Publicada em 09/12/2025 às 09h31
PORTO VELHO (RO) - O deputado estadual Delegado Camargo (Podemos) usou a maior parte de sua participação no podcast Resenha Política, apresentado pelo jornalista Robson Oliveira, para fazer críticas duras à gestão da saúde em Rondônia, ao atual modelo de administração do Estado e ao comportamento de parte da bancada federal. Ao mesmo tempo, admitiu publicamente estar disponível para disputar um cargo majoritário em 2026, incluindo o Senado ou até o governo, a depender de um projeto político que, segundo ele, tenha “Deus à frente” e não o transforme em motivo de divisão.
Logo no início da entrevista, Robson Oliveira contextualizou o momento político do parlamentar, dizendo que Camargo vem sendo citado em pesquisas eleitorais como possível pré-candidato do Podemos “ou a governador, ou a senador, a deputado federal, deputado estadual” e o apresentou como “extremista” nas posições, mas “muito apaixonado pelo que defende”. O jornalista relatou que o deputado já começa a “pontuar em todas as pesquisas”, aparecendo próximo do ex-governador Confúcio Moura, da deputada federal Sílvia Cristina e “não muito longe de Fernando Máximo”.
Convidado a falar sobre 2026, Camargo reagiu dizendo que não está focado nas eleições do ano que vem, mas nas dificuldades imediatas do Estado. “Eu posso te assegurar olhando profundamente no seu olho. Eu não estou preocupado com isso. Eu estou preocupado em dar o meu melhor hoje. Em fazer o que é correto, o que é certo e o que o povo deposita em mim hoje”, afirmou. Na sequência, vinculou essa resposta a um diagnóstico que faz da rede estadual de saúde.
Segundo o deputado, a situação dos hospitais é o principal motivo de sua inquietação. Ele citou nominalmente o Hospital João Paulo II, em Porto Velho, e unidades do interior. “Sabe com o que eu estou preocupado mesmo, agora que estou aqui conversando com você? Sabe o que me vem à memória agora? As pessoas que estão no corredor do João Paulo II lá”, disse. Em seguida, relatou episódio em Guajará-Mirim: “Os profissionais da área de saúde, lá em Guajará-Mirim, estão colocando sacolas de plástico em suas mãos porque não têm luva cirúrgica”.
Camargo mencionou ainda casos de pacientes no interior aguardando por procedimentos. “As pessoas que estão lá no hospital de Cacoal, no hospital que um padre fundou, há mais de 40 dias aguardando uma cirurgia. Pessoas que sofrem um acidente de moto são colocadas dentro de uma ambulância e são levadas toda quebrada pra Guajará-Mirim fazer uma cirurgia ortopédica”, afirmou. Ele voltou a convidar publicamente autoridades e críticos a irem ao João Paulo II verificar a situação in loco. “Eu te convido a ir lá comigo, se acharem que é fake news o que eu tô falando, como já convidei governador várias vezes pra ir”, declarou.
As críticas avançaram para o orçamento estadual e a política tributária recente. Camargo lembrou que se posicionou contra o aumento da alíquota do ICMS votado em 2023 e afirmou que o efeito prático foi de queda de arrecadação, com reflexos diretos em áreas essenciais. Para justificar sua linha de raciocínio, citou o economista Arthur Laffer. “Há um teórico e economista, Laffer, chamada Curva de Laffer. Chega um ponto que você aumentou tanto a carga tributária, tanta arrecadação, que o contribuinte não consegue mais honrar com aquela carga tributária”, explicou.
De acordo com ele, quando se ultrapassa esse limite, parte dos contribuintes migra para a informalidade ou passa a sonegar, o que reduz a receita do Estado. “Aquele ato que você buscava aumentar a receita do Estado acaba diminuindo, porque acabou a capacidade contributiva do cidadão”, disse. Camargo declarou que alertou os colegas de Parlamento: “Eu avisei meus colegas, falei, vai acontecer em Rondônia exatamente isso. Nós estamos no limite da arrecadação. Está na hora de tomar medidas de contingenciamento. Diminuir os custos da máquina pública. Tirar o número exorbitante de cargos em comissão”.
Foi nesse ponto que sintetizou sua visão sobre a estrutura atual do governo. “O Estado é um cabide de emprego. Precisa de uma reforma administrativa urgente”, afirmou, concordando com Robson Oliveira quando o jornalista classificou o Estado como “perdulário”. Camargo acusou gestões de criar milhares de cargos em comissão com finalidade política. “Você criou mais de 10 mil cargos para colocar pessoas ali dentro para trabalhar para você”, disse, ao abordar a formação de uma “máquina eleitoral” alimentada por nomeações.
Ao tratar especificamente do orçamento para o próximo exercício, o deputado declarou que a arrecadação diminuiu e que a proposta enviada pelo governo prevê redução de recursos justamente em áreas sensíveis. “O orçamento irá diminuir. A arrecadação do Estado diminuiu? Sim, diminuiu”, resumiu. Segundo ele, isso inclui impacto direto sobre a saúde. Camargo relatou que, em audiência pública, o secretário de Saúde, coronel Jefferson, confirmou a previsão de queda nos investimentos. “Perguntei claramente pra ele. É verdade. E ele confirmou. É verdade”, disse, ao narrar que a secretária de Planejamento teria informado redução de investimentos na área em reunião de governo.
Camargo também contestou o perfil escolhido para comandar a Sesau. Para ele, a nomeação do coronel Jefferson, oriundo da segurança pública, é um equívoco técnico. “Ao meu ver, por mais competência ou por mais boa vontade que tenha, não tem conhecimento técnico da pasta onde está. Ele deveria assumir então a SESDEC como coronel e cuidar da polícia e não ser um secretário de saúde”, afirmou. Para ilustrar a crítica, fez um paralelo inverso. “É mais ou menos como se eu chegasse lá para os meus colegas de farda: ‘Olha gente, agora o secretário aqui da SESDEC da segurança pública vai ser o doutor João. Ele é médico lá do Aripuanã’. Os caras, ‘não, peraí. Como assim, Camargo? Vai trazer um médico? O que esse médico sabe de segurança pública?’ Agora inverte. Tu coloca um profissional de segurança pública pra gerir a saúde”, disse.
Na mesma linha, o deputado afirmou que o governador Marcos Rocha nunca visitou pessoalmente as principais unidades hospitalares citadas na entrevista. “Secretário Jefferson, nesses praticamente oito anos do governador, ele já colocou os pés alguma vez no João Paulo II? Nunca. No Santa Marcelina, nas Irmãs? Já colocou os pés? Nunca”, relatou, dizendo ver uma delegação de responsabilidades na área de saúde sem presença direta do chefe do Executivo. Para Camargo, somados o quadro atual e a perspectiva orçamentária, a tendência é de agravamento. “O cenário que se avizinha para o ano que vem é de diminuição dos recursos da saúde”, disse.
As críticas não se limitaram ao âmbito estadual. O deputado reclamou da falta de atuação da bancada federal em pautas estruturantes, sobretudo na área de logística e modais de transporte. “Tem questões tão importantes para o nosso Estado que eu não vejo ninguém falar”, afirmou. Ele citou que o debate público se restringe quase sempre à BR-364, embora a rodovia seja apenas um dos cinco sistemas modais de transporte. Ao comentar sobre ferrovias, sistema aeronáutico e, principalmente, transporte hidroviário pelo Rio Madeira, Camargo afirmou: “Eu não vejo discussão disso. Nossos deputados federais, nossos senadores tinham que ser debruçados”.
Nesse ponto, fez uma única ressalva. “Sabe qual foi o único que eu vi ser debruçado sobre isso? Eu vou dizer pra você. Léo Moraes. Tá fazendo a regularização fundiária de toda a zona portuária aqui, porque já se ligou nisso”, afirmou. Segundo ele, a rota de exportação via Pacífico, no Chile, pode reduzir em 15 dias o tempo de viagem para o mercado asiático e tornar a produção rondoniense mais competitiva, ao aproveitar a transoceânica em vez de escoar grãos apenas pelos portos de Santos ou Paranaguá.
Em meio às críticas à estrutura de poder, a entrevista também tratou diretamente da possibilidade de Camargo disputar um cargo majoritário em 2026. Robson lembrou que conversou com o prefeito de Porto Velho, Léo Moraes, e com dirigentes partidários, e relatou que o prefeito teria dito que o candidato ao Senado em seu projeto seria o deputado. Camargo confirmou a aproximação política e pessoal com Léo, que vem “de muito antes da política”, e narrou que buscou conselhos do então parlamentar quando ingressou na vida pública.
Questionado sobre os requisitos para disputar cargos de governador ou senador, o deputado respondeu que essas funções exigem, sobretudo, coragem, honestidade e preparo. “Primeira coisa, coragem. Coragem pra quê? Pra, primeiro, colocar o nome à disposição. Tem que ter coragem pra isso. E coragem pra, quando lá estiver, tomar as decisões necessárias a serem tomadas”, argumentou. Ele classificou a corrupção como “falha de caráter” e afirmou que a falta de preparo é uma “falha de formação” que pode ser corrigida com estudo e com a formação de equipes qualificadas.
Ao comentar o convite político feito por Léo Moraes, Camargo usou a mesma expressão para o campo religioso e para o palanque. “Uma resposta sendo pragmática pra você. Duas respostas. Uma pra Deus. ‘Eis-me aqui, Senhor. Que precisares, aqui estou’. E foi a mesma resposta que eu dei pro Léo”, afirmou. Segundo ele, se em 2026 surgir um projeto em que a população enxergue necessidade de seu nome, estará disposto a participar. “Se o ano que vem aparecer um projeto que o povo olhe pra mim e diga que eu preciso, eu aqui estou pelo que for”, declarou.
Robson insistiu se essa disposição se estenderia a uma eventual candidatura ao governo do Estado, em um cenário em que Léo Moraes o aconselhasse a enfrentar o “sistema”. Camargo repetiu a fórmula: “Eis-me aqui”, mas acrescentou condicionantes. “Eu só não vou pra nenhum projeto que Deus não esteja à frente e que eu seja motivo de divisão em qualquer lugar”, disse. Ele afirmou ter como baliza evitar ser fator de racha interno. “Aonde eu for causa de divisão, ali não é o meu lugar. Não é o meu lugar”, declarou.
O apresentador também o provocou sobre uma hipótese mais sensível: a construção de um projeto político que incluísse o atual governador, a quem Camargo faz oposição aberta na Assembleia. O deputado respondeu que parte dessas decisões escapa à vontade individual. “Há coisas na política que não dependem de você. Você tem que fazer a sua parte e responder pelo seu CPF. E o povo julgará quem deve chegar e quem não deve chegar”, afirmou. Sem fechar porta nem confirmar uma aliança desse tipo, repetiu apenas que não pretende ser “causa de divisão em nada”.
Na dimensão ideológica, Camargo reafirmou que se identifica como conservador de direita. Disse não ter “nenhum problema” em declarar que é contra o aborto e “absolutamente contra a legalização de qualquer tipo de droga, inclusive da maconha”. Ele afirmou que os valores da direita não pertencem a uma pessoa específica. “Eu sou da direita e os valores da direita não pertencem a Bolsonaro, a A, a B, a C, a E, a ninguém. São valores universais que eu acredito”, declarou.
Ao tratar do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado reconheceu méritos e apontou falhas, sem detalhá-las. “O Bolsonaro possui inúmeras características inegáveis”, disse, antes de citar como principal mudança trazida pelo ex-presidente o aumento do interesse da população pela política e pelas instituições. “Antes do Bolsonaro, ninguém sabia quem eram os ministros do STF, não sabia o que era a esquerda e direita. Com a entrada dele, goste as pessoas ou não goste dele, tá tudo certo, ele trouxe essa realidade para o centro das discussões”, avaliou, afirmando que hoje “se discute política no Brasil como nunca se havia se discutido”. Em seguida, pontuou que, em sua visão, Rondônia é “um estado de direita” que “vai muito além do bolsonarismo”.
Em um dos momentos mais críticos da entrevista, Robson e Camargo comentaram o episódio em que o deputado federal Coronel Crisóstomo tocou, pelo celular, uma música de autopromoção durante sessão de uma CPI em Brasília. O apresentador classificou a cena como “caricata” e “vergonhosa” e relatou que a canção teria sido produzida com uso de inteligência artificial. Camargo, que disse ter amizade e respeito pessoal pelo parlamentar, concordou com a crítica. “Concordo com você. Achei que foi uma atitude totalmente desnecessária, que não apenas acabou o expondo, o próprio Crisóstomo, porque se você observar na imagem ali, os demais parlamentares que estavam na sua retaguarda, atrás, o Kim Kataguiri, ficou rindo”, afirmou. Para ele, o episódio expôs “a imagem do próprio parlamentar” e “do próprio Estado”.
O deputado acrescentou que acredita não ter passado pela cabeça de Crisóstomo que a cena teria esse impacto, mas reiterou que a avaliação crítica procede. “De fato, acabou. E eu concordo com você”, disse. Robson atribuiu o erro à “falta de estudo” do ambiente institucional, ao afirmar que “aquele ambiente não é para esse tipo de coisa”. Ao fim do programa, ao ser questionado por Camargo sobre um ponto em que deveria melhorar, o jornalista respondeu de forma direta: “Não seja um parlamentar caricato”.
Na parte final da entrevista, o tom se deslocou das polêmicas para explicações mais detalhadas sobre temas técnicos e reflexões pessoais. Camargo se descreveu como “leitor compulsivo de tudo que é conteúdo” e disse que esse hábito o ajuda a compreender o cenário de Rondônia e a discutir tópicos como modais de transporte, logística de exportação e desenho institucional da máquina pública. Ao comentar a possibilidade de transformar Porto Velho em um “grande hub logístico”, voltou a citar a regularização fundiária da zona portuária conduzida por Léo Moraes, com quem afirma manter diálogo frequente sobre o tema.
O deputado também discutiu a relação entre gestão e conhecimento técnico em cargos de comando. Em contraponto à sua cobrança por um secretário de saúde com formação na área, Robson citou o exemplo de José Serra, apontado em avaliações históricas como “um dos melhores ministros da Saúde” apesar de ser economista de formação. Camargo admitiu que a gestão é central, mas insistiu na necessidade de um “conhecimento mínimo” do setor em que se atua, afirmando que, para gerir áreas complexas como saúde ou segurança, o equilíbrio entre técnica e liderança é fundamental.
Ao falar sobre a estrutura do serviço público, ele diferenciou cargos efetivos e comissionados, defendendo concursos como mecanismo de meritocracia. “Passar em um concurso não é fácil, cara. Nenhum concurso público é fácil de passar”, disse, citando seu próprio ingresso como delegado e o concurso de magistratura feito por sua esposa. Afirmou reconhecer que há funções que exigem cargos em comissão de confiança, mas defendeu “equilíbrio” na balança entre servidores concursados e nomeações políticas.
A entrevista terminou com agradecimentos mútuos e menções ao alcance do Resenha Política em múltiplas plataformas. Robson informou que escolheu quatro entrevistas para fechar o ano — com o governador, o prefeito Léo Moraes, o deputado Delegado Camargo e o senador Marco Rogério — e reforçou o convite para que o público acompanhe o programa na TV, no rádio e nas redes sociais. Camargo encerrou reiterando que pretende “regassar as mangas” em 2026, afirmando que “a quem mais será dado, mais será cobrado” e reforçando que, caso seja chamado para um projeto político que julgue agregador, sua resposta continuará sendo a mesma: “Eis-me aqui”.
DEZ FRASES DE RODRIGO CAMARGO DURANTE O RESENHA POLÍTICA:
01. "Os profissionais da área de saúde que, lá em Guajará-Mirim, estão colocando sacolas de plástico em suas mãos porque não têm luva cirúrgica."
Camargo denunciava a precariedade do sistema de saúde no interior e usou esse exemplo para ilustrar a gravidade da falta de materiais básicos.
02. "As pessoas estão no corredor do João Paulo II lá."
O deputado afirmava que pacientes seguem sendo atendidos em condições improvisadas no principal hospital de emergência de Rondônia.
03. "O Estado é um cabide de emprego."
Camargo criticava o número de cargos comissionados e acusava a administração estadual de inflar a máquina pública com indicações políticas.
04. "Você criou mais de 10 mil cargos para colocar pessoas ali dentro para trabalhar para você."
Amplificando a crítica anterior, o deputado acusou gestões de usar cargos públicos como instrumento eleitoral e de sustentação política.
05. "Por mais boa vontade que tenha, [o coronel Jefferson] não tem conhecimento técnico da pasta onde está."
Ele contestava a escolha do atual secretário de Saúde, dizendo que o comando da pasta deveria estar nas mãos de alguém com formação na área.
06. "Ele nunca foi lá."
Camargo afirmava que o governador Marcos Rocha jamais visitou o Hospital João Paulo II ou o Hospital Santa Marcelina.
07. "Rondônia tá andando na contramão."
O parlamentar criticava a previsão de redução de investimentos na saúde enquanto os problemas do setor aumentam.
08. "Aonde eu for causa de divisão, ali não é o meu lugar."
Camargo respondia sobre alianças políticas e a possibilidade de integrar projetos majoritários em 2026, inclusive com adversários.
09. "Eu sou da direita e os valores da direita não pertencem a Bolsonaro."
Ele explicava sua identidade ideológica e declarava que os princípios da direita são universais, não vinculados a uma única figura política.
10. "Achei que foi uma atitude totalmente desnecessária."
Camargo comentava o episódio em que o deputado federal Coronel Crisóstomo tocou música de autopromoção durante uma CPI.



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