
Publicada em 19/06/2025 às 08h51
Porto Velho, RO – A possível candidatura de Confúcio Moura (MDB) ao Governo de Rondônia em 2026 não encontrará o terreno político estável que o favoreceu em 2010 e 2014. O senador, que atualmente se destaca como o único membro da bancada federal rondoniense alinhado ao presidente Lula (PT), terá de enfrentar não apenas o clima de polarização ideológica, mas também o debate sobre as reservas ambientais criadas nos últimos dias de sua gestão como governador.
Se em 2010 a disputa estadual se desenvolvia com pouca tensão ideológica, e em 2014 Moura conseguiu atravessar o processo eleitoral mantendo-se distante dos embates entre lulismo e antipetismo, o cenário atual é mais adverso. A esquerda tenta se reorganizar no Estado por meio do Movimento Caminhada Esperança, lançado em maio deste ano com a participação de partidos como PT, PDT, PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede e o próprio MDB, além de entidades sociais e sindicais.
O evento, realizado na sede do SINDSEF em Porto Velho, contou com a presença do senador Confúcio Moura, que discursou ao lado de lideranças como Acir Gurgacz e Cláudia de Jesus. A iniciativa busca consolidar uma frente de diálogo com a sociedade, com foco na democracia, justiça social e combate à desinformação. Apesar do entusiasmo dos organizadores, os desafios eleitorais que se avizinham exigem mais do que mobilização popular: será preciso reconciliação política com as famílias impactadas pelas reservas.
Essas famílias voltaram ao centro do debate após a conclusão da CPI das Reservas Ambientais, conduzida pela Assembleia Legislativa de Rondônia. O presidente da Casa, deputado Alex Redano (Republicanos), afirmou que cerca de 4.500 famílias foram diretamente afetadas pelas unidades criadas por decretos no fim da gestão Moura. O relatório da CPI, com 129 páginas, aponta falhas graves no processo de instituição das reservas, como ausência de audiências públicas, reaproveitamento de estudos e supressão de etapas legais.
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“O TJ fez uma reunião com o pessoal das reservas e ele mesmo propôs o NUPMEC neles, que é o Núcleo de Conciliação, para fazer as tratativas de tentar um acordo”, explicou Redano, que espera agendar uma reunião com o Judiciário para mediar as tensões. Ele defendeu que um possível entendimento possa incluir soluções como reflorestamento com espécies produtivas, como cacau e açaí.
Em defesa do próprio legado, Confúcio se pronunciou durante entrevista à SIC TV, em janeiro de 2024. Afirmou que as reservas foram criadas em áreas da União, em sobras de mata, e com respaldo técnico. “Eu criei reservas pequenas, 11 reservas pequenas, em sobras, esquinas de matas da União. E fiz os estudos ambientais obedecidos ao alinhamento”, disse. Acrescentou que não houve conflito com moradores e reiterou: “Faria de novo, sem nenhum problema”.
O senador também criticou a ocupação irregular de áreas protegidas. “Entrou numa reserva, tem que sair”, declarou. “Tem fazenda lá dentro. Fazendeiro não vai vender gado de lá.” Ao mesmo tempo, defendeu políticas ambientais sustentáveis: “Rondônia não precisa mais desmatar uma árvore. Dá pra recuperar as pastagens degradadas.”
Mas entre a defesa de sua atuação e os efeitos práticos que ela gerou sobre comunidades rurais, está a distância política que Confúcio precisará percorrer se quiser liderar uma frente estadual com viabilidade eleitoral. Reconciliar-se com as famílias impactadas pelas reservas não será apenas uma exigência moral ou institucional, mas uma condição estratégica.
O eleitorado de Rondônia exige respostas concretas. O discurso técnico e a autoridade moral que antes garantiram vitórias em primeiro turno precisarão ser acompanhados agora de escuta ativa e soluções específicas. Se quiser voltar ao Palácio Rio Madeira, o senador terá que oferecer mais que retrospecto: terá que apresentar caminhos – inclusive para quem, no passado, se viu deixado de fora das decisões de governo.
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