Publicada em 17/11/2025 às 08h59
PORTO VELHO (RO) - O senador Confúcio Moura (MDB), único integrante da bancada federal de Rondônia aliado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), publicou nesta semana um texto no qual avalia que o Brasil se aproxima de um cenário de crise econômica e que o país precisará adotar reformas consideradas impopulares para enfrentar o problema. No artigo, o parlamentar afirma que “a economia não tem coração” e utiliza o pacote de reformas implementado pelo presidente argentino Javier Milei como exemplo de medidas que, segundo ele, são vistas como difíceis de aprovar no Congresso brasileiro.
No texto, Confúcio Moura diz que crises econômicas exigem ajustes profundos. Como referência, cita o caso da Grécia em 2010, que, nas palavras dele, precisou “cortar na própria carne” após forte desequilíbrio fiscal. Ele afirma que, se o país mantiver o ritmo atual, enfrentará situação semelhante: “O fato é que, se continuarmos no ritmo atual, o Brasil caminha para uma crise econômica que exigirá medidas duras. Medidas que, cedo ou tarde, teremos de enfrentar para recolocar a casa em ordem”.
Ao abordar a dificuldade para a aprovação de reformas estruturais no Brasil, o senador menciona diretamente as políticas adotadas na Argentina. Segundo o texto, “alguns dizem que, no Brasil, não haveria espaço para um ‘ônibus’ de reformas como o que o presidente Milei implementou na Argentina”, destacando que esses críticos argumentam que nada semelhante passaria no Congresso Nacional. Ele contrapõe afirmando que o país precisa trabalhar com o Parlamento que existe, afirmando que “não podemos esperar que caiam do céu deputados e senadores perfeitos”.
Confúcio Moura dedica parte do artigo a discutir o arcabouço legal e fiscal que, segundo ele, limita a atuação do chefe do Executivo federal. “Hoje, a verdade é que um presidente manda pouco. Quase tudo está vinculado, indexado, engessado por leis anteriores”, escreveu. O senador afirma que boa parte das despesas é paga automaticamente pelo Tesouro Nacional, restando “apenas migalhas” para investimentos, que diminuiriam ano após ano.
Essas restrições, segundo o parlamentar, explicam as tentativas frequentes de alterar regras e ampliar margens fiscais. Ele avalia que o sistema atual funciona como uma estrutura pesada e lenta, exigindo decisões firmes. “Não sou economista — e nem preciso ser — para perceber que estamos lidando com uma máquina pesada, lenta e cheia de amarras”, afirmou no texto.
Ao final, Confúcio retoma a tese central do artigo: “A economia não tem coração. E justamente por isso precisamos ter cabeça — e coragem — para fazer o que precisa ser feito”. O conteúdo foi publicado no domingo, 16.
A íntegra do texto:
A economia não tem coração
Costumo dizer que a economia não tem coração. E não tem mesmo. Ela não é uma ciência exata, não segue uma linha reta, não dá garantias. Depende de tudo um pouco: fatores que conhecemos e fatores que ninguém controla. Vai desde a psicologia humana até a teoria dos jogos; passa por desastres naturais, decisões de outros países e, principalmente, pelas guerras que explodem mundo afora.
Mas, deixando de lado essas ventanias externas — que sempre sopram quando menos esperamos — o fato é que, se continuarmos no ritmo atual, o Brasil caminha para uma crise econômica que exigirá medidas duras. Medidas que, cedo ou tarde, teremos de enfrentar para recolocar a casa em ordem.
Não somos os primeiros a viver isso. A Grécia, em 2010, é um exemplo marcante: precisou fazer ajustes dolorosos, mexer em estruturas profundas, cortar na própria carne. Houve protestos, lágrimas e muito ranger de dentes. Mas não havia alternativa.
Todos sabem que educação de qualidade é a base mais segura para o desenvolvimento de qualquer país. Dá trabalho, leva tempo, exige persistência. Mas precisa ser tratada como prioridade absoluta. Junto a ela vêm as reformas estruturais — previdenciária, orçamentária, administrativa, fiscal. Reformas que quase sempre são impopulares, mas inevitáveis.
Alguns dizem que, no Brasil, não haveria espaço para um “ônibus” de reformas como o que o presidente Milei implementou na Argentina. Argumentam que nada disso passaria no Congresso. Pois bem: não podemos esperar que caiam do céu deputados e senadores perfeitos, anjos iluminados, imunes a pressões e interesses. Trabalhamos com o Congresso que temos — com seus extremos, seus moderados, seus acertos e equívocos. São eles, somos nós, que temos a responsabilidade de tomar as decisões que o país precisa.
Hoje, a verdade é que um presidente manda pouco. Quase tudo está vinculado, indexado, engessado por leis anteriores. O Tesouro paga automaticamente boa parte das despesas, e o que sobra para investimentos são apenas migalhas. E, com o passar dos anos, essas migalhas ficam ainda menores.
Por isso surgem tantas tentativas de flexibilizar regras, driblar limites, ajustar o arcabouço fiscal. Não sou economista — e nem preciso ser — para perceber que estamos lidando com uma máquina pesada, lenta e cheia de amarras. Mas essa é a realidade, nua e crua.
A economia não tem coração. E justamente por isso precisamos ter cabeça — e coragem — para fazer o que precisa ser feito.
Comentários
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Sandra Silva 17/11/2025 - 16:32Vcs políticos, de direita preferencialmente, vivem cortando na carne do povo, o tempo todo.E são os mais pobres que pagam o Pato, o deles está guardado. Obrigada por estar certa em não votar em vc



A Argentina está atolada até o pescoço em uma crise cambial e fiscal sem precedentes, o FMI não empresta, não refinancia e nem recomenda mas nenhum acordo com a economia argentina e ainda aparece político no Brasil querendo tomar Ravier Milei como exemplo a ser seguido. É muito descaramento... 50% da população argentina em condição de pobreza. A Argentina é um dos raros exemplos no mundo em que o país saiu de uma condição de "Suíça" para um status de "Somália"... Se for pegar os PIBs das economias sul-ameriacanas, a Argentina não figura mais entre as três economias do continente...