Publicada em 21/11/2025 às 10h08
Porto Velho, RO — O senador Confúcio Moura, do MDB, ex-governador de Rondônia e possível candidato à reeleição em 2026, volta a demonstrar em público a tática que marcou sua trajetória: falar quando entende que é chegada a hora, recuar quando o ambiente exige prudência e, sobretudo, calibrar sinais conforme o rumo das marés políticas. Quem o acompanha desde 2011, quando assumiu o primeiro mandato como governador, reconhece que esses movimentos não são acidentais. São operações milimétricas de um político experiente, habituado a medir cada gesto e a só romper o silêncio quando convém — e, mais importante, quando funciona.
Na última semana, Moura voltou a oferecer exemplos concretos dessa habilidade de leitura do momento. O primeiro deles veio quando, ao analisar o risco de crise econômica no país, citou as reformas implementadas pelo presidente argentino Javier Milei como referência de ajustes duros e estruturalmente inevitáveis. No texto, marcado por expressões como “a economia não tem coração” e pelo diagnóstico de que o Brasil enfrentará medidas “duras” para “recolocar a casa em ordem”, o senador recorreu ao ultraliberal argentino como metáfora de reformas profundas que, segundo ele, cedo ou tarde, precisam acontecer. A mensagem, lida atentamente, pode funcionar como um microaceno calculado: sem abandonar sua posição de base do governo Lula, Moura recuperou temas caros à direita — reformas, austeridade, corte de gastos — para mostrar que continua dialogando com essa fatia do eleitorado.
Logo depois, outro gesto: o senador reproduziu em suas redes o vídeo da ex-ministra de Jair Bolsonaro, a senadora Damares Alves, hoje no Republicanos. Em plenário, Damares declarou ter constatado em Rondônia o carinho da população por Moura e afirmou textualmente: “fiz questão de falar que lhe amo publicamente”. O parlamentar respondeu agradecendo “de coração”, dizendo que segue “com respeito e compromisso, trabalhando pelo melhor para o Brasil”. Para quem não acompanha de perto sua construção política, pode soar trivial. Para quem acompanha há ao menos 14 anos, como o Rondônia Dinâmica, compreende tratar-se de um sinal inequívoco ao segmento conservador que o sustentou em sucessivas urnas — inclusive em eleições nas quais ele jamais se apresentou como centro-esquerda.
Entre um gesto e outro, Moura ainda criticou publicamente o chanceler alemão Friedrich Merz, após declarações depreciativas sobre a COP 30 e sobre Belém. Do plenário do Senado, afirmou que o clima está acima de “princípios de direita e de esquerda, de centro, de extremistas ou não” e lembrou a história alemã, contrastando miséria e reconstrução. A fala reforçou seu alinhamento à pauta ambiental — uma marca de seu período no Palácio Rio Madeira — e demarcou terreno interno: enquanto defende Lula e a COP 30, ele também se posiciona contra o que considera arrogância estrangeira, discurso que agrada setores de todas as matizes ideológicas.
Esses movimentos recentes se somam a uma trajetória de décadas construída entre hesitações estudadas e definições tardias. Moura só declarou oficialmente sua identidade de centro-esquerda no fim de 2023, no texto “Vou deixar bem claro”, publicado em seu blog. Ali escreveu: “Eu sempre tive posição bem clara [...] eu sou um político de centro-esquerda. Nunca neguei isto a ninguém.” E, pela primeira vez, afirmou sem rodeios que “sou da base do governo Lula”. Até então, desde o início do governo petista, manteve-se esgueirando-se, equilibrando-se no muro, preservando um eleitorado composto, em larga medida, por conservadores e liberais. Se esse público o conduziu e reconduziu ao governo de Rondônia, não foi porque o identificasse como progressista. Ao contrário: Confúcio evitou rasgar a camisa de sua isenção até o limite do possível — e só o fez quando avaliou que as circunstâncias exigiam clareza.
Agora, às portas de 2026, os sinais se repetem, mas com outra lógica. Ao microacenar à direita em duas frentes — Milei e Damares — e ao reforçar pautas ambientais e críticas diplomáticas, Moura ensaia reconstruir uma ponte com o eleitor conservador sem comprometer sua condição atual de aliado de Lula. Se concorrer à reeleição, será a primeira vez em que disputará o Senado com o público rondoniense sabendo, de forma integral, sua posição ideológica. E, num estado majoritariamente conservador, disputar nichado é arriscado. Ele conhece essa realidade melhor do que ninguém.
A tática, portanto, é evidente: Moura busca se reafirmar como figura híbrida, capaz de transitar entre campos opostos sem perder coerência interna, equilibrando declarações públicas e lembranças estratégicas de seu passado. Ele não pretende renegar sua identidade de centro-esquerda, mas também não deseja perder o eleitor tradicional que, historicamente, sempre o acompanhou. O jogo é delicado — e só funciona para quem domina o tempo. Confúcio domina. E, mais uma vez, age como quem sabe exatamente quando falar, quando acenar e quando reforçar pontes antigas para disputar um Senado onde nichos ideológicos, sozinhos, não elegem ninguém em Rondônia.



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