Publicada em 18/12/2025 às 14h48
No último domingo (14), às margens do Rio Guaporé, em Rondônia, na fronteira do Brasil com a Bolívia, o silêncio da floresta foi quebrado por olhares atentos e passos miúdos em direção à água. Milhares de filhotes de tartaruga-da-Amazônia iniciaram sua primeira jornada rumo ao habitat natural, em mais uma ação do Projeto Quelônios do Guaporé, que há cinco anos conta com o apoio da Energisa e transforma a conservação ambiental em um poderoso momento de aprendizado, conscientização e esperança para o futuro da Amazônia.
A soltura marca uma das etapas mais simbólicas do projeto, que atua na proteção das praias de desova, no monitoramento dos ninhos e na garantia da sobrevivência dos filhotes até o retorno ao rio. Em 2025, o trabalho enfrentou desafios devido às cheias intensas do Guaporé, que alteraram o calendário natural da espécie e provocaram atraso no período de desova.
Segundo o Ibama, as equipes de monitoramento têm registrado dados impressionantes. Entre 11 e 15 de dezembro, cerca de 60 mil filhotes já haviam sido contabilizados nas áreas monitoradas. Em um único dia de soltura, mais de 20 mil filhotes foram lançados nas águas do Rio Guaporé, o maior número registrado até o momento nesta temporada. A previsão é que o pico de eclosão ocorra nas próximas semanas, estendendo-se até o final de dezembro e início de janeiro. Mantido o ritmo atual de nascimentos e solturas, a expectativa é de que mais de 2 milhões de filhotes sejam devolvidos à natureza ao longo de toda a temporada.
Apesar das adversidades climáticas, o acompanhamento contínuo permitiu um resultado positivo. As equipes já indicam, de forma preliminar, que o número de filhotes nascidos em 2025 tem potencial para superar o registrado em 2024, ano impactado por queimadas de grandes proporções na região, que comprometeram as condições ambientais e dificultaram o processo de incubação e eclosão dos ovos, reforçando a eficácia das ações de monitoramento, proteção das praias de desova e fiscalização realizadas na região.
Durante o processo, os ninhos ficam expostos a ameaças naturais e humanas. Predadores como jacarés fazem parte do equilíbrio ambiental, mas a interferência humana, especialmente com a retirada ilegal de ovos, segue sendo um dos principais riscos à reprodução da espécie.
“O Vale do Guaporé é uma área estratégica para a conservação da tartaruga-da-Amazônia. Rondônia abriga o maior tabuleiro de desova da espécie no mundo, e proteger esse território é uma responsabilidade que ultrapassa fronteiras”, afirma Cézar Guimarães, superintendente estadual do Ibama em Rondônia.
Apoio da Energisa fortalece o monitoramento e a preservação
Há cinco anos, a Energisa é parceira do Projeto Quelônios do Guaporé, oferecendo apoio logístico essencial para o monitoramento das áreas de desova, a identificação das praias acompanhadas e o deslocamento das equipes técnicas.
“O apoio ao projeto reflete o compromisso da Energisa com a preservação ambiental e com as comunidades da região”, destaca José Carratte, supervisor de Meio Ambiente da Energisa Rondônia. “Garantir estrutura para o monitoramento das praias é fundamental para que os filhotes consigam completar esse primeiro e mais delicado ciclo de vida.”, complementa.
Carratte reforça que o envolvimento da empresa vai além do suporte operacional. “Quando participamos das ações de soltura, vemos de perto o impacto positivo da educação ambiental, especialmente entre as crianças, que passam a entender a importância de preservar a natureza desde cedo.”
Comunidade reunida e educação ambiental para o futuro
A soltura dos filhotes reúne moradores de diferentes comunidades do Vale do Guaporé, transformando o momento em um verdadeiro evento de educação ambiental. Crianças acompanham de perto o retorno dos filhotes de tartaruga ao rio, fortalecendo a conscientização sobre preservação e sustentabilidade.
Com 46 anos de atuação, o Projeto Quelônios da Amazônia é uma das iniciativas ambientais mais longevas do país. No Vale do Guaporé, o trabalho é conduzido há 26 anos pela Associação Ecovale.
Para José Soares, o Zeca Lula, ambientalista e fundador da Associação Ecovale, a força do projeto está na união de esforços. “Cada filhote solto no rio representa décadas de luta pela preservação. Quando a comunidade participa, principalmente as crianças, a gente garante que esse cuidado continue no futuro”, afirma.
A cada devolução à natureza, o Projeto Quelônios do Guaporé reafirma seu principal objetivo: garantir a preservação, a sobrevivência e a reprodução das tartarugas-da-Amazônia, mantendo vivo um patrimônio ambiental que pertence a Rondônia, à Amazônia e ao mundo.



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