Publicada em 22/08/2025 às 09h42
PORTO VELHO (RO) - O deputado Coronel Chrisóstomo (PL) correu às redes sociais para celebrar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para ele, os áudios vazados pela Polícia Federal não revelam um político acuado, tentando condicionar negociações internacionais a uma anistia que o beneficie. Não! Para Chrisóstomo, revelam um “gigante patriota”. Eis aí a mágica da distorção: transformar o que soa como chantagem em ato de heroísmo.
Os áudios são cristalinos: Bolsonaro disse a Silas Malafaia que “se não começar votando a anistia, não tem negociação de tarifa”. Mais claro, impossível. Ele atrelou o tarifaço de Trump, que ameaça a economia brasileira, a uma barganha pela própria sobrevivência política. “Resolveu a anistia, resolveu tudo”, disse o ex-presidente, como se estivesse ditando condições de um acordo mafioso. A revista Piauí lembrou que o álibi de Bolsonaro — de que não sabia dos movimentos do filho — desmoronou. Ele não apenas sabia, como participava. A anistia, portanto, não era um gesto de clemência com “injustiçados do 8 de janeiro”. Era, antes, um salvo-conduto para ele próprio e sua família. Chama-se autopreservação, não altruísmo.
Mas Chrisóstomo prefere enxergar um gigante. Gigante na tentativa de transformar pressão sobre instituições em gesto patriótico. Gigante na habilidade de vestir a roupa de vítima, enquanto se articulava às escondidas para escapar da Justiça. Há aqui um ponto central: quando parlamentares eleitos, em vez de fiscalizar, escolhem ser escudeiros de narrativas fantasiosas, a democracia se enfraquece. O que Chrisóstomo chama de “preocupação com o povo” nada mais é do que a defesa de um projeto pessoal de poder que despreza limites legais. E não há nada de patriótico em transformar chantagem em pauta de campanha.
Se a fala de Bolsonaro tivesse partido de qualquer outro político, com outro sobrenome, o mínimo esperado seria indignação. Mas, no círculo de aliados, há sempre espaço para a desculpa conveniente: ora é perseguição, ora é prova de coragem. Enquanto isso, Rondônia segue com problemas reais — saúde sucateada, infraestrutura precária, falta de investimentos — mas o deputado prefere gastar energia convertendo áudios comprometores em épicos de resistência. Uma interpretação distorcida, sim, mas útil para manter o eleitorado radicalizado mobilizado.
Os áudios mostram chantagem. O deputado vê patriotismo. Esse é o drama: transformar em virtude aquilo que deveria ser escândalo. Chrisóstomo não defende Rondônia, nem o Brasil. Defende um mito em queda. E para isso, distorce até o óbvio.



Patriota de araque!