Publicada em 12/11/2025 às 10h51
PORTO VELHO (RO) - Nos cem dias de prisão de Jair Bolsonaro, a base política de Rondônia vive um impasse: entre o apoio simbólico e o cálculo eleitoral, os principais nomes do bolsonarismo no Estado parecem adotar estratégias distintas para atravessar o período mais delicado da trajetória do ex-presidente.
O caso de maior desgaste é o do deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO). Antes figura de fidelidade incondicional a Bolsonaro, o parlamentar hoje enfrenta uma crise pessoal e política. Após ser exposto pelo site Metrópoles em reportagem que o acusou de montar um suposto esquema de nepotismo, Chrisóstomo viu seu nome figurar entre os assuntos mais comentados do país.
A repercussão negativa foi tamanha que o Tribunal de Contas da União abriu uma investigação a pedido do Ministério Público de Contas da União. Em meio ao escândalo, ele limitou-se a compartilhar um vídeo do deputado Sargento Gonçalves (PL-RN), com a mensagem: “Lutaremos por sua liberdade hoje e sempre!” — a única manifestação pública do rondoniense sobre o tema até agora.
Enquanto isso, o empresário Bruno Scheid, pré-candidato do PL ao Senado Federal e nome citado pelo próprio Bolsonaro como aposta para 2026, também manteve o discurso de solidariedade, mas de forma mais emocional do que política. Em suas redes, tem publicado conteúdos nostálgicos e mensagens curtas. Uma das postagens exibe o mesmo vídeo de apoio com a frase: “Lutaremos por sua liberdade hoje e sempre!” — acompanhada por trilhas sonoras românticas e legendas que tratam a prisão como “injustiça”.
Já o senador Marcos Rogério (PL), principal liderança do partido em Rondônia, preferiu o silêncio. Nos bastidores, os burburinhos indicam que o senador está focado nas articulações para as eleições de 2026, nas quais pretende disputar o Governo do Estado. Apesar de ter sido lançado como pré-candidato à reeleição, os rumores garantem que a prioridade dele é o Palácio Rio Madeira. Até o fechamento desta opinião, Marcos Rogério não havia feito qualquer manifestação pública sobre os cem dias de prisão de Bolsonaro.
Entre os aliados que mantêm fidelidade pública, destaca-se a vereadora Sofia Andrade (PL), de Porto Velho. Em discurso e postagem nas redes sociais, ela reiterou apoio ao ex-presidente, com tom nacionalista e religioso. “Um líder que despertou o amor à Pátria e o orgulho de ser brasileiro”, escreveu. Segundo a vereadora, “mesmo injustiçado, ele continua sendo um símbolo de fé, coragem e defesa dos valores que o Brasil mais precisa: Deus, Pátria, Família e Liberdade”. Sofia encerrou a homenagem afirmando que “podem tentar apagar sua história, mas o legado de quem reacendeu a esperança de milhões de brasileiros segue vivo”.
O senador Jaime Bagattoli (PL-RO), também aliado histórico de Bolsonaro, tem adotado postura mais reservada. Conhecido por manifestações pontuais em defesa do ex-presidente, ele chegou a condicionar sua saída na Mesa-Diretora do Congresso Nacional à inclusão do projeto de anistia na pauta. O texto, no entanto, não foi apreciado, e Bagattoli deixou a posição — enquanto Bolsonaro permanece condenado, preso e inelegível. Hoje, preferiu silenciar. Pelo menos por ora.
Os cem dias de prisão de Jair Bolsonaro expuseram o desgaste interno do bolsonarismo em Rondônia. As manifestações de apoio, antes constantes, tornaram-se esparsas. Parte da base prefere esperar o desenrolar dos recursos no Supremo Tribunal Federal antes de se pronunciar. Outros, como Sofia Andrade, mantêm o discurso de resistência moral. E há ainda os que, como Marcos Rogério, priorizam a própria sobrevivência eleitoral diante de um cenário nacional incerto.
A prisão do ex-presidente, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após o descumprimento de medidas cautelares, completou cem dias nesta quarta-feira (12). Bolsonaro cumpre prisão domiciliar em Brasília, monitorado por tornozeleira eletrônica e proibido de usar redes sociais ou receber visitas sem autorização judicial. Condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, ele ainda aguarda o julgamento de recursos.
Enquanto a Justiça segue seu curso, a lealdade política em Rondônia parece medir forças com o pragmatismo eleitoral. Para muitos, apoiar Bolsonaro ainda é sinônimo de identidade ideológica. Para outros, tornou-se um risco calculado — um peso que pode definir o futuro político em 2026.



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