Publicada em 12/12/2025 às 08h00
COLUNAS (RE)PUBLICADAS
Publicada – 3.4.2014
Republicada – 12.12.2025
1964 em RO (3)
UM AMIGO PRESO PELO OUTRO AO DESCER DO AVIÃO

No dia 1º de abril Porto Velho literalmente amanheceu já tomada pelos militares, da 3ª Companhia de Fronteiras com apoio dos membros da Guarda Territorial, em patrulhas mistas, mas apesar da vida continuar e não haver manifestações contrárias ao novo regime, instalou-se o medo e houve quem preferiu se esconder.
O interventor Anacrheonte mandou prender pessoas suspeitas, lideranças sindicais e estudantis e membros do governo e das prefeituras, de Porto Velho e de Guajará-Mirim.
O historiador Abnael Machado de Lima conta: No dia 31 (de março de 1964) eu estava em casa quando chegou um amigo que participava das reuniões comigo na casa do jornalista Dionísio Xavier. Ele disse que iria dar uma sumida e era bom eu fazer o mesmo para evitar ser preso, mas eu disse a ele que não iria me esconder. Que se me quisessem prender que viessem me buscar em casa.
Mas houve prisões. “Os militares chegavam sempre à noite, disse o dirigente comunista Cloter Mota, que foi deputado na primeira legislatura da Assembléia Legislativa. Ele foi um dos presos.
Cloter ria ao contar que ele e outros acusados de serem, “comunistas”, foram recolhidos no cassino dos oficiais da 3ª Cia, enquanto os membros do governo e das prefeituras, que tinham ligaões com o governador paulista Adhemar de Barros, um dos líderes civis na deposição do governo João Goulart, foram recolhidos ao quartel da Guarda Territorial.
João Lobo, que presidia a União dos Estudantes Secundários de Rondônia, reafirmou isso. “Na Guarda nem comida tinha e as famílias tinham de trazer de casa”, fato também lembrado pela professora Marise Castiel, cujo marido Rafael Castiel foi preso na G uarda. Cloter Mogta lembrou ainda que, para m,uitos dos presos na 3ª Cia tinham ali comida muito melhor quie em suas casas.
Para o jornalista Euro Tourinho, em cuja sala de direção do jornal Alto Madeira o capitão Anacrheonte reuniu com os novos dirigentes e decidiu as primeiras prisões, o mundo virou de cabeça para baixo.
UM AMIGO PRENDE O OUTRO

Cidade pequena, onde praticamente todos se conheciam e conviviam socialmente, um dos pontos de encontro e de trocas de informações eram as bancas do mercado municipal (que em 1966 pegou fogo e foi reconstruído parcialmente em 1909 agora com o título de Mercado Cultural), as divisões aconteciam nos períodos da política, quando o Território escolhia seu único deputado federal, nas disputas entre cutubas e peles curtas (*) ou nos jogos do campeonato de futebol.
E foi nesse quadro que o delegado Orlando Freire recebeu a ordem de ir ao aeroporto e prender, na escada do avião da Panair (leia-se Paner), seu amigo, o ex-prefeito, demitido por Anacrheonte, Jaime Rafael Castiel. “Tenho certeza que deve ter sido difícil cumprir essa missão porque o delegado era amigo pessoal do Rafael”, recordou o professor Abnael.
Ele continuou: A população sabia da chegada e muita gente foi recebê-lo, lotando o pequeno saguão do aeroporto do Caiari, mas um contingente reforçado da Guarda Territorial tomou posição porque havia citações de que o povo iria resgatar o Rafael, o que acabou não acontecendo e ele já seguiu dali para o quartel da Guarda, localizado a menos de 500 metros da pista de pouso.
Dentre outros, além do prefeito Jaime Rafael Castiel, foram presos (**): acusados de serem “dirigentes comunistas” Cloter Saldanha da Mota, Dionísio Xavier, o dirigente estudantil João Lobo, além de Otávio Félix, o secretário da prefeitura José Carmênio, o capitão Távora Buarque, o médico Rafael Vaz e Silva, o engenheiro Harry Covas, o empresário Miguel Chaquian, o médico Floriano Riva.
Alguns dos presos foram levados para julgamento perant a 8ª Região Militar, em Belém mas, conforme Abnael Machado, “todos retornaram absolvidos ou não enquadrados”.
O capitão Anacrheonte Coury permaneceu no cargo a que assomou por si mesmo durante pouco mais de três semanas, quando passou o governo ao coronel José Manoel Lutz da Cunha Menezes. Anacrheonte, que se dizia “agente da revolução”, nuncamais foi visto por aqui. Ele não consta da lista oficial de governadores do Território.
(*) – Cutubas – Aliados do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira. Peles-curtas aliados do médico (em 1964 deputado federal) Renato Borralho de Medeiros.



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