
Publicada em 22/04/2025 às 08h13
Porto Velho, RO – A morte do Papa Francisco nesta segunda-feira, 21 de abril, provocou manifestações públicas de pesar em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Entre os que prestaram homenagens, o senador rondoniense Marcos Rogério (PL) publicou em seu perfil no Instagram uma nota destacando o legado de Francisco como líder espiritual da Igreja Católica, com ênfase em sua “notável sensibilidade pastoral, firmeza moral e espírito de serviço”.
O gesto, porém, não foi bem recebido por parte do seu próprio público. Comentários como “Papa comunista! De santo não tinha nada!” e “Nunca foi sucessor de Pedro” invadiram a publicação oficial do senador. A manifestação de pesar acabou se tornando alvo de militantes da extrema-direita, que transformaram o espaço virtual em arena ideológica, ignorando qualquer sentimento cristão de compaixão ou fraternidade.
A publicação dizia: “expressamos nossas condolências à comunidade católica e rendemos homenagens à memória de um homem que dedicou sua vida à fé, à justiça e à fraternidade”. Ainda assim, a resposta de alguns seguidores foi marcada por frases como “um legado de comunismo” e “já vai tarde, menos um comunista na Terra 🌍”. Outros, ainda mais incisivos, escreveram: “é lamentável ver uma postagem de senador cristão lamentando a morte de um abortista e apoiador do homossexualismo dentro da própria Igreja”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, também do PL, adotou tom semelhante ao do senador. Em sua conta no X (antigo Twitter), escreveu: “Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza”.
A reação agressiva e preconceituosa de parte da audiência do senador expõe um dilema: a radicalização do público que Marcos Rogério, ao alinhar-se firmemente ao bolsonarismo, atraiu para si. Com esse grupo, qualquer tentativa de manifestar humanidade, respeito ao outro ou gesto cristão de empatia é automaticamente traduzida como “fraqueza” ou “rendição ideológica”.
Esse comportamento contrasta com as diretrizes mais basilares do próprio cristianismo. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos (12:18), orienta: “Se possível, no que depender de vós, tende paz com todos os homens”. Em Mateus 5:44, Jesus diz: “Amai os vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem”. Não há espaço, nas palavras do evangelho, para o ódio dirigido à figura de um líder espiritual em seu momento final.
Mais do que a perda de um Papa, o episódio escancarou a miséria moral de uma militância que se diz cristã, mas age segundo critérios partidários e dogmas políticos. Nesse contexto, Marcos Rogério não só revelou uma faceta moderada ao reconhecer o legado de Francisco — também revelou o tipo de monstro que parte de seu séquito se tornou.
Quanto mais esse tipo de seguidor cresce em volume e radicalismo, mais refém o senador se torna. A liberdade de manifestar condolência, expressar compaixão ou reconhecer feitos de um líder religioso passa a ser interpretada como traição ideológica. A cruz cede lugar à claque, e o amor ao próximo é substituído pela fidelidade cega ao partidarismo.
Enquanto isso, a morte do Papa Francisco, que deveria unir cristãos em oração e respeito, virou combustível para ataques verbais e julgamentos públicos — não contra atos, mas contra gestos de humanidade.