
Publicada em 06/05/2025 às 10h11
O presidente do Sindicato dos Médicos de Rondônia (SIMERO), Dr. Luiz Eduardo Maiorquim, foi entrevistado no Podcast Resenha Política, onde expôs uma série de críticas ao projeto do Governo de Rondônia que pretende terceirizar a gestão de unidades hospitalares da rede pública. Para ele, a proposta — que envolve a transferência de mais de meio bilhão de reais por ano à iniciativa privada — foi construída de forma apressada e com graves falhas técnicas.
Segundo Maiorquim, o chamado termo de referência do projeto foi elaborado em apenas três dias por uma equipe sem o devido conhecimento técnico. “Isso daqui que você tá vendo comigo, que é o termo de referência de privatização, foi feito em três dias, dito pelo secretário”, afirmou. Ele também criticou a ausência de diálogo com os conselhos de classe e a categoria médica: “Não chamaram um diretor clínico do João Paulo para discutir isso daqui”.
Durante a entrevista, o presidente do SIMERO foi confrontado sobre a gestão anterior da qual participou, no governo Confúcio Moura. O entrevistador destacou a permanência do caos na saúde pública, independentemente de quem esteja no comando. “A saída da saúde do estado de Rondônia é privatizar mesmo, porque tá um caos. E não é de hoje, não. Vem desde a tua época”, disse. Em outro momento, pontuou as críticas públicas que Maiorquim tem recebido: “Seus detratores dizem que o senhor esteve lá e não fez nada. O que foi feito? Por que não resolveu essas questões?”
Maiorquim defendeu-se mencionando projetos implantados em sua gestão, como o SAND (Serviço de Atendimento Médico Domiciliar), o fortalecimento da regulação estadual e a descentralização hospitalar com polos regionais em cidades como Cacoal e Ji-Paraná. Disse ainda que, embora avanços tenham ocorrido, o problema estrutural da saúde pública exige planejamento contínuo. “Se entra 60 pacientes no João Paulo II num fim de semana, tem que tirar 60. Se não, vão pro chão”, exemplificou.
Sobre o modelo proposto pelo atual governo, foi taxativo: “Não é terceirização, é desespero”. Ele alertou para o risco de o Estado perder o controle sobre os serviços públicos caso a empresa contratada desista após um ano: “Como se faz pra retroceder um serviço de tamanha monta se a empresa desistir? E você já desmontou o serviço que tinha”.
O termo de referência, segundo ele, contém erros primários. “Colocaram médico radiologista pra fazer colonoscopia. Isso não existe”, disse, criticando ainda a previsão de contratação de hemodinamicistas para hospitais que não possuem o equipamento necessário: “Você contrata um profissional para fazer um procedimento que o hospital não tem como oferecer”.
O entrevistador também questionou se a oposição do sindicato à proposta seria apenas técnica ou também ideológica. “Vocês são contra mesmo que estivesse tecnicamente correto? Ou são contra só porque é privatização?”, perguntou. Maiorquim respondeu que “o SUS permite contratos com empresas privadas, mas de forma complementar. O que não pode é o Estado sair de cena e entregar tudo”.
Durante a entrevista, foi citado que municípios como Vilhena adotaram modelos semelhantes com organizações sociais. “Eles dizem que lá deu certo. Mas no Rio de Janeiro não deu. E São Paulo tem experiências horrorosas. Por que aqui seria diferente?”, foi a pergunta feita. O médico respondeu que exemplos negativos predominam quando o modelo é implantado de forma improvisada e sem planejamento técnico.
Ao final, defendeu a realização de debates públicos para discutir a proposta com maior transparência. “O governo necessita de esclarecimento para a população. Talvez fazer junto à Assembleia uma ação pública para discutir isso de forma mais acertada”, concluiu.
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA: