Publicada em 22/12/2025 às 08h10
COLUNAS (RE)PUBLICADAS
Publicada – 11.6.2020
Republicada – 22.12.25
1964 em Rondônia
A louca disputa entre cutubas e peles curtas (I)
Consultoria historiador Abnael Machado de Lima e pesquisador Anísio Goraieb
Durante mais de 20 anos dois grupos políticos se revezaram no poder no Território, numa disputa quase fratricida, entre 1947, quando aconteceu a primeira eleição para deputado federal até 1967, quando o pluripartidarismo foi substituído pelo bipartidarismo – a ARENA, governista, e o MDB ou, como também foi chamado, “oposição consentida” que garantiram a ideia do bipartidarismo no Brasil.
E como começou tudo: Desde que o presidente Getúlio Vargas criou o Território do Guaporé em 1943, juntando uma pequena parcela de terras do Amazonas, e mais de 90% de Mato Grosso, teria começado ali um grupo que não queria aceitar isso, ainda mais que a capital ficou em Porto Velho, porque os comerciantes e outras lideranças do vale do Guaporé, que em 1937 tentaram convencer Getúlio a criar o Território só com terras de Mato Grosso, preferiam em Guajará-Mirim.
Para o historiador Esron Menezes, tudo começara quando Aluízio decidiu deixar o governo e sair candidato a deputado federal. Definida a candidatura Aluízio teria ido embora para o Rio de Janeiro, esperar penas o resultado da eleição, irritando algumas pessoas, como o funcionário Abnatal Lima, pai do historiador Abnael Machado do Lima e o médico Osvaldo Piana, pai do único governador do Estado nascido em Rondônia o também médico Osvaldo Piana.
O grupo decidiu lançar uma candidatura diferente e o escolhido foi a maior liderança que o Guaporé tinha, o comerciante Paulo Saldanha, que perdeu a eleição, ou foi “tomada”, como afirma seu sobrinho Paulo Cordeiro Saldanha e dizia o historiador Abnael Machado de Lima, logicamente negado pelos partidários de Aluizio, como Esron e o músico Walter Bártolo, que em entrevista concedida ao autor, em companhia do historiador Francisco Matias e o poeta Adaídes – Dadá – dos Santos, garantia que a eleição havia sido limpa.
Mas a briga entre cutubas e peles curtas só apareceria bem mais tarde, na campanhaa de 1954, quando o ex-apadrinhado de Aluízio, Joaquim Vicente Rondon ganhou a disputa e se tornou o terceiro deputado federal do Território. Esse resultado teriam formado as duas correntes, a “aluizista” liderada pelo coronel Aluízio Ferreira, grupo chamado “cutuba”, e outra pelo coronel Joaquim Rondon – depois pelo médico Renato Medeiros, grupo chamado “pele curta”. Não havia uma justificativa para os apelidos dos dois grupos. “Cutuba”, diziam os peles-curtas, seria a junção de duas palavras de uma língua indígena da região. “Tuba”, significaria “doce”. A sílaba antecedente teria o significado ficando ao gosto do freguês e, juntando os dois....
Já o epíteto “pele-curta” seria em razão dos membros desse grupo não poderiam sorrir, porque deixaria sair pelo cóccix os chamados “dejetos humanos”.Foi uma época em que o deputado federal indicava o governador – como dizem atualmente fazendeiros rondonienses, levava tudo, “de porteira fechada”. Quem perdia a eleição ficava no ostracismo social e político. A Justiça era representada pelo único juiz e um promotor, às vezes, poucas vezes, dois de cada.
Não havia o que hoje se chama de “direitos”, até porque qualquer apelação tinha de ser mandada à Segunda Instância, até 1961 no Rio de Janeiro, e, depois, em Brasília, o que continuou até 1982, quando foram criados o Poder Judiciário e o Ministério Público estaduais. Literalmente vigorava a lei do mais forte – às vezes não só politicamente.



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