Publicada em 22/07/2025 às 10h38
Porto Velho, RO – Em uma entrevista de mais de uma hora ao podcast Resenha Política, a primeira-dama de Rondônia e secretária de Assistência Social (Seas/RO), Luana Rocha, abordou abertamente as recentes crises políticas envolvendo o vice-governador Sérgio Gonçalves (União Brasil) e o deputado federal Fernando Máximo (União Brasil). Pré-candidata à Câmara dos Deputados em 2026, ela atribuiu o rompimento à postura de ambos e declarou que as atitudes tomadas por Sérgio e Máximo demonstram ingratidão política e pessoal.
Segundo Luana, o governador Marcos Rocha "até o último momento" acreditava na palavra do vice, mas a movimentação feita por Sérgio durante a viagem oficial de Rocha a Israel, em meio a um cenário de guerra, teria revelado as “escamas” do rompimento: “Pra gente, a melhor coisa que aconteceu foi isso agora, foi essa revelação antecipada. Porque se isso fosse se estender, a gente só ia saber lá no último momento”, afirmou.
A primeira-dama relatou que, enquanto o governador estava retido em Israel, sem possibilidade de retorno imediato, articulações foram iniciadas na Assembleia Legislativa (ALE/RO) para declarar vacância do cargo. A medida, se efetivada, obrigaria Rocha a acionar o Judiciário para reassumir a função: “Imagina, se eu sou teu vice, se eu sou teu parceiro, tô contigo, por que eu vou fazer isso?”.
A crise, segundo ela, teve como estopim a atuação pública de Sérgio contra o então secretário da Casa Civil, Elias Rezende, homem de confiança de Rocha. Luana argumenta que críticas feitas ao secretário equivaliam a um ataque ao próprio governador: “Se o vice-governador vai em uma televisão falar mal de um secretário que o governador escolheu, ele não tá falando mal do secretário, ele tá falando mal do governador”.
Luana também declarou que não havia grupo político formado quando o casal chegou ao governo e que o vice-governador e seu irmão, Júnior Gonçalves, ex-chefe da Casa Civil, se aproximaram apenas no segundo turno da eleição. Ela afirma que Sérgio chegou a ser convidado por Marcos Rocha para ser o candidato a vice já em 2018, mas recusou em razão de problemas com sua empresa. A convivência só começou após a vitória nas urnas.
Além do conflito com o vice, a primeira-dama fez críticas diretas a Fernando Máximo, que iniciou sua trajetória política como secretário de Saúde no governo de Marcos Rocha. Segundo ela, o deputado não deve permanecer no União Brasil e sua migração ao PL é vista como uma traição: “O Fernando já se mostrou por lá, já fez vídeo por lá, o Bolsonaro já falou dele... não faz sentido ele ficar andando por aí com o Bolsonaro, com o Marcos Rogério (senador do PL), que é adversário nosso”.
Ao ser questionada se considerava isso uma decepção, Luana respondeu: “Mais uma? A gente é surpreendido a todo momento... O governo deu oportunidade pra muita gente. Trouxe gente que nunca tinha sido político, construiu essas pessoas dentro da gestão”.
Ela enfatizou que o governador “não mudou” com o poder: “Marcos continua a mesma pessoa de sempre”, e que tanto a crise com o vice quanto com Fernando Máximo seriam reflexo de comportamentos alheios. “Quem trai, trai. Não sou eu que tô traindo”, afirmou.
Sobre a possibilidade de Sérgio Gonçalves assumir o comando do Executivo em caso de renúncia de Marcos Rocha para disputar o Senado, Luana reconheceu que isso “já é previsível” e que há temor entre os atuais ocupantes de cargos comissionados: “Todo mundo já sabe disso, então a gente trabalha com a realidade”.
Um possível processo de impeachment contra o vice foi levantado na conversa, mas Luana afirmou desconhecer se há articulação em curso. Ainda assim, ela declarou que o rompimento é definitivo e que, mesmo que haja reaproximação institucional no futuro, a confiança não será recuperada: “Não tem mais o que fazer. Não foi pela nossa parte”.
A entrevista também abordou um episódio em que o ex-secretário da Casa Civil, Júnior Gonçalves, insinuou que jornalistas deveriam investigar a atuação de Luana e Marcos Rocha no Departamento de Trânsito (Detran/RO): “Me falaram, mas eu nem perdi meu tempo pra assistir isso. Isso não existe. Está só na cabeça dele”, declarou a secretária.
Na segunda metade da entrevista, Luana Rocha relembrou sua candidatura à deputada federal em 2018, quando fez 5.600 votos sem estrutura de campanha. Segundo ela, sua prioridade naquele pleito era acompanhar o marido, e não a própria candidatura. “Tinha gente que nem sabia que eu era esposa do Marcos”, relembrou.
Ela contou que enfrentou preconceitos políticos e pessoais, chegando a perder votos por receio de que ela se mudasse para Brasília, deixando o marido no Estado. Ainda assim, afirma que foi “uma construção conjunta” e que hoje está mais preparada: “A gente entrou sem experiência política, fomos mais pela técnica do que pela política”.
A pré-candidatura ao cargo de deputada federal em 2026 foi confirmada por Luana: “Trabalhei por isso, Marcos também trabalhou, e a gente vem levar essa propositura lá pra frente, pra continuar com esse trabalho”.
A secretária detalhou ações da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (Seas), com foco em programas como Meu Sonho, voltado à habitação; Mamãe Cheguei, que oferece enxoval para gestantes; Crescendo Bem, voltado ao acompanhamento infantil; e Criança Protegida, com veículos exclusivos para conselheiros tutelares.
Segundo ela, mais de 105 mil pessoas se inscreveram para concorrer a 5 mil casas do programa Meu Sonho. O Estado fornece até R$ 30 mil como entrada no financiamento, sem necessidade de devolução. “É uma oportunidade que a gente está dando para as pessoas adquirirem essa casa”, explicou.
A titular da Seas também relatou que os programas atendem a indígenas, ribeirinhos e quilombolas. “Todos os programas são extensivos”, afirmou.
Filha de garimpeiro e criada em Guajará-Mirim, Luana detalhou as dificuldades econômicas enfrentadas na infância. Vendeu açaí na rua com as irmãs, foi empregada doméstica e ajudante de pedreiro. “A gente viveu na miséria, de não ter o que comer dentro de casa”, relatou emocionada. “Mas me forjou”.
15 frases de Luana Rocha durante a entrevista com Robson Oliveira:
01) "Quem trai, trai. Não sou eu que tô traindo."
— Ao comentar a ruptura com o vice-governador Sérgio Gonçalves, Luana afirma que a traição partiu exclusivamente dele, e que não sente culpa ou arrependimento.
02) "Foi essa revelação, antecipada. Porque se isso fosse se estender, a gente só ia saber lá no último momento."
— Referindo-se ao episódio da tentativa de vacância do cargo de governador durante a viagem de Marcos Rocha a Israel, ela afirma que a articulação de Sérgio expôs sua verdadeira intenção.
03) "Aí pra gente, Robson, a melhor coisa que aconteceu foi isso agora."
— Reforça que a manobra do vice-governador foi benéfica por permitir ao grupo perceber cedo o rompimento político.
04) "Não dá mais liga, não tem mais o que fazer."
— Sobre a possibilidade de reconciliação entre Marcos Rocha e Sérgio Gonçalves, Luana é categórica: a relação política está encerrada.
05) "O Fernando Máximo surgiu na gestão do governador coronel Marcos Rocha."
— Ao contextualizar a ascensão política do deputado federal, ela destaca que ele só entrou na vida pública graças ao atual governo estadual.
06) "Gratidão não é para todos."
— Disparada após citar a migração política de Fernando Máximo para o grupo adversário liderado por Bolsonaro e Marcos Rogério.
07) "Não faz sentido ele ficar andando por aí com o Bolsonaro, com o Marcos Rogério, que foi e é um adversário nosso."
— A crítica direta ao alinhamento público de Máximo com adversários políticos do governador Marcos Rocha.
08) "Ele só ia sentir... Em abril... Só."
— Ao mencionar que, se não houvesse a manobra durante a ausência do governador, a “traição” de Sérgio só seria percebida no momento de uma eventual renúncia para candidatura ao Senado.
09) "Não foi um movimento ingênuo."
— Discordando da interpretação de Robson Oliveira sobre a tentativa de vacância, Luana sugere que a ação foi planejada e consciente.
10) "A pessoa só presta atenção na recompensa que ela tá recebendo."
— Em crítica indireta a antigos aliados, Luana aponta que alguns valorizam mais os benefícios que recebem do que a relação construída.
11) "Eu nem perdi meu tempo pra assistir isso, não."
— Ao ser questionada sobre uma fala pública de Júnior Gonçalves que insinuava irregularidades no Detran, Luana nega envolvimento e diz que sequer se deu ao trabalho de assistir a coletiva.
12) "Isso não existe, o que ele tá sugerindo alguma coisa tá só na cabeça dele."
— Complementando a resposta anterior, rechaça qualquer ilação feita por Júnior em relação a ela ou ao governador.
13) "Tem município que não quer fazer adesão com um programa desse, você acredita?"
— Ao relatar que alguns prefeitos se recusaram a aderir aos programas sociais da Seas, Luana sugere que divergências partidárias estão impedindo ações sociais.
14) "A gente viveu na miséria."
— Ao descrever sua infância, Luana reforça seu discurso de superação pessoal e legitima seu foco atual na assistência social.
15) "Só joga pedra naquela árvore que tá dando fruto, e a nossa tá dando muito fruto, e fruto bom."
— Em tom de defesa do governo Marcos Rocha, a frase é usada para responder às críticas públicas e ataques políticos ao grupo.



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