Tarcísio de Freitas–Michelle Bolsonaro — considerada, ali, mais competitiva, mais alinhada ao sistema financeiro e, ao mesmo tempo, fiel ao conservadorismo que sustenta a base do movimento. A postagem, portanto, funcionou como termômetro: apoio automático não existe, ao menos não na intensidade que se imaginava.
O desconforto reacendeu debates antigos, especialmente entre quem já questionava a estabilidade emocional de Flávio Bolsonaro em ambientes de pressão. Logo após o anúncio de seu nome como pré-candidato, voltaram a circular nas redes vídeos do debate eleitoral de 2016, transmitido pela Band, quando Flávio concorreu à Prefeitura do Rio. Naquele momento, após ser questionado sobre integração metropolitana, comentou que estava “com uma baixa da pressão aqui”, interrompeu a fala e perdeu o equilíbrio diante das câmeras. Os adversários Carlos Osório e Jandira Feghali correram para ajudá-lo. “Vai cair, ele vai cair”, disse Jandira, médica, ao perceber o mal-estar. O episódio é resgatado justamente para ilustrar a dúvida central: Flávio suportaria uma corrida presidencial, algo infinitamente mais desgastante?

Flávio Bolsonaro passou mal em 2016 durante um debate para a Prefeitura do Rio de Janeiro / Reprocução-Captura de Tela
Esse dilema se amplifica quando se volta o olhar para Rondônia, um estado onde Jair Bolsonaro obteve vitórias eleitorais esmagadoras e formou uma bancada politicamente homogênea ao redor de seu nome. Marcos Rogério, Fernando Máximo, Jaime Bagattoli, Coronel Chrisóstomo, Maurício Carvalho, Lúcio Mosquini, Thiago Flores e outras figuras que se colocaram por anos como defensores incondicionais do ex-presidente estão agora diante de uma escolha complexa. Eles seguirão fielmente a ordem de Bolsonaro, apostando num projeto presidencial audacioso e arriscado, ou priorizarão suas próprias reeleições, evitando associar-se a uma candidatura que parte em desvantagem evidente?
A força da direita e da extrema-direita brasileiras não está em discussão. Jair Bolsonaro, afinal, foi eleito presidente em 2018 após décadas de irrelevância institucional. Mas o momento atual é diferente. Há ruídos internos. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, ao intensificar um discurso de confronto geopolítico, acabou elevando a popularidade de Lula no contexto do “tarifaço” e das sanções internacionais. O episódio reforça a tese de que o bolsonarismo já não opera com a mesma harmonia estratégica de anos anteriores.
Além disso, Flávio Bolsonaro possui ligações profundas com Rondônia. Em diferentes ocasiões, circulou pelo estado acompanhado por Maurício Carvalho, líder da bancada federal. Contudo, esse vínculo não garante transferência automática de apoio — principalmente depois da derrota de Mariana Carvalho, irmã de Maurício, em 2024. Ela recebeu Jair e Michelle Bolsonaro no segundo turno para a Prefeitura de Porto Velho, mas ainda assim foi superada por Léo Moraes. O episódio expôs a erosão visível da capacidade de transferência de votos do clã Bolsonaro. A expressão “nadar de braçada”, muito repetida até 2019, já não encontra correspondência na realidade eleitoral.
O cenário fica ainda mais curioso ao se observar o comportamento das lideranças regionais após o anúncio do “Filho 01” como pré-candidato. Em quase 24 horas desde que o editorial começou a circular, somente Jaime Bagattoli e Coronel Chrisóstomo, ambos do PL, se manifestaram publicamente. O senador, como já mencionado, acabou recebendo uma enxurrada de críticas. Alguns seguidores trataram Flávio Bolsonaro como um “picolé de chuchu da extrema-direita” e defenderam que Tarcísio de Freitas deveria liderar o projeto nacional. Outros acusaram Bagattoli de precipitação, lembrando que ele demorou mais de uma semana para se posicionar sobre a prisão de Jair Bolsonaro, mas correu para defender o nome de Flávio.
Bruno Scheid, pré-candidato ao Senado pelo PL, também se alinhou rapidamente à decisão. Sem mandato, Scheid aposta na figura de Bolsonaro como principal ativo eleitoral e tende a seguir qualquer diretriz vinda da família. Seu apoio imediato, portanto, é coerente com a estratégia que tenta construir desde o início.
O quadro que se forma em Rondônia, portanto, não é apenas político — é sociológico. O bolsonarismo local, tão acostumado a unanimidades rápidas, agora enfrenta um dilema que não se resolve com fotografias, lives ou postagens emotivas. Trata-se de decidir entre o discurso e a prática; entre a imagem e a viabilidade eleitoral; entre obedecer cegamente o líder preso e preservar os próprios mandatos.
No fim, o movimento que se observa em Rondônia equivale a um verdadeiro “Teste de Fidelidade” do bolsonarismo regional. A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro expõe a distância entre o discurso combativo nas redes e a prática eleitoral concreta, medindo até onde vai a disposição das lideranças locais de sacrificar projetos próprios em nome de uma aposta nacional de resultado incerto. Os próximos passos indicarão quem manterá a lealdade absoluta ao “Filho 01”, apesar das resistências internas, e quem optará por preservar a própria sobrevivência política, deixando o “picolé de chuchu” da extrema-direita para trás. Rondônia, portanto, já iniciou sua seleção natural dentro do próprio campo bolsonarista.
Comentários
Seja o primeiro a comentar!