Publicada em 08/12/2025 às 16h33
O artigo “A exaltação do pobrismo amazônico”, assinado por Confúcio Moura no último domingo, 07, expõe com nitidez um paradoxo que acompanha o senador do MDB ao longo da vida pública: ao mesmo tempo em que descreve, com riqueza de detalhes, as desigualdades que marcam a rotina de ribeirinhos, indígenas, quilombolas e extrativistas, sua trajetória política — como governador por dois mandatos e, agora, como único aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na bancada federal de Rondônia — não registra iniciativas robustas capazes de alterar a realidade que ele apresenta como denúncia. Ao contrário, sua atuação histórica em relação aos povos amazônicos do estado foi inócua, especialmente no enfrentamento da pobreza estrutural e no combate à exploração recorrente das imagens e da identidade dessas comunidades.
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A exaltação do pobrismo amazônico
No texto, Confúcio retoma sua primeira ida ao Distrito de Surpresa, no encontro dos rios Guaporé e Mamoré. A narrativa revisita a paisagem natural rica em castanhais, buritizais, banana da terra, seringais e peixes, além da convivência de ribeirinhos, indígenas e quilombolas. Ele menciona a recomendação de Walter Bártolo e descreve o encontro com um caseiro que, segundo relata, vivia sem receber salário e sustentava-se exclusivamente do extrativismo, afirmando não ver dinheiro havia mais de seis meses.
A experiência pessoal narrada por Confúcio destaca o cotidiano de comunidades que sobrevivem do cultivo de mandioca e banana comprida, da caça, da pesca e de produtos como açaí, castanha, látex, copaíba e mel. O senador define esse modo de vida como a “bioeconomia real”, sustentada por esforço físico intenso e marcada por um ciclo extrativista que, em sua visão, perpetua o que chama de “pobrismo amazônico”.
O texto descreve ainda o simbolismo da chegada de serviços básicos. Ele afirma que energia, água potável, atendimento médico e escolas são recebidos com festa. Relata pedidos frequentes por sementes de qualidade, máquinas de farinha e tratores, e registra que os moradores querem mais renda para suprir as necessidades domésticas. A desigualdade, escreve, se impõe mesmo em meio à abundância natural.
Ao final, o senador defende que uma bioeconomia capaz de gerar renda depende de pesquisa, crédito e assistência técnica. Afirma que o caboclo amazônida é um “brasileiro invisível”, portador de saberes ancestrais, mas exposto à competição de um mundo urbano que o ignora.
A contradição central, no entanto, emerge justamente dessa constatação: ao longo de oito anos como governador e depois como parlamentar, Confúcio Moura jamais liderou políticas transformadoras que enfrentassem o ciclo de pobreza que hoje descreve com tanto zelo. Não promoveu alterações estruturais na vida das comunidades que retrata, tampouco atuou para impedir o uso sistemático de suas imagens em discursos, programas e campanhas, fenômeno que ele próprio reconhece, mas do qual nunca buscou proteger os povos amazônicos de Rondônia.
A própria crítica que tece em texto é insossa, sem endereço, sem CPF, sem digitais. É falar por falar.
Em seu artigo, Confúcio apresenta um diagnóstico preciso, construído a partir da observação direta. O que falta é a parte que nunca veio: a intervenção concreta. Assim, a contundência do texto reforça menos uma denúncia e mais um registro de omissão, revelando uma distância evidente entre o olhar sensível do narrador e as escolhas institucionais do político que ocupou por anos as posições de maior poder no estado.



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