Publicada em 30/10/2025 às 09h33
Porto Velho, RO – Durante sessão na Câmara dos Deputados, o Deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) fez um pronunciamento que, embora sem citar nomes, respondeu de forma indireta às declarações anteriores do Deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) sobre a necessidade de decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro. O tema ganhou destaque após a Operação Contenção, realizada na terça-feira, 28, considerada a mais letal da história do país, com mais de 120 mortos na capital fluminense.
Em seu discurso, Coronel Chrisóstomo defendeu que o Governo Federal autorize o uso das Forças Armadas para atuar no estado. “Basta o Presidente da República pegar a caneta dele e assinar a GLO no Rio de Janeiro! Nós vamos resolver os problemas, porque as Forças Armadas, quando entram, resolvem”, declarou. O parlamentar criticou o presidente Lula, afirmando que “esse senhor, que eu chamo de mentiroso, está deixando de cumprir a sua missão”. Ele também questionou o que classificou como “temor da Esquerda” em relação à medida e pediu que sua fala fosse encaminhada ao programa A Voz do Brasil e aos meios de comunicação da Casa.
Na sequência, o deputado Chico Alencar, do PSOL, utilizou a tribuna e tratou do mesmo tema, abordando os impactos da operação e as limitações do modelo de enfrentamento armado. “Para quem acha que a GLO é a solução, eu quero lembrar que em 2018 houve intervenção na segurança do Rio de Janeiro, que foi muito mais do que uma GLO [...] e que não resultou em nada”, afirmou. A intervenção citada por Alencar foi conduzida pelo então general Walter Braga Netto, que comandou a segurança pública do estado naquele período e, posteriormente, tornou-se ministro e vice-candidato à Presidência. O parlamentar criticou o que classificou como “discurso fácil” e defendeu um processo permanente de integração entre as forças de segurança e políticas de inteligência, prevenção e planejamento.
Segundo Alencar, o enfrentamento da violência exige “profundidade e seriedade” e não deve ser vinculado a disputas eleitorais. “Vincular os acontecimentos trágicos e terríveis do dia 28 de outubro às eleições do próximo ano é apequenar e mediocrizar a análise e o enfrentamento dessa situação”, disse. O deputado acrescentou que “inteligência, prudência e capacidade de intervenção é o que garante êxito e não o número”, antes de ter o microfone desligado ao fim do tempo regimental.
A fala de Alencar ocorreu em meio à repercussão nacional da Operação Contenção, que, segundo balanço oficial, resultou em 119 mortes — 115 civis e quatro policiais, além de 113 prisões e dez apreensões de adolescentes. A ação, realizada pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, mobilizou 2,5 mil agentes e foi apresentada pelo secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, como “ação legítima do Estado”. “A polícia não entra atirando, entra recebendo tiro”, afirmou Curi em coletiva de imprensa, acrescentando que “a operação estava planejada” e que o resultado “quem escolheu não foi a polícia, foram eles”.
O secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, afirmou que as vítimas “foram criminosos que optaram por não se entregar”, classificando a alta letalidade como “previsível, mas não desejada”. Segundo ele, a ação cumpriu normas legais e usou câmeras corporais — embora parte das gravações não tenha sido registrada por falta de bateria.
Entretanto, organizações de direitos humanos, a OAB e a Human Rights Watch classificaram a operação como um massacre, citando possíveis violações à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que impõe diretrizes para ações policiais no Rio. Para a diretora do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, a operação “reproduziu uma lógica antiga de combate ao crime com violência, que vitima moradores e não atinge o coração das facções”. Já Gláucia Marinho, da ONG Justiça Global, afirmou que “a operação foi um massacre”, relatando que “moradores foram obrigados a retirar cerca de 70 corpos sem perícia no local”.
O pesquisador Luís Flávio Sapori, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse que o nível de letalidade “não foi um erro, mas algo planejado” e que a ação “não buscou prender, mas exterminar integrantes do Comando Vermelho”. Ele destacou ainda que esse modelo de operação reflete “uma política de segurança marcada por cálculo político e alto custo humano”.
Diante desse cenário, o discurso de Chico Alencar ampliou o debate sobre o papel das Forças Armadas e a eficácia das ações policiais no estado. Sem citar diretamente Coronel Chrisóstomo, o deputado do PSOL reforçou a crítica ao uso de soluções militares e defendeu uma abordagem integrada, com foco em inteligência e prevenção — em contraponto às propostas de intervenção federal que ecoaram no plenário.



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