Publicada em 13/12/2025 às 09h41
A mais recente pesquisa do instituto Real Time Big Data trouxe um retrato incômodo para o senador Confúcio Moura, do MDB, um dos políticos mais experientes e longevos da história recente de Rondônia. Apesar de um currículo eleitoral praticamente imune a derrotas ao longo de três décadas, Confúcio aparece nas faixas intermediárias e inferiores dos cenários simulados tanto para o Governo do Estado quanto para o Senado Federal em 2026. O dado chama atenção sobretudo porque ele se apresenta hoje como o principal — e praticamente único — aliado declarado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no estado.
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Confúcio Moura não é um nome qualquer no tabuleiro político rondoniense. Deputado federal entre 1995 e 2005, prefeito de Ariquemes de 2005 a 2010, governador de Rondônia por dois mandatos consecutivos entre 2011 e 2018 e senador da República desde 2019, ele construiu uma carreira marcada por vitórias sucessivas, estabilidade eleitoral e reconhecimento institucional. Poucos políticos no estado atravessaram tantas disputas majoritárias com tamanha constância. Por isso mesmo, sua posição discreta na pesquisa não pode ser tratada como um simples acaso estatístico.
Os números do levantamento são claros. Nos cenários para o Governo de Rondônia, Confúcio oscila entre 10% e 12% das intenções de voto, sempre distante das primeiras posições ocupadas por nomes como Ivo Cassol, Marcos Rogério, Fernando Máximo e Adaílton Fúria, todos tecnicamente empatados dentro da margem de erro. Mesmo quando o cenário é alterado, o senador permanece num patamar semelhante, sem demonstrar capacidade de tração suficiente para disputar a liderança neste momento.
Na disputa ao Senado, o desempenho é um pouco melhor, mas ainda assim aquém do histórico do parlamentar. Confúcio aparece variando entre 12% e 14% nos diferentes cenários, atrás de nomes como Marcos Rocha, Sílvia Cristina, Marcos Rogério e Fernando Máximo. Em uma eleição em que o eleitor pode escolher dois candidatos, o senador permanece competitivo, mas já não figura como presença automática entre os dois primeiros colocados, como ocorria em ciclos anteriores.
Há um elemento central que ajuda a explicar esse quadro e que o próprio Confúcio fez questão de assumir publicamente nos últimos anos: sua posição política e ideológica. Como senador, ele deixou de lado a ambiguidade típica do centro tradicional e passou a se apresentar de forma clara como um político de centro-esquerda, com discursos firmes contra a extrema-direita e a ditadura militar, além de um alinhamento explícito ao governo Lula. Em diversas ocasiões, o parlamentar não apenas votou com o Planalto, como também fez defesa pública das pautas e da legitimidade do atual governo.
Do ponto de vista democrático e institucional, essa postura é coerente e, na interpretação deste site, necessária. Em um país que ainda convive com flertes autoritários e revisionismos históricos, Confúcio tem adotado um comportamento político que rejeita a relativização da democracia e a normalização de discursos autoritários, deixando clara sua leitura do momento político nacional.
O problema, como a pesquisa sugere, é eleitoral. Rondônia consolidou-se, ao longo das últimas décadas, como um estado de perfil majoritariamente conservador e liberal, tanto nos costumes quanto na economia. Esse traço ficou evidente nas eleições presidenciais recentes e se reflete agora nos cenários locais. O alinhamento explícito de Confúcio a Lula, ainda que coerente com suas convicções, parece encontrar resistência em uma fatia significativa do eleitorado, que associa o governo federal a pautas rejeitadas localmente.
A pesquisa Real Time Big Data funciona, nesse contexto, como um primeiro termômetro desse desgaste. Ela não sentencia derrotas, mas indica que a clareza ideológica — virtude do ponto de vista do debate público — cobra um preço em ambientes políticos adversos. Confúcio chega a 2026 sem a blindagem automática de outros tempos. Sua trajetória pesa, sua experiência conta, mas sua posição política deixou de ser neutra aos olhos do eleitorado.
O senador entra no próximo ciclo eleitoral diante de uma encruzilhada clara: apostar na coerência e na fidelidade às próprias convicções, mesmo enfrentando resistência, ou tentar reconstruir pontes com um eleitor conservador que hoje olha com desconfiança para qualquer proximidade com o Palácio do Planalto. A pesquisa não encerra a disputa, mas deixa um recado inequívoco. Em Rondônia, a clareza ideológica pode ser virtuosa no discurso, mas é arriscada na urna.



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