Publicada em 31/12/2025 às 09h41
Durante o último episódio do podcast Resenha Política de 2025, apresentado por Robson Oliveira em parceria com o Rondônia Dinâmica, o empresário da educação Augusto Pelucio, tratado no programa como Guto Pelucio, descreveu o que considera falhas estruturais na formação docente, criticou a expansão do ensino à distância sem prática e associou resultados de uma avaliação aplicada a alunos concluintes da rede pública a um problema que, em suas palavras, seria “maior que petrolão” e “maior que mensalão”. Ao longo da entrevista, também abordou a dinâmica política e eleitoral, citando “emenda secreta” e afirmando que a competição ficou “desleal” para quem está fora do sistema.
Ainda no início da conversa, depois de Robson Oliveira apresentar o convidado como empresário do ramo da educação, Pelucio respondeu ao apresentador sobre o momento do setor. “Graças a Deus está tudo muito bem”, disse, ao comentar a situação de suas atividades. Na sequência, explicou por que acompanha o programa, descrevendo a própria rotina de consumo político. “Eu sou um telespectador assíduo do programa. Longe da política, eu consigo me aproximar através da Resenha Política”, afirmou, antes de completar: “Atualizar as fofocas e ver pra onde que o vento assopra”.
Na primeira parte do episódio, Robson Oliveira levou o debate para o ensino à distância e para críticas de categorias profissionais, citando áreas como advocacia e saúde. Pelucio respondeu com uma posição direta sobre o tema. “Eu sou extremamente contra a falta de prática na educação”, afirmou. Ele disse que, na visão dele, a exigência de prática deveria ser regra ampla. “Eu acho que todo curso da educação, seja ele não só de saúde, mas ele tinha que ser um curso com muita prática”, declarou.
Ao falar de formação docente dentro desse cenário, Pelucio descreveu o que chamou de “maior dor” dentro de uma escola. “A maior dor que a gente tem dentro de uma escola é a falta de professores com prática”, disse, comparando a formação antiga com a atual. Ele citou o modelo do magistério e fez uma afirmação sobre o perfil dos professores. “Antigamente tinha o magistério, onde logo cedo o jovem ia para a sala de aula ter prática. Hoje, 90% dos professores são formados à distância”, declarou. Em seguida, reforçou o ponto central do argumento e disse que não entraria em discussão sobre a qualidade formal dos cursos. “Eu nem vou entrar no critério se o curso é bom ou se não é, porque tem vários tipos de instituição”, afirmou, antes de concluir: “O fato é que esse professor não tem prática, ele não foi para a sala de aula treinar”.
Na parte em que contextualizou o avanço do setor privado no ensino superior, Pelucio descreveu o ensino superior como um mercado recente. “O ensino superior é um mercado educacional muito novo”, disse, acrescentando: “A gente tem que lembrar sempre que há 20 anos atrás não existia”. Ele situou a virada, segundo seu relato, no fim da década de 1990. “No final da década de 90 houve a permissão para que instituições privadas com fins lucrativos pudesse dar entrada em curso”, afirmou, ao narrar a abertura do mercado. Em seguida, associou esse momento ao início de expansão. “98, 99 é que o Paulo Renato ali liberou no FHC e aí começou várias empresas a expandir a oferta para isso”, disse.
Quando passou a listar mudanças e expansões no setor, Pelucio apontou o que considera um ponto de inflexão e citou diretamente o ano de 2016. “O problema maior aconteceu ali em 2016, quando o Mendoncinha liberou geral para todo mundo abrir polo”, afirmou. Na sequência, após Robson Oliveira identificar “Mendoncinha” como ex-ministro da Educação, Pelucio reforçou a crítica e caracterizou a medida como excesso. “Quando houve uma flexibilização para abertura de polo, para mim ali foi perder um pouco a mão”, disse. Ele descreveu o que, segundo ele, se viu na prática após a mudança. “Ali começou a aparecer polo até posto de gasolina e ali se perdeu”, afirmou.
Mesmo criticando a expansão, Pelucio argumentou que o mercado teria feito uma seleção de sobrevivência entre instituições. “Eu acredito na lei de mercado”, declarou. No trecho seguinte, descreveu o que, na visão dele, ocorreu com parte das faculdades. “Proliferou bastante, expandiu muitas faculdades. Muitas faculdades fecharam as portas, quebraram”, afirmou. E concluiu com um critério que, segundo ele, teria definido quem permaneceu. “Quem não trouxe valor para a pessoa, não trouxe valor para a sociedade, não se estabeleceu”, disse.
Ao falar de financiamento e da relação entre instituições e recursos públicos, Pelucio disse que houve interferência do Estado no mercado. “Teve a própria ingerência do governo quando ele despejou o dinheiro”, afirmou. Ao comentar a dependência de financiamento estudantil, citou uma proporção de instituições que teriam se mantido com alto percentual de estudantes vinculados ao programa. “Teve instituição que sobrevivia com 80% de Fies”, disse. Em contraponto, afirmou como seu grupo teria operado. “Graças a Deus, na profissão, a gente nunca teve uma dependência. A gente teve 10%, 12%, no máximo chegou a 15%”, declarou.
Quando o apresentador perguntou sobre expansão, Pelucio citou presença no interior com pós-graduação e parcerias. “A gente abriu o polo em Cacoal, hoje em Ji-Paraná, a gente tem curso de pós-graduação com a FGV”, afirmou. Sobre a graduação em Porto Velho, informou o tamanho da oferta. “Na Unisapiens, aí na faculdade, nós temos mais de 20 cursos. Nós só não temos medicina”, declarou. Robson Oliveira mencionou disputa por abertura, e Pelucio confirmou que a instituição busca ofertar medicina com outro desenho de vagas e operação. “A gente pede poucas vagas”, disse, antes de apontar o que considera o risco principal em cursos com grande volume. “O maior problema é de quem tem 300, 400 vagas e precisa colocar esses 400 alunos para treinar”, afirmou.
No trecho em que falou sobre a implantação e o que chamou de “cenário clínico”, Pelucio descreveu a complexidade de administrar uma estrutura de formação médica em larga escala. “Você gerir uma escola médica com 1.500 alunos não é simples do ponto de vista operacional”, declarou. Para exemplificar, descreveu o deslocamento e a logística do estado. “Você conseguir colocar aluno em Montenegro, aluno no Baixo Madeira”, disse, acrescentando que seria necessário “criar esse cenário clínico para o aluno aprender”.
Em seguida, a entrevista avançou para a atuação institucional do convidado no Conselho Estadual de Educação. Robson Oliveira perguntou sobre taxas, metas e dados de qualidade. Pelucio respondeu citando um processo em andamento e fez uma avaliação pessoal dos planos. “A gente está em vias de um novo plano educacional sendo montado. Eu sou muito descrente com esses planos”, afirmou. Ele descreveu, ainda, como vê o funcionamento do Conselho. “A maneira como a gente atua hoje no Conselho é uma maneira muito focada no processo, em cumprir as exigências mínimas de funcionamento”, disse. E acrescentou: “Esse olhar com uma ligação melhor no resultado é algo que precisa aprimorar”.
No mesmo bloco, Pelucio citou indicadores federais e disse que o estado deveria avançar na leitura de dados. “Quando você vai para o governo federal, você pega o INEP dando vários indicadores e você consegue ver qual é a instituição que é nota 5, nota 4”, afirmou. Depois, disse que, em Rondônia, a visualização precisa melhorar e citou o Tribunal de Contas como referência de atuação técnica. “Quem mais tem feito com mais profissionalismo é o próprio Tribunal de Contas”, declarou.
A parte mais controversa da conversa ocorreu quando Pelucio relatou uma avaliação aplicada à rede pública e apresentou percentuais de desempenho. Ao descrever o episódio, situou-o temporalmente. “No final do último mandato do Confúcio, mais ou menos, o secretário era o Valdo”, afirmou, antes de contar como o teste teria sido viabilizado. “Os empresários arrecadaram mais de 100 mil reais para fazer a aplicação do teste. Eu coordenei esse processo”, disse. Em seguida, informou o alcance da prova. “Aplicamos para todos os 16 mil alunos concluintes da época da rede pública estadual”, afirmou.
Na sequência, ele declarou os percentuais que, segundo seu relato, apareceram no resultado. “82% mais ou menos não conseguia resolver uma equação com dois sinais”, afirmou. Logo depois, citou dificuldades de leitura. “75% não sabia interpretar uma sentença com duas frases”, disse. E acrescentou um exemplo. “Quando colocava vírgula ele não conseguia mais ali a interpretação”, afirmou.
Foi após essa sequência que Pelucio fez a comparação mais dura com escândalos nacionais. “Se existe algum crime de corrupção maior, pra mim é esse”, declarou. Em seguida, ampliou a comparação. “Porque isso é maior que petrolão, isso é maior que mensalão, isso é maior que tudo”, afirmou. E justificou o porquê. “Porque é o dinheiro que vai pra educação, que vai pro ralo e é o dinheiro da ineficiência”, concluiu.
A entrevista também entrou no debate político, com Pelucio relatando atuação partidária anterior e justificando o afastamento. “Eu fui presidente de partido”, afirmou. Em seguida, especificou o partido e o período. “Eu fui do PSL. Eu fui presidente estadual do PSL antes”, declarou, dizendo que houve turbulência quando Jair Bolsonaro entrou na sigla. “Quando o Bolsonaro entrou no partido deu uma confusão”, afirmou. Ele relatou também que, após experiências e estudos, decidiu se afastar. “Ali eu percebi que eu precisava me afastar um pouco”, disse.
Ao tratar do próprio posicionamento político, Pelucio afirmou que não se considera um extremista nem um bolsonarista e relatou conflitos pessoais em razão dessa postura. “Não, eu apanho em casa direto por conta disso, mas eu não chego a ser um extremista e um bolsonarista”, disse. Em seguida, contou que a situação se agravou quando deixou o PSL no contexto da entrada de Jair Bolsonaro na sigla. “Na verdade quase apanhei quando saí do partido, quando o Bolsonaro entra, foi uma loucura aquilo lá”, afirmou, acrescentando que passou a receber críticas de diferentes espectros políticos. “Então é o apoio dos dois lados”, completou.
Na mesma parte da entrevista, ao comentar a polarização política e a dificuldade de dialogar publicamente, Pelucio afirmou que também recebe críticas ao reconhecer políticas implementadas por governos petistas. “O Lula nas políticas que ele implantou no primeiro e segundo mandato”, disse, ao ser interrompido por Robson Oliveira, que mencionou políticas afirmativas. Pelucio fez questão de discordar da classificação. “Não, políticas liberais”, afirmou. Em seguida, citou exemplos específicos. “O próprio incentivo que ele fez através do ProUni, Fies… o próprio Bolsa Família, para mim, é uma política liberal”, declarou, acrescentando que esse tipo de avaliação também lhe rende ataques. “Então, aí eu apanho”, disse.
Ainda nesse bloco, Pelucio afirmou que vê contradições no discurso de Jair Bolsonaro ao longo da trajetória política. “Eu acho que muitas vezes algumas políticas que o Bolsonaro defendeu a vida toda foram políticas estatais”, disse. A partir dessa avaliação, defendeu uma mudança de direção. “Então eu acredito que o nosso caminho é ter menos Estado”, afirmou. Ele concluiu defendendo um modelo que, segundo suas palavras, amplie o protagonismo individual. “Eu acredito em uma política mais liberal onde o cidadão seja mais protagonista”, declarou.
Ao explicar os motivos do afastamento da política partidária, Pelucio sustentou que a atividade exige dedicação integral e estrutura. “Eu vi que a política não dá para ser amador”, afirmou. E listou o que, na visão dele, seria necessário. “Ou você entra na política de maneira integral, com independência, com recurso”, declarou, antes de completar a consequência. “Ou você acaba tendo que servir, às vezes, a coisas que você não acredita”, disse. Em seguida, explicou o que quis dizer com “corromper”. “Você se corrompe, não no sentido da corrupção em si, mas você corrompe seus valores, você corrompe seu propósito”, afirmou, associando isso ao ambiente de concessões.
No mesmo trecho, Robson Oliveira criticou o Congresso e afirmou que a execução do orçamento teria mudado a disputa eleitoral. Pelucio concordou sobre o efeito na competição e caracterizou o cenário como desigual. “Acaba sendo desleal demais uma competição de alguém de fora pra quem tá dentro”, afirmou, ao comentar a vantagem de quem controla recursos. E concluiu: “O recurso público acaba sendo direcionado para cada um, então é bem complexo”, disse.
No encerramento, já na parte final do programa, Robson Oliveira perguntou sobre expansão do grupo. Pelucio afirmou que a operação mira novos mercados e descreveu uma linha de atuação pouco conhecida do público. “Estamos com o pé em Manaus”, declarou. Logo depois, apresentou a área. “Tem uma vertical do nosso grupo hoje, que pouca gente conhece, que é soluções educacionais para a escola”, afirmou. E informou a presença fora do estado. “A gente fornece livros e metodologia para outras escolas e a gente já está em 30 escolas em São Paulo”, disse, acrescentando que a expansão não será baseada em grandes prédios. “A gente não vai ver uma expansão de prédios grandes, mas a gente tem buscado a expansão de uma maneira um pouco diferente”, concluiu.
Ainda no fim, Pelucio disse por que gosta do programa e como vê o papel do debate público. “Eu gosto da resenha política porque você consegue traduzir o ambiente da política para o leigo”, afirmou. E finalizou com um apelo por participação sem agressividade. “Acho que todos nós empresários devemos estar participando mais e debatendo mais, debatendo, não se xingando, não brigando, mas dialogando”, declarou.
DEZ FRASES DE AUGUSTO PELÚCIO DURANTE O RESENHA POLÍTICA:
01) “Eu sou extremamente contra a falta de prática na educação.”
Em resposta à pergunta sobre críticas a cursos à distância e à formação em áreas como saúde e Direito, ele defendeu que cursos deveriam ter prática obrigatória.
02) “Hoje, 90% dos professores são formados à distância.”
Ao falar sobre formação docente, ele associou a expansão do EAD à ausência de treinamento em sala de aula.
03) “O fato é que esse professor não tem prática, ele não foi para a sala de aula treinar.”
Na mesma linha, disse que a falta de vivência prática prejudica didática e vocação.
04) “O problema maior aconteceu ali em 2016, quando o Mendoncinha liberou geral para todo mundo abrir polo.”
Ao comentar a expansão de polos de EAD, apontou a flexibilização no MEC como marco de descontrole.
05) “Ali começou a aparecer polo até posto de gasolina e ali se perdeu.”
Ainda sobre polos, descreveu a multiplicação de pontos de oferta como exagerada e sem critérios, na visão dele.
06) “Teve a própria ingerência do governo quando ele despejou o dinheiro.”
Ao discutir o mercado de ensino superior, citou interferência estatal por meio de financiamento e disse que isso sustentou instituições.
07) “82% mais ou menos não conseguia resolver uma equação com dois sinais.”
Ao relatar uma avaliação aplicada a 16 mil concluintes da rede pública estadual, apresentou números de baixo desempenho em matemática.
08) “75% não sabia interpretar uma sentença com duas frases.”
Na mesma avaliação, afirmou que o problema também era grave em leitura e interpretação.
09) “Se existe algum crime de corrupção maior, pra mim é esse.”
Após citar os resultados da prova, comparou o desperdício de recursos e a baixa aprendizagem a um escândalo de grande escala, na visão dele.
10) “A política não dá para ser amador.”
Ao explicar por que se afastou da política, afirmou que sem dedicação integral, independência e estrutura, a pessoa acaba “absorvida pelo sistema” e fazendo concessões que não faria.



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