Publicada em 31/12/2025 às 11h34
PORTO VELHO (RO) - Hoje é quarta-feira, 31 de dezembro: último dia de 2025. Faltam pouco mais de nove meses para as eleições de outubro e Rondônia fecha o ano político sem ilusões, sem inocentes e, sobretudo, sem um nome capaz de impor consenso antecipado. O que se observa, à luz dos fatos concretos, é um tabuleiro fragmentado, marcado por rompimentos explícitos, pré-candidaturas ainda em teste e atores relevantes atravessando zonas de desgaste que tendem a se aprofundar ao longo de 2026.
O movimento mais decisivo de 2025 partiu do Palácio Rio Madeira. Ao exonerar mais de três dezenas de cargos vinculados ao vice-governador Sérgio Gonçalves, ambos do União Brasil, o governador Coronel Marcos Rocha tornou público um rompimento que já vinha sendo gestado nos bastidores. A mensagem política foi direta: não há, ao menos neste momento, disposição para entregar o comando do Executivo estadual ao ex-aliado com vistas a um projeto pessoal ao Senado. A ruptura não apenas encerra qualquer hipótese de transição pactuada como altera toda a lógica sucessória do governo.
Esse gesto produz efeitos imediatos. Ao permanecer no cargo até o fim do mandato, Rocha preserva o controle da máquina, mas paga o preço de estreitar suas próprias alternativas eleitorais. A permanência no governo dificulta a construção de uma candidatura competitiva ao Senado e, por consequência, compromete projetos paralelos no núcleo político-familiar, como eventuais candidaturas da primeira-dama Luana Rocha ou do irmão Sandro Rocha. Nesse cenário, cresce a leitura de que o governador pode optar por exercer o papel de fiador político de uma chapa majoritária, indicando o vice. O nome mais citado nos bastidores é o do chefe da Casa Civil, Elias Rezende, o que reforça a ideia de que Rocha tende a influenciar a sucessão mais pelos bastidores do que pelas urnas.
Com o vácuo criado pelo rompimento no União Brasil, a disputa pelo governo se abre de forma mais nítida. O senador Marcos Rogério, do PL, surge como um dos protagonistas centrais. Ao confirmar a intenção de disputar o Executivo estadual, Rogério assume um risco calculado. A decisão contraria o desejo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que preferia vê-lo disputando a reeleição ao Senado como peça estratégica no enfrentamento político ao STF. Ainda assim, Rogério aposta no capital eleitoral recente, construído ao chegar ao segundo turno na última eleição ao governo, e sinaliza que pretende disputar 2026 com um projeto completo. Ao mencionar Fernando Máximo e Bruno Scheid como possíveis nomes ao Senado em sua chapa, indica que não pretende entrar na disputa apenas como candidato, mas como articulador de um campo político organizado.
Outro nome que ocupa espaço relevante é o do ex-prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, do PSDB. O encerramento de 2025, porém, o encontra em posição ambígua. Embora nunca tenha escondido o desejo de disputar o governo, Hildon chega ao próximo ano sem base partidária consolidada, sem grupo político orgânico e com dificuldades evidentes de articulação estadual. A possibilidade de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados surge mais como alternativa de sobrevivência política do que como plano originalmente traçado. Na política, a indefinição prolongada costuma cobrar seu preço.
O prefeito reeleito de Cacoal, Adaílton Fúria, do PSD, também figura entre os nomes mais citados para 2026. Sua trajetória recente fornece elementos objetivos para a ambição estadual. Reeleito em 2024 com mais de 83% dos votos válidos, Fúria administra pela segunda vez consecutiva um dos municípios mais relevantes de Rondônia sob os aspectos econômico, político e social, além de comandar o quinto maior colégio eleitoral do estado, com mais de 69 mil eleitores. Desde a reeleição, seu grupo trabalha de forma aberta uma pré-candidatura ao Palácio Rio Madeira, ciente de que a composição com um vice forte na capital será decisiva.
Esse projeto, no entanto, não avança sem obstáculos. Denúncias relacionadas a supostas irregularidades em empréstimos consignados realizados em 2022, envolvendo o Serviço Autárquico de Água e Esgoto de Cacoal (SAAE) e a Caixa Econômica Federal, representam um entrave concreto. As investigações culminaram na operação “Espelho de Papel”, deflagrada pela Polícia Federal, que apura crimes como estelionato, falsificação de documentos, associação criminosa e lavagem de capitais. A estimativa do prejuízo investigado gira em torno de R$ 1,2 milhão, com cumprimento de mandados em vários municípios e sequestro de bens por ordem judicial. Independentemente do desfecho, o tema tende a ser explorado de forma intensa pelos adversários, com reflexos diretos sobre a viabilidade política do projeto de Fúria em 2026.
No campo das pré-candidaturas que ganham corpo, o Delegado Flori Cordeiro, do Podemos, surge como um nome cuja disposição para disputar o governo parece irreversível. Prefeito de Vilhena, Flori se movimenta com consistência e passa a integrar o grupo de atores que podem se beneficiar de um cenário pulverizado. A leitura corrente é a de que o prefeito de Porto Velho, Léo Moraes, também do Podemos, exerce influência relevante nesse desenho. Embora afirme não pretender disputar cargo eletivo em 2026, Moraes encerra o ano com elevada popularidade e posição confortável no primeiro mandato, o que o coloca como potencial articulador do processo sucessório, mesmo fora da disputa direta.
Em contraste, outros nomes ventilados ao longo de 2025 parecem perder tração. É o caso do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Régis Braguin, que atravessa um processo de desgaste público. Acusações graves apresentadas na Assembleia Legislativa, colocam o nome de Braguin em um processo de “fritura” política que dificulta qualquer projeto eleitoral consistente.
No plano ideológico, 2026 reserva um teste decisivo sobre o real peso da esquerda em Rondônia. O campo progressista volta a ser observado como possível fiel da balança, papel que exerceu em momentos recentes. Foi esse mesmo campo que, em 2022, contribuiu para frustrar o projeto de Marcos Rogério ao governo e, em 2024, para a derrota de Mariana Carvalho, do União Brasil, na disputa pela Prefeitura de Porto Velho, vencida por Léo Moraes. A capacidade de repetição desse desempenho será colocada à prova.
Nesse contexto, o senador Confúcio Moura, do MDB, ocupa posição singular. Único aliado declarado do presidente Lula na bancada federal de Rondônia, Confúcio será testado nas urnas pela primeira vez após abandonar a postura de isenção que marcou fases anteriores de sua trajetória. Com experiência consolidada e trânsito em Brasília, enfrenta, contudo, um obstáculo estrutural: a rejeição ao lulismo no estado. Esse fator impõe limites objetivos tanto a uma eventual tentativa de reeleição quanto a qualquer projeto majoritário.
Por fim, persiste o enigma representado pelo ex-governador Ivo Cassol, do PP. Mesmo inelegível, Cassol continua aparecendo, de forma recorrente, em posições de destaque em pesquisas de intenção de voto, inclusive em primeiro lugar. A insistência de institutos em incluir um nome sem condições legais de disputa não apenas distorce a leitura do cenário como representa um desrespeito ao eleitor, que passa a ser induzido a um debate desconectado da realidade jurídica.
Rondônia fecha 2025 sem inocentes e abre 2026 sem favoritos absolutos. O ano que termina deixou claro que o poder não tolera vácuos e que, quando eles surgem, são ocupados, ainda que de forma improvisada. Ninguém chega inteiro ao próximo ciclo. Alguns chegam feridos, outros isolados, quase todos desconfiados. O cenário é fragmentado, instável e exige cálculo fino. Em política, sobreviver ao ano pode ser tão decisivo quanto vencer a eleição. É assim, sem sínteses fáceis e com o jogo ainda longe de estar jogado, que o estado entra em 2026.



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