Publicada em 18/12/2025 às 09h40
O empresário Diogo Hungria Barbalho, apresentado no podcast Resenha Política como integrante de uma empresa ligada à área ambiental “da árvore” e como alguém que acompanha “de perto” temas climáticos por causa da atividade que exerce, afirmou estar otimista com o que chamou de legado das conferências climáticas (COPs). A fala ocorreu em entrevista conduzida por Robson Oliveira, em um episódio divulgado nas plataformas do programa.
Na abertura, Robson Oliveira convidou o público a acompanhar o conteúdo “no canal do YouTube”, também “pelos sites de Rondônia, especialmente o site Rondônia Dinâmica, toda terça e quinta”. Ele acrescentou que o programa é reprisado “sábado e domingo” pela “TV REM às 23 horas” e que, “a partir da segunda quinzena de novembro”, passou a ser retransmitido pela “Jovem Pan News” e pela “rádio Jovem Pan”. O episódio foi apresentado “com o apoio da SES Brasil”, citada como patrocinadora principal.
Ao iniciar o tema central, o apresentador mencionou contestação de “negacionistas” e disse que, apesar das críticas, o ponto principal seriam as equipes diplomáticas responsáveis por negociar acordos. Em seguida, questionou Hungria sobre a herança prática das conferências climáticas: “Você é otimista com o legado da COP?”.
Diogo Hungria respondeu afirmativamente e justificou a avaliação dizendo que, mesmo com lentidão e muitos debates, as COPs teriam produzido implementações ao longo do tempo. Ele citou o “Protocolo de Kioto”, a “COP 21” e o “Acordo de Paris”. Sobre o Brasil, afirmou: “No Tratado de Paris, Acordo de Paris, o Brasil tem uma meta de restaurar até 2030 mais de 12 milhões de hectares”.
Ainda no mesmo bloco, o empresário citou mecanismos financeiros ligados ao tema climático. Ele mencionou o “Green Climate Fund”, descrevendo-o como uma estrutura de “100 bilhões por ano” para financiar ações climáticas, e citou também o “Fundo de Perdas e Danos”, que atribuiu à “COP 27”, destacando que, para ele, a relevância estaria no reconhecimento de que “deu errado” e na necessidade de “assumir”.
Na sequência, Robson Oliveira trouxe uma dúvida recorrente no debate público: a distância entre números anunciados e resultados perceptíveis. “Todo mundo fala bilhões, trilhões… mas ninguém vê, de fato, o dinheiro. Você vê? (…) Esse dinheiro chega na ponta?”, perguntou.
Diogo Hungria respondeu que os recursos chegam a diferentes destinatários e formatos, citando “ONGs”, “governos” e “empresas”, além de iniciativas que, segundo ele, remunerariam resultados associados à redução do desmatamento, como “Floresta Mais”, descrita por ele como “pagamento por resultado”. Questionado se já havia recebido recursos diretamente, disse: “Diretamente não, mas eu trabalhei em projetos que sim”.
Ao dar exemplos, Hungria relatou vínculo com a Associação Kanindé e descreveu a entidade como parceira para atuação em territórios indígenas, explicando que não tinha experiência prévia nesse tipo de trabalho e que buscou a ONG para acompanhar e dar suporte aos projetos. Ele afirmou ter proposto um arranjo de controle: “Se o meu ‘pediárvore’ estiver fazendo coisa errada, a Kanindé tá lá pra me tirar, até. Eu tenho um acordo com eles pra isso”.
Robson Oliveira também procurou esclarecer como funcionaria a atividade econômica apresentada pelo entrevistado. Ao ser questionado sobre a origem dos recursos, Hungria disse que, no caso do negócio dele, não seriam recursos governamentais diretos para a empresa, mas que ele ajudaria a Kanindé a elaborar projetos para captação, “porque geralmente governos é pra ser sem fins lucrativos”. Sobre sua empresa, respondeu: “O meu tem fins lucrativos”. E resumiu o modelo: “Eu vendo o serviço de plantar floresta”. Questionado sobre a forma de cobrança, afirmou: “Por árvore”, descrevendo um exemplo em que uma empresa decide plantar uma árvore “por participante no meu evento”.
O debate seguiu para exigências ambientais no comércio internacional e para o agronegócio. Robson Oliveira citou o peso da exportação de proteína animal e perguntou sobre cobranças relativas a emissões associadas à pecuária. Ao corrigir um ponto, Diogo Hungria disse “metano” e afirmou: “Metano… 20 vezes o CO2”. Sobre o tipo de exigência, ele afirmou que o foco recairia sobre estar “correto dentro da lei do seu país”, mencionando condições como inexistência de embargo, presença de “mata ciliar” e “reserva legal”, e fez referência ao que chamou de “nova lei de carbono brasileira”, dizendo que, segundo sua leitura, nela “o agro não precisa contabilizar” determinadas emissões “para se automitigar”, atribuindo isso ao peso político da bancada do setor.
Ao retomar a pergunta sobre dinheiro “chegar na ponta”, Hungria citou um edital que chamou de “Restaura Amazônia”, mencionando que ele deixaria de usar a expressão “arco de destruição” para adotar “arco da restauração”. Segundo o entrevistado, já haveria “passando de 100 milhões” e “quase um bilhão” em recursos, e ele mencionou que o BNDES faria a gestão e direcionamento. Ele afirmou ainda que a Kanindé teria vencido um dos editais e que isso permitiria atuar “com indígenas e unidades de conservação”, restaurando “áreas que estão degradadas”.
A entrevista entrou, então, no ponto que Robson Oliveira chamou de “dualidade” entre produção em larga escala e preservação. Em resposta, Diogo Hungria disse acreditar em convivência, citando tecnologias e arranjos produtivos, e declarou: “Dá pra conviver junto”. Ele trouxe um exemplo de propriedade pequena com mistura de produção e floresta e defendeu que sistemas agroflorestais poderiam gerar mais receita do que propriedades maiores com pecuária. “Porque a agrofloresta rende mais. Porque você não produz um extrato só”, disse, acrescentando que isso seria “comprovado”, segundo ele.
Ao diferenciar modelos produtivos, o empresário afirmou: “O problema não é a produção de soja. O problema é a monocultura em escala”, associando esse tipo de cultivo ao uso de “agrotóxicos” e à degradação do solo. Na entrevista, ele declarou que pesticidas, herbicidas e fungicidas “matam o solo” e que o solo passaria a “emitir carbono”. Ele também citou um número ao tratar de emissões: “Só a degradação do uso do solo emite 42% das emissões brasileiras”, atribuindo esse total a “queimadas”, “uso indevido” e processos de perda de solo.
Robson Oliveira perguntou, então, se essa degradação poderia levar à desertificação. Diogo Hungria respondeu: “Sim”. Na sequência, afirmou que o Brasil teria “120 milhões de hectares” de áreas improdutivas ou “em desertificação” e citou Minas Gerais como exemplo, dizendo haver áreas classificadas como deserto. Ele também mencionou o Instituto Terra e um curso que afirmou ter feito “de restauradores da terra”, citando Sebastião Salgado.
O tema voltou ao cotidiano do campo, com Robson Oliveira lembrando que Rondônia teria “18 milhões de cabeças de boi” e, portanto, “precisa muito capim”. Diogo Hungria respondeu citando pesquisas e experiências ligadas a modelos integrados, mencionando “Embrapa” e “Iapar”, e defendeu que o país teria grande potencial de agrofloresta “em escala”. Ele listou produtos florestais como exemplos de riqueza: “copaíba, sementes, castanha, cacau, café, cupuaçu” e “açaí”.
Na parte técnica da pecuária, ele afirmou que seria possível sombrear parte da pastagem e descreveu efeitos no ganho de peso do gado: com sombra, o animal “anda menos”, “toma menos água”, “come menos” e, sem sombreamento, “engorda mais lento”, além de associar o deslocamento maior a carne “mais dura”. Ele concluiu: com sombreamento, o produtor “ganha dinheiro mais rápido”, citando também retorno associado à “árvore”. Robson Oliveira encerrou esse trecho com a expressão popular: “o boi gosta de sombra e água fresca”.
No fim do episódio, a conversa avançou para conflitos fundiários e desintrusão em terras indígenas, tema introduzido por Robson Oliveira ao mencionar uma decisão do Supremo Tribunal Federal e a retirada de pessoas de áreas que seriam terras indígenas “do ponto de vista antropológico”. Perguntado sobre opinião, Hungria disse acompanhar “por alto” e afirmou preferir focar no que pode fazer, frisando que não seria fiscal nem legislador. Ainda assim, declarou: “A gente precisa das florestas muito mais do que a gente precisa de todo o resto, porque sem a floresta o resto não existe”.
A entrevista também abordou o papel da floresta e da cordilheira dos Andes para o agronegócio, com Hungria afirmando: “É o motivo da existência dele”. Ele citou os “rios voadores”, descreveu a entrada de umidade do Atlântico, a evapotranspiração das árvores e a formação de chuvas, além de mencionar o Pantanal como “meio do caminho” desse ciclo. No mesmo tópico, respondeu a uma pergunta sobre gelo nos Andes citando um exemplo na Bolívia: “Tinha uma pista de esqui aberta 365 dias por ano e fechou em 1995”, atribuindo o fechamento ao derretimento do gelo e às “mudanças climáticas”.
No encerramento, Robson Oliveira voltou ao tema do legado das COPs e perguntou se governos, independentemente de ideologia, estariam preocupados com o assunto. Diogo Hungria disse evitar generalizações e sugeriu olhar “para as pessoas”, argumentando que posições individuais podem mudar com a alternância de lideranças. Ele resumiu sua visão sobre a conferência citada no programa como “simbólica” e defendeu uma agenda de ação: “Acredito sim nessa COP na Amazônia, simbólica, para falar, chega gente, a gente já sabe o que deu errado. A gente precisa de dinheiro, responsabilidade e atitude. Vamos plantar árvore e vamos segurar”.
Já perto do fim, o entrevistado também associou a mudança de percepção a eventos recentes, citando o Rio Grande do Sul e a experiência de fumaça em Rondônia: “Quantos meses a gente ficou debaixo de fumaça ano passado aqui? Quase cinco. sem ver o sol?”. Robson Oliveira fechou com a ideia de que esperar apenas resultados pela via judicial seria insuficiente e defendeu ação e consciência, enquanto Diogo Hungria concluiu com uma frase de mobilização: “O exemplo arrasta. O exemplo é que move”.
DEZ FRASES DE DIOGO HUNGRIA NO RESENHA POLÍTICA:
01) “A gente tem que mirar em um e meio.”
Ele fala das metas de aquecimento global após citar a COP 21 e a meta de 2°C, defendendo um alvo mais rígido.
02) “No Tratado de Paris, Acordo de Paris, o Brasil tem uma meta de restaurar até 2030 mais de 12 milhões de hectares.”
Ele cita a meta brasileira de restauração florestal como obrigação assumida em acordos internacionais.
03) “Tem instituições sérias e tem as não sérias. Aí a gente não cabe julgar.”
Ele responde à cobrança sobre dinheiro “chegar na ponta” e admite que há entidades confiáveis e outras não, mas diz que não é papel dele julgar.
04) “O problema não é a produção de soja. O problema é a monocultura em escala.”
Ele diferencia produzir grãos de criticar o modelo de monocultura ampla, ligado a impactos ambientais.
05) “Quando você usa agrotóxicos, pesticidas, herbicidas, fungicidas, você mata o solo.”
Ele afirma que o uso intensivo desses insumos destrói o solo e altera o equilíbrio ambiental.
06) “Só a degradação do uso do solo emite 42% das emissões brasileiras…”
Ele atribui uma parcela grande das emissões do país à degradação do solo, queimadas e uso indevido da terra.
07) “Se não botar capim, porque o capim é um agente desertificador.”
Ao falar de restauração e regeneração, ele afirma que o capim impede a volta da floresta e acelera desertificação.
08) “Eu tenho geral do Brasil, 120 milhões aproximadamente de áreas em desertificação.”
Ele aponta um número alto de áreas degradadas no país ao responder sobre risco de virar deserto.
09) “A gente precisa das florestas muito mais do que a gente precisa de todo o resto, porque sem a floresta o resto não existe.”
Ele defende a centralidade da floresta para a economia e a sobrevivência, ao ser provocado sobre conflitos fundiários e prioridades.
10) “Eu acho assim, eu não conheço nenhum indígena em território de branco, mas todos os brancos que eu conheço estão em território indígena.”
Ele faz uma provocação (e em seguida diz que estava brincando) ao comentar invasões e tensão em áreas indígenas.



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