Publicada em 08/10/2025 às 10h51
Porto Velho, RO – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, que investiga fraudes envolvendo descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas, realizou reunião na última segunda-feira, 06, para ouvir o empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, convocado por requerimentos aprovados. A sessão, transmitida pela TV Senado, foi marcada por confronto entre o Deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) e parlamentares do PT, com intervenções do presidente do colegiado, Senador Carlos Viana (PODEMOS-MG), e suspensão temporária dos trabalhos.
Logo após ser autorizado a falar, Chrisóstomo explicou por que discursava de pé, relacionando a postura à formação militar. “Eu fico de pé porque, nas nossas salas de aulas militares, você respeita o professor, respeita o que está sentado numa mesa”, disse ao presidente, com quem trocou breves menções sobre a experiência no Exército. Em seguida, dirigiu-se ao depoente: “Eu fiquei aqui pensando em termos de coragem, porque, para falar, tem que ter coragem, Dr. Fernando”, afirmou, pedindo a exibição de um vídeo para embasar sua fala.
Na sequência, o deputado passou a vincular supostas irregularidades ao PT. “Mostre essa ranhura, esse buraco que o PT, este Governo está fazendo no país!”, declarou, relacionando o tema a escândalos do passado e à atual investigação sobre descontos em benefícios. Em vários momentos, afirmou que “essa turma do PT... eles são mentirosos” e comparou gestões, ao dizer: “O que eles falam do Presidente Bolsonaro aqui é dor de cotovelo”. Ao tratar de 2023 e 2024, afirmou que teria havido “subida do teto, que chegou a quase R$ 3 bilhões”, atribuindo a esse período “quase 4 bilhões” supostamente desviados por “Nelson Wilians”, mencionado como “sócio” do depoente. Ainda relacionou, sem detalhamento probatório na sessão, “R$ 7 milhões” que teriam “chegado na conta do filho do Sarney... agora em abril”.
As declarações provocaram reações imediatas da bancada petista. O Deputado Rogério Correia (PT-MG) tentou intervir invocando o “art. 14”, mas foi contido pelo presidente. “Não tem art. 14. Não tem citação a ninguém”, disse Carlos Viana, que pediu que Chrisóstomo prosseguisse. Em meio a interrupções cruzadas — “Deixa ele falar, pô!” e “Depois você fala”, registraram parlamentares fora de microfone —, o petista reclamou: “Ele disse que todo mundo do PT roubou”, solicitando novamente a palavra. Em dado momento, Correia chamou o colega de “covarde”, o que acentuou o tumulto. O presidente buscou restabelecer a ordem e advertiu: “Há regras aqui, neste Parlamento, de convivência...”.
Chrisóstomo retomou o microfone e ampliou as críticas. “É anistia! E a anistia tem que ser ampla, geral e irrestrita...”, disse, citando “assassinos do PT do passado” e “ladrões do PT do passado” ao defender o que classificou como “recado para o Brasil”. Voltou a apelar ao depoente: “Dr. Fernando, eu vou falar tranquilo agora: entrega esse povo... Mostra para o Brasil que está roubando”, reiterando pedidos para que Cavalcanti detalhasse fatos que “salvassem os nossos velhinhos e velhinhas do Brasil”.
As discussões prosseguiram com questionamentos regimentais. Rogério Correia apresentou questão de ordem com base no “Art. 19” do Regimento do Senado, que veda “expressões descorteses ou insultuosas”, e leu dispositivos do “Art. 22” sobre medidas disciplinares, solicitando o cumprimento das normas. “O que o nobre Parlamentar acabou de fazer foram insultos atrás de insultos, generalizando não apenas um partido político, mas as pessoas que estavam aqui”, pontuou.
CONFIRA:
Na contradita, o Senador Rogério Marinho (PL-RN) defendeu a continuidade das falas, mencionando situações anteriores e pedindo “civilidade” sem cerceamento: “Se alguém se resigna porque está se sentindo incomodado, vai haver o momento da réplica... Existem pessoas mais veementes, outras mais ponderadas”. Marinho também questionou interrupções “contumazes” e pediu que o presidente considerasse “o bom senso”.
Carlos Viana ponderou que “há os que são mais exaltados e há os que são mais de voz baixa, mas todos usam de acusações, um contra o outro”, ressaltou que Correia “não foi citado hora nenhuma” e declarou que não retiraria a “imunidade da fala” de nenhum parlamentar, ao mesmo tempo em que solicitou “mais cuidado com as palavras” por parte de Chrisóstomo. Antes, já havia advertido que poderia recorrer ao “art. 22”, sem aplicá-lo. Diante da escalada das interrupções e pedidos paralelos — inclusive sobre filmagens no recinto, quando Paulo Pimenta (PT-RS) informou que “foi ele quem pediu” para gravar —, o presidente suspendeu a sessão por cinco minutos: “Muito obrigado. Eu suspendo a sessão por cinco minutos”.
Ao longo do episódio, o foco temático da CPMI — fraudes em descontos indevidos em benefícios previdenciários — foi reiterado em falas de membros do colegiado, mas deu lugar em diversos momentos a embates políticos. Chrisóstomo insistiu para que o depoente “falasse as verdades”, ao passo que petistas contestaram o uso de generalizações e pediram a aplicação do Regimento para coibir “palavras descorteses”. Após a suspensão, os trabalhos foram retomados sob a orientação de que o debate permanecesse dentro dos limites regimentais, com preservação do direito de fala e advertências à observância do decoro.



Comentários
Seja o primeiro a comentar!