Publicada em 22/04/2025 às 10h18
Porto Velho, RO – O presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Manoel Carlos Neri, foi o entrevistado da semana no podcast Resenha Política, apresentado por Robson Oliveira. Natural da zona rural de Porto Velho, Neri compartilhou sua trajetória pessoal e profissional, além de abordar temas relacionados ao sistema de saúde brasileiro, com foco na realidade de Rondônia.
Durante a conversa, o enfermeiro lembrou sua infância na região da Cachoeira de Samuel, área atualmente submersa pelo lago da hidrelétrica. Segundo ele, "todas aquelas famílias que nasceram e construíram sua história naquela região foram vítimas do progresso". O impacto da usina foi citado como exemplo das transformações enfrentadas pela população local em nome de projetos de infraestrutura.
Na entrevista, o presidente do Cofen também falou sobre sua trajetória até o comando de um dos maiores conselhos profissionais do país, representando uma categoria com quase três milhões de trabalhadores. “Acho que para quem vem de uma família muito pobre como eu, tem dois caminhos para progredir na vida: o trabalho e o estudo”, afirmou.
Sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), Neri reconheceu avanços, mas destacou gargalos que ainda persistem. “O valor per capita investido pelos governos no SUS é aquém da necessidade para construirmos um sistema de excelência”, disse. Ele pontuou ainda que, apesar das deficiências, o SUS foi essencial durante a pandemia da Covid-19 e continua sendo a principal fonte de atendimento para milhões de brasileiros.
Ao tratar do cenário estadual, Neri elogiou a conclusão das obras do hospital regional de Guajará-Mirim, ressaltando que a unidade era aguardada há cerca de uma década. “Estamos torcendo para que esse hospital dê certo e para que as pessoas possam ser atendidas e tenham resolvidos seus problemas de saúde na própria região”, afirmou.
No caso de Porto Velho, o dirigente lembrou que a capital é uma das únicas do país que não dispõe de rede hospitalar municipal, com exceção da maternidade da mulher. “A cidade depende quase que exclusivamente dos hospitais do governo estadual, como o Hospital de Base Ary Pinheiro e o Pronto-Socorro João Paulo II”, disse. Ele mencionou ainda que, apesar dos esforços das equipes de saúde, a estrutura física do João Paulo permanece a mesma de quando servia à construção da usina de Samuel, não sendo adequada à atual demanda populacional.
Questionado sobre medidas do Cofen em relação à precariedade de unidades de saúde, Neri explicou que o Conselho atua por meio de fiscalizações e ações judiciais. Ele afirmou que, desde a década de 2000, o Coren/RO tem buscado o Poder Judiciário para exigir melhorias e realização de concursos públicos. Como exemplo, mencionou a atuação no caso da terceirização da saúde em Vilhena, quando foi protocolada representação junto ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público Estadual.
Sobre o uso de Organizações Sociais (OSs) na gestão da saúde pública, Neri ponderou que “o importante é que a população seja atendida com qualidade, independente do modelo”. Para ele, o fundamental é que haja fiscalização rigorosa por parte dos órgãos de controle, a fim de evitar distorções.
Durante a entrevista, o presidente também comentou sobre a formação de profissionais de enfermagem e a polêmica em torno da prescrição de medicamentos. Segundo ele, a legislação vigente permite a atuação dos enfermeiros com base em protocolos aprovados por gestores públicos. “Desde 1986, a lei autoriza a prescrição dentro desses parâmetros. Isso já acontece no tratamento de doenças como tuberculose, hanseníase e hepatites virais”, explicou.
Neri relatou ainda que o Brasil tem sido reconhecido internacionalmente pela formação de seus enfermeiros. Citou que países como Alemanha, Japão e Estados Unidos mantêm acordos com o Cofen para atração de profissionais formados no Brasil. “Apesar dos problemas, principalmente com o ensino a distância, que esperamos que seja revisto, a formação da enfermagem brasileira é valorizada fora do país”, disse.
Sobre o suposto alinhamento político das entidades profissionais, o presidente do Cofen negou qualquer vinculação partidária. “O nosso partido é o partido da enfermagem”, declarou. Segundo ele, tanto a autarquia que dirige quanto os conselhos regionais têm compromisso com os profissionais e com a sociedade. “Essa visão de que um governo resolve tudo valorizando apenas médicos é uma concepção que atravessa todos os governos e que, na prática, não resolve a crise da saúde”, acrescentou.
Ao final da entrevista, o presidente reforçou que é preciso investir em todos os profissionais de saúde, com salários justos, melhores condições de trabalho e programas permanentes de capacitação. “A saúde é feita por gente. Não adianta ter estrutura moderna se não houver valorização do trabalhador que está na ponta”, concluiu.
A entrevista completa está disponível nas plataformas do podcast Resenha Política e também no site Rondônia Dinâmica.
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