Publicada em 02/12/2025 às 09h48
PORTO VELHO (RO) – O movimento político em torno do coronel Régis Wellington Braguin Silvério — que havia arrefecido nos últimos meses — voltou a ganhar força no início de dezembro de 2025. O comandante-geral da Polícia Militar de Rondônia tinha sido projetado no debate sucessório ainda no fim de agosto, quando um editorial do Rondônia Dinâmica registrou que Marcos Rocha, já à frente do União Brasil e da Super Federação União Progressista, testava seu nome como possível candidato ao Governo do Estado. À época, colunistas como Robson Oliveira, Sérgio Pires e Herbert Lins repercutiram a hipótese, descrevendo desde “cautela” até a existência de um projeto articulado com possível vice já desenhado.
O tema esfriou nas semanas seguintes. Entre setembro e outubro, as menções ao comandante desapareceram do noticiário político e a construção ventilada pelos aliados de Rocha perdeu tração. A especulação, porém, retornou com força após a intensificação dos confrontos entre policiais e integrantes da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), especialmente no episódio de 12 de novembro, quando a Operação Godos foi deflagrada. A ofensiva, somada à escalada de tensões no campo, recolocou Braguin como figura central da resposta estatal ao conflito agrário.
A exposição recente o empurrou de volta às manchetes. Em Brasília, onde cumpria agenda institucional, o comandante posou ao lado de nomes da extrema-direita, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), o sargento Fahur (PSD-PR) e Marcel van Hattem (Novo-RS). No vídeo divulgado, o parlamentar mineiro afirmou que deixava “uma mensagem especial aos nossos policiais e operadores de segurança de Rondônia”.
A aproximação com esses quadros, todos de forte apelo ideológico, foi lida como gesto claro de alinhamento — especialmente útil a quem avalia disputar cadeiras no Legislativo, seja na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal ou até no Senado.
A lógica eleitoral, contudo, difere quando o debate é o Governo de Rondônia. Em 2022, Marcos Rogério, do PL, demonstrou que um discurso rigidamente alinhado à direita não foi suficiente para superar a campanha de reeleição de Marcos Rocha, que se apresentou mais moderado e pragmático do que sua própria versão de 2018. Esse precedente é citado por analistas ao avaliar se uma plataforma exclusivamente ideológica sustentaria um projeto majoritário em 2026.
Braguin, porém, opera em terreno distinto. A segurança pública — setor que ocupa o centro de sua trajetória — é um ativo político especialmente sensível. Dados divulgados pela Sesdec sobre o início de 2025 registraram queda de 52% nos roubos, 20% nos furtos e 20% nos homicídios em comparação com igual período de 2024. A reação às ofensivas criminosas de janeiro — entre os dias 12 e 19 — mobilizou a Força Nacional, Gaeco, Polícia Federal, Polícia Civil e a própria Sesdec, consolidando uma narrativa de integração entre as forças estaduais. As operações Red Ignis e Escudo de Rondônia, além da apreensão de armamento pesado do grupo armado da LCP, reforçaram a imagem de um comando presente e disposto ao enfrentamento direto.
Essa simbologia tem peso particular em um estado conservador, onde a percepção de ordem e firmeza costuma se sobrepor a debates estruturais. No conflito agrário, por exemplo, o cidadão comum tende a enxergar a cena pela ótica imediata: invasão, armas e violência. A complexidade sobre regularização fundiária, função social da terra ou histórico de ocupação raramente entra no cálculo eleitoral.
A imagem que permanece é a de um policial enfrentando um grupo armado, uma espécie de “controlador do caos”. É nesse enquadramento simplificado — e politicamente potente — que Braguin ressurge.
Paralelamente à sua reentrada espontânea no debate, um novo elemento adicionou combustível ao cenário: o convite oficial do Partido Novo para que o comandante coloque seu nome à disposição nas eleições de 2026. O movimento, liderado pelo vereador Lucas Follador com apoio da Executiva Nacional, foi reforçado pessoalmente por Marcel van Hattem. Segundo Follador, “Braguin reúne experiência em gestão, firmeza na defesa da lei, espírito de serviço e resultados concretos”.
O diretor-executivo nacional do partido, Lucas Albuquerque, também o classificou como nome “consistente” para o projeto estadual. O comandante confirmou o convite e declarou: “É uma honra receber o convite e a confiança do Lucas, do deputado Marcel e da direção do Novo. [...] No momento, meu foco segue no comando da Polícia Militar. No tempo certo, com serenidade, vou avaliar as possibilidades”.
Esse conjunto de movimentos — o reaparecimento após um período de esquecimento, a visibilidade decorrente da crise no campo, a aproximação com expoentes da direita e o convite formal de uma sigla em reorganização — reacomoda Braguin no centro do debate político rondoniense.
Sua trajetória recente demonstra que a oscilação entre silêncio e protagonismo não anulou sua presença no tabuleiro. Pelo contrário: a conjuntura atual devolve ao comandante a condição de peça relevante em 2026, seja como aposta governista, seja como alternativa para partidos que buscam nomes competitivos.
A reincorporação de Braguin ao cenário político sugere que sua candidatura — majoritária ou proporcional — depende menos de articulação prévia e mais de como a sociedade interpreta o papel do Estado diante da violência. Sua imagem, que havia saído de cena depois do editorial de agosto, volta agora reforçada por episódios recentes e por gestos públicos cuidadosamente calculados.
Em Rondônia, onde crises de segurança frequentemente produzem protagonistas inesperados, o comandante-geral da PM se reposiciona como figura capaz de unir autoridade, exposição midiática e capital político em expansão. O jogo que parecia resolvido volta a se embaralhar — e, desta vez, com Braguin novamente no entorno.



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