Publicada em 15/10/2025 às 10h19
Porto Velho, RO – Após anos evitando se comprometer em temas sensíveis, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) decidiu finalmente romper o silêncio sobre as 11 reservas ambientais criadas durante seu governo. A defesa pública feita no Senado Federal, na última segunda-feira, 13, não foi apenas uma resposta à CPI das Reservas Ambientais — foi um movimento político claro. Confúcio, veterano na arte do tempo e do cálculo, percebeu que chegou a hora de se posicionar: ou assume de vez o campo progressista, ou desaparece no vácuo político deixado por uma direita praticamente hegemônica em Rondônia.
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A trajetória recente do emedebista mostra o quanto essa decisão é mais estratégica do que espontânea. Há muito ele evita declarações firmes sobre o tema. Quando, em setembro de 2025, foi cobrado publicamente em Costa Marques — e saiu sem responder às perguntas sobre as reservas —, o episódio marcou o esgotamento do silêncio.
Duas semanas depois, o mesmo Confúcio subia à tribuna do Senado para dizer, em tom professoral:
“Durante o meu Governo, de 2011 a 2018, seguimos fielmente as diretrizes do zoneamento. Eu criei 11 unidades de conservação estaduais, todas fundamentadas em estudos técnicos sobre o solo, fauna, flora e uso sustentável do território. Foi um ato de coragem e de respeito às pessoas e à lei”.
O discurso, transmitido ao vivo e publicado nas redes, foi elaborado com o cuidado de quem conhece o terreno em que pisa. Depois de anos tentando manter-se equidistante da polarização, o senador parece ter concluído que o muro já não oferece abrigo. Tornar-se a única voz de Rondônia no Congresso Nacional a favor de Lula (PT) e de pautas associadas à esquerda pode ser, ao mesmo tempo, o seu risco e a sua salvação política.
A decisão não surgiu no vácuo.
Desde junho, o relatório da CPI das Reservas Ambientais, esmiuçado por Alex Redano (Republicanos), havia colocado Confúcio no centro da arena. O documento de 129 páginas listou irregularidades, reaproveitamento de estudos e ausência de audiências públicas, além de questionar contratos de crédito de carbono firmados durante sua gestão. Mais de 4.500 famílias vivem em áreas atingidas pelos decretos. O caso se tornou o símbolo da disputa política entre o discurso ruralista e o ambientalista — e o senador, agora, escolheu o lado.
Em Rondônia, onde a direita e a extrema-direita dominam o espaço político, a guinada é ousada. Confúcio parece apostar tudo no eleitorado que vai do centro ao campo progressista, tentando ocupar o espaço que ninguém mais reivindica. Em 2022, Marcos Rocha, do União Brasil, mais moderado, venceu e foi reeleito, enquanto o senador Marcos Rogério, do PL, símbolo do bolsonarismo local, foi derrotado. A lição não passou despercebida: o eleitor conservador rondoniense já tem seus porta-vozes. O espaço restante está entre os moderados e a esquerda — e é ali que Confúcio tenta renascer. São situações totalmente diferentes, já que o senador do MDB "rasgou a camisa" da neutralidade e agora é um arquétipo do campo canhoto no tabuleiro, mas vale o apontamendo para deixar claro: o extremismo destro já não dá mais as cartas como antes. E esse fator pode gerar surpresas.
Inclusive, na fala do Senado, ele defendeu que “nada foi ideológico” e que as reservas nasceram “com um propósito claro e definitivo: produzir riquezas e garantir o futuro do estado e do seu povo”. Mas, mais do que se justificar, o senador redesenhou seu papel político. Ao afirmar que “a floresta deixou de ser um obstáculo” e que “a bioeconomia é a nova fronteira do desenvolvimento”, ele fez eco ao discurso nacional do presidente Lula, selando uma aliança de narrativa e de destino.
O cálculo é evidente: transformar um desgaste histórico em bandeira de reconstrução. Se a CPI o expôs, agora o mesmo tema pode lhe render identidade. A defesa das reservas — que antes o fazia “sangrar” —, passa a ser o eixo de um reposicionamento amplo, que tenta converter o passado em trunfo e o isolamento em protagonismo.
Confúcio Moura sempre foi reconhecido pela paciência e pela habilidade de esperar o momento certo. Mas, desta vez, sua escolha não é apenas tática — é de sobrevivência. Ao abraçar de vez a pauta ambiental e o campo político de centro-esquerda, ele entra em modo “tudo ou nada”. Se der certo, volta ao centro do jogo e ao Senado por mais oito anos como o único rondoniense com trânsito direto em Brasília, aliado de Lula e dono de um discurso ambientalista consistente. Se der errado, será lembrado como o político que demorou demais para decidir de que lado estava.
O tempo, sua velha ferramenta, agora se transforma em teste. Confúcio Moura acordou — mas a pergunta que ronda Brasília e Porto Velho é se não acordou tarde demais.



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