Publicada em 03/11/2025 às 08h41
O senador Confúcio Moura (MDB-RO), prestes a disputar a reeleição em 2026 — ou, quem sabe, tentar novamente o governo de Rondônia —, resolveu trocar o paletó por um avental em seu blog pessoal. No texto “Lavador de pratos”, publicado no domingo, 02, o ex-governador descreve fins de semana modestos, de janelas abertas, lençóis sacudidos e pilhas de louça ensaboada. Entre uma canção de Waldick Soriano e outra, o parlamentar confessa um desejo universal: “também quero um milhão, quero, por direito, a sorte — mesmo que seja raríssima... bom mesmo é sonhar em sair do miserê, dormir pobre e acordar rico”.
O tom é de crônica popular, quase confessional, onde o político tenta se aproximar da “gente simples”, exaltando a rotina doméstica e o sonho de igualdade. Mas os dados oficiais mostram que o “lavador de pratos” é, no mínimo, um milionário de avental. De acordo com as declarações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2010, quando venceu sua primeira eleição para governador, Moura informou possuir R$ 8.554.881,14 em bens. Na reeleição de 2014, o total caiu para R$ 6.514.675,89. E, em 2018, já candidato ao Senado, o patrimônio declarado diminuiu novamente: R$ 4.299.774,61.
A queda expressiva pode indicar reorganização patrimonial, mas não muda o fato de que Moura segue distante do trabalhador comum que descreve em sua crônica. O homem que fala sobre “miserê” e “sonho de igualdade” ainda mantém apartamento em Brasília, lote rural de mais de 230 hectares em Ariquemes e aplicações financeiras de valor considerável. Isto sem contar a gigantesca quantia em salário, que, em outubro, foi a bagatela de mais de R$ 33.800,00. Multiplocando por 12, o congressista receberá, em média, em um único ano, mais de R$ 405 mil. Só de subsídio. Só!
O discurso de humildade, portanto, parece parte de um novo figurino político. Em tempos de reaproximação com o Planalto — e sendo o único senador de Rondônia afinado com o governo Lula —, Moura aposta em um progressismo de tom afetivo, de semblante popular e vocabulário doméstico. É a reinvenção da imagem: do gestor técnico ao confessor de pia.
A tentativa, contudo, soa familiar. Como a célebre “grávida de Taubaté”, personagem que comoveu o país com uma história inventada, o “pobre de Ariquemes” também se apoia numa ficção: a de que compartilhar a rotina da classe média o torna parte dela.
Mas a conta não fecha, e o povo percebe quando o figurino não combina com o contracheque. E quem sabe, ironicamente, o sonho de Confúcio Moura se realize em 2026. Mantendo essa trajetória de queda patrimonial nas declarações eleitorais, é bem provável que, da próxima vez, ele acorde milionário de verdade — pelo menos no papel.



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