Publicada em 27/09/2025 às 10h00
Porto Velho, RO – Quando se projeta um horizonte em que Bolsonaro, juridicamente fragilizado e inelegível até 2030, já não possa mais sustentar seu poder simbólico intacto, assoma uma interrogação inevitável: para onde irão os “órfãos” do bolsonarismo em Rondônia que construíram seu alicerce político sobre essa aliança? Será que Marcos Rogério, Jaime Bagattoli, Coronel Chrisóstomo, Sofia Andrade ou Bruno Scheid reinventarão seu discurso e práticas, ou correrão à procura de novo mito para chamar de seu? A encruzilhada se apresenta com clareza: o “capital simbólico” de Bolsonaro, embora deteriorado por sentenças judiciais e derrota eleitoral futura, foi o esteio central de boa parte desses nomes. Hoje, já nas reações públicas à condenação do ex-presidente, é possível ler o pânico estrategista e a adesão automática ao que resta da retórica bolsonarista.
É importante chamar a atenção para um contraste que mostra possibilidades de deslocamento simbólico no contexto local: o próprio governador Coronel Marcos Rocha, do União Brasil, deixou de ser um político “monopauta” e passou a agir de forma mais pragmática — em vez de apenas bradar fúria política. Ele foi reeleito em 2022, derrotando o candidato bolsonarista Marcos Rogério, com cerca de 52,61 % dos votos válidos contra 47,39 %, segundo o TSE. Essa vitória, em disputa acirrada, demonstrou que o eleitorado rondoniense ainda se dispõe a julgar performance e resultados concretos, não apenas retórica ideologizada. Marcos Rogério chegou a apoiar a PEC da Blindagem, medida alinhada ao bolsonarismo mais confrontador com o STF, mas teria recuado após perceber que um movimento de massa popular poderia isolá-lo politicamente — ou seja, que ele arriscaria ficar “sozinho na canoa furada”. Esse episódio revela o grau de imersão com que o bolsonarismo moldou as alianças políticas locais e também indica que mesmo aliados fortes reconheceram o risco de dependência simbólica excessiva.
Diante desse exemplo, torna-se mais plausível que os parlamentares rondonianos vinculados a Bolsonaro enfrentarão dilemas semelhantes. Nos discursos públicos mais recentes, todos reforçam lealdade e denunciam as sentenças contra Bolsonaro como manobras de “perseguição institucional”. Marcos Rogério foi alvo de representação do Ministério Público por suposta propaganda antecipada ligada ao ex-presidente; Jaime Bagattoli disse que impor pena tão grave seria “decretar a sua morte política”; Coronel Chrisóstomo enfatizou “perseguição política implacável”; Sofia Andrade afirmou ter sentido “estômago embrulhado” diante das decisões judiciais; e Bruno Scheid declarou: “eu estarei com você até depois do fim”. Essas manifestações em uníssono dão a impressão de que, ao menos por ora, não há descolamento — mas espelhamento das angústias do líder condenado. O apego simbólico ainda é forte, mesmo quando sua viabilidade política se fragiliza.
É relevante observar que, entre os aliados diretos, Coronel Chrisóstomo e Marcos Rogério estarão sob pressão redobrada em 2026, pois ambos buscarão a reeleição. Bruno Scheid enfrentará as urnas pela primeira vez, depois de ter sido apresentado por Bolsonaro como pré-candidato ao Senado. Já Jaime Bagattoli tem mandato garantido até 2030, e Sofia Andrade, como vereadora de Porto Velho, cumpre mandato até 2028, o que lhes confere margem de tempo maior antes de novas disputas. Esse calendário eleitoral desigual tende a influenciar a postura de cada um, acelerando decisões estratégicas de alguns e permitindo maior cautela a outros.
Somado a isso, políticos desse espectro ainda têm diante de si a dura missão de equilibrar narrativa sobre um problema de escala internacional: ou defender abertamente, ou, num verdadeiro xadrez 4-D, tentar culpar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil, uma sobretaxa de 50% patrocinada pela gestão de Donald Trump. Como são todos admiradores declarados do presidente norte-americano, explicar esse golpe direto ao setor do agronegócio — principal fomentador da direita brasileira — torna-se tarefa ingrata. O imbróglio se complica ainda mais diante da informação de que o movimento teria sido incentivado por Eduardo Bolsonaro, o que vincula diretamente a retaliação internacional ao núcleo familiar que sustenta o próprio bolsonarismo.
Quando Bolsonaro deixar de poder exercer centralidade — seja pelo peso das condenações, pela inelegibilidade ou pela perda de empatia simbólica — cada um desses nomes terá de escolher se permanece como mero defensor simbólico ou se embarca na difícil missão de construir identidade autônoma. Alguns deles poderão buscar ressignificar sua associação ao bolsonarismo, migrarem para outro mito (Michelle, Eduardo ou Tarcísio de Freitas já são mencionados nos bastidores) ou tentar uma reaproximação pragmática com pautas locais. Outros ousarão romper com essa lógica de mito e tentarão se reverter em liderança regional pura — o que exigirá coragem política, renúncia de discursos fáceis e compromisso com resultados.
É fundamental recordar que o eleitor de Rondônia, embora superficialmente imerso na polarização nacional, cobra entrega concreta: melhorias na saúde, infraestrutura, segurança, educação e logística rural. Se esses políticos permanecerem a transformar redes sociais em trincheiras ideológicas, sem compromisso com demandas materiais, correm grande risco de desgaste eleitoral. A tutela simbólica pode se tornar um cárcere, e o mito imóvel, um fardo.
Se alguns perceberem cedo essa dinâmica de transição — como Marcos Rocha parece ter percebido — poderão costurar equilíbrio entre legado ideológico residual e construção de credibilidade local. Outros ficarão presos a discursos de vitimização, esperando que o mito recupere força. Mas o tempo corre, os mitos se desgastam e a política exige mais do que fé: exige entrega.



Editorial sim...fraco...tipo de esquerdista ...tenho orgulho dos meus representates em Brasilia...todos que vcs. Citaram ai...deve ser que vcs. Num ganha verba publicacdeles para difama los...eles tem identidade propria temxservico prestado ...ao longo de seus mandatos...pode ser quecse elejeram a sombra de Bolsonaro...mas estao mostrando capacidade ...honestidade....e fidelidade...um papel que poucos fazem....