Publicada em 15/09/2025 às 11h32
Porto Velho, RO – Confúcio Moura chega a 2026 com um ativo e um passivo claros. O ativo: prestígio em Brasília, biografia robusta — prefeito, governador reeleito entre 2011 e 2018 e senador eleito em 2018 — e trânsito no Planalto. O passivo: carregar a braçadeira de aliado do presidente Lula num estado onde a maré bolsonarista é histórica. Após seus oito anos de mandato, será novamente testado nas urnas.
Nos bastidores, o nome de Confúcio voltou a ser ventilado para o governo do Estado. Colunas regionais e análises políticas apontam arranjos que o empurrariam para a cabeça de chapa, mas a rota mais provável é a própria reeleição ao Senado, considerada mais compatível com seu perfil e base. Em agosto, esse cenário já era descrito como o caminho mais realista.
Se a moldura eleitoral ainda se ajeita, os gestos públicos do senador são cristalinos. Em pronunciamentos no Plenário, ele tem defendido a cooperação com o governo federal e a importância de programas da União para destravar obras e serviços nos estados. Em rede social, assumiu: “Eu faço parte da base de apoio do Governo Lula”.
O alinhamento ficou ainda mais visível na visita de Lula a Porto Velho, em agosto de 2025, quando o Planalto anunciou um pacote bilionário de investimentos. O governo divulgou obras e entregas como hospital universitário e ações de logística, e Confúcio ganhou holofotes no palco, chegando a encerrar a cerimônia. Dias depois, destacou em Plenário a cifra de R$ 1,5 bilhão para Rondônia.
No plano das ideias, o senador tem usado a tribuna e seus canais para criticar a polarização e repudiar radicalismos. Em discurso de junho de 2024, falou em “pacificação” e advertiu para os riscos quando “a extrema-direita, assumindo poderes, caminha para um lado nefasto”.
Em outros momentos, relembrou o período da ditadura militar, mencionando censura e ataques à imprensa, experiências que diz ter vivido como estudante e médico. Em textos e posts, reforça: “Não sou extremista. Sou um homem de conciliação”.
É aqui que a estrada de 2026 fica íngreme. A pesquisa divulgada em agosto de 2025 pelo Instituto Paraná Pesquisas, realizada com 1.545 entrevistas em 36 municípios, mostra um Rondônia áspero para lulistas: na estimulada para presidente, Jair Bolsonaro aparece com 54,4% contra 22,4% de Lula; na avaliação do governo federal, 63,3% desaprovam e 32,9% aprovam.
Em outras palavras: o selo do Planalto ajuda a abrir portas em Brasília, mas no voto rondoniense pesa. Em 2022, Bolsonaro já havia feito 70,66% no estado contra 29,34% de Lula, vencendo em todos os municípios.
Diante desse quadro, a matemática política favorece a estratégia mais prudente: sustentar o palanque do governo federal quando isso traz recursos e entregas, e, ao mesmo tempo, ancorar a campanha na biografia local, no discurso de moderação e na entrega de resultados tangíveis.
A disputa majoritária ao governo exporia Confúcio a um confronto direto com a cultura política dominante; a corrida ao Senado tende a ser menos binária e mais permeável à imagem de conciliador que ele vem cultivando.
Em suma, Confúcio tem narrativa, palco e portfólio — e descobriu, no episódio da visita presidencial, a vitrine ideal para mostrar serviço a Rondônia. O desafio será transformar o apoio a Lula de ônus eleitoral em ativo pragmático: em vez de bandeira, chave de cofre para investimentos.
Numa eleição que promete ser dura para o campo governista no estado, a reeleição ao Senado parece a pista mais segura para um político que se define pela negociação e que tem feito campanha de obras antes da campanha de rua.



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