Publicada em 24/12/2025 às 10h48
O movimento recente do senador Marcos Rogério (PL), presidente estadual do Partido Liberal em Rondônia e pré-candidato ao governo, levanta uma pergunta que começa a circular nos bastidores políticos: estaria Rogério tentando trilhar um caminho semelhante ao adotado por Flávio Bolsonaro, apresentando-se como um bolsonarista mais moderado, sem romper com a base ideológica que o projetou?
A indagação não surge do nada. Ela nasce do contraste entre o discurso atual e a postura assumida por Rogério no ciclo eleitoral de 2022. Naquele ano, o senador se apresentou como um dos defensores mais aguerridos de Jair Bolsonaro -- hoje preso por tantativa de golpe de estado --, no Congresso Nacional, postura que lhe rendeu, com orgulho público, o apelido de “pitbull” do então presidente. O resultado eleitoral, porém, foi duro: Marcos Rogério foi derrotado tanto no primeiro quanto no segundo turno da disputa pelo Palácio Rio Madeira pelo então governador Coronel Marcos Rocha (União Brasil), que buscava a reeleição.
Rocha, à época, beneficiou-se de uma configuração política peculiar. Mesmo sendo identificado com a direita, acabou recebendo apoio silencioso — e em alguns casos explícito — de setores do centro, de uma direita menos ideológica e até de parcelas da esquerda, que enxergaram nele uma alternativa viável diante da radicalização do debate. A ausência de opções competitivas fora desse eixo ajudou a consolidar um campo amplo, pragmático e eleitoralmente eficiente.
Três anos depois, o cenário é outro, mas a memória política permanece. E é justamente nesse contexto que Marcos Rogério passa a vocalizar, de forma mais enfática, a necessidade de diálogo e ampliação de alianças. Durante reunião do PL para discutir a estratégia eleitoral de 2026, o senador afirmou que, como pré-candidato ao governo, precisa “ter a capacidade de dialogar com todos” e defendeu a busca por unidade, mesmo com grupos que “não pensam igual a gente”.
Essa diretriz foi reforçada e registrada na coluna do jornalista Herbert Lins, na qual se relata que, em encontro com vereadores do PL, Rogério pediu unidade para buscar apoios de “quem não pensa igual a gente”, sem abrir mão de valores e princípios. Segundo a coluna, o senador foi claro ao afirmar que é preciso manter convicções, mas também ter capacidade de dialogar para trazer para perto quem pensa diferente. A fonte é explícita e ajuda a convalidar a leitura de que há, ao menos no discurso, uma tentativa de suavização de postura.
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O contraste com o passado recente é evidente. O mesmo Marcos Rogério que hoje fala em soma, diálogo e unidade foi, até pouco tempo atrás, símbolo de enfrentamento ideológico direto, orgulhoso da retórica dura e da fidelidade incondicional ao bolsonarismo mais raiz. A mudança, portanto, chama atenção — e convida à comparação com o movimento feito por Flávio Bolsonaro no plano nacional.
Em entrevista recente à agência Reuters, Flávio buscou se apresentar como um “Bolsonaro mais moderado”, afirmando ter um perfil mais centrado, voltado a pautas econômicas, privatizações e redução do tamanho do Estado, deixando disputas culturais em segundo plano. Sem romper com o pai, ao contrário, reafirmando obediência e alinhamento, Flávio tenta ampliar seu raio de diálogo com o mercado e setores menos ideologizados do eleitorado conservador.
Marcos Rogério, guardadas as proporções e os contextos, parece flertar com lógica semelhante. No entanto, há um ponto central que impede qualquer leitura de ruptura mais profunda: o senador fez questão de reafirmar, de forma inequívoca, que o Partido Liberal e seus quadros seguem fortemente ancorados na figura de Jair Bolsonaro. Em publicação nas redes sociais, Rogério foi direto ao afirmar: “E o nosso propósito maior é lançar candidatos de direita, conservadores, alinhados com o princípio do PL e do nosso presidente Jair Bolsonaro”.
Ou seja, se há um movimento de moderação retórica, ele não vem acompanhado de distanciamento simbólico. Bolsonaro continua sendo o eixo central da identidade política do PL em Rondônia e do próprio Marcos Rogério. O discurso ameno convive, lado a lado, com a reafirmação de pertencimento ao bolsonarismo.
Resta, portanto, a questão essencial: trata-se de aprendizado político genuíno ou apenas de um ajuste tático diante das lições amargas de 2022? A resposta não está apenas nas palavras, mas na prática que virá. Se Marcos Rogério seguir de forma consistente por esse caminho de ampliação real de diálogo, construção de pontes e redução do isolamento ideológico, poderá demonstrar que o homem público capaz de aprender com os próprios erros tem condições de avançar e, eventualmente, ser vitorioso.
Por outro lado, se essa postura representar apenas um rompante ameno de sanidade discursiva, sem lastro concreto, o passado tende a cobrar seu preço. A política raramente perdoa incoerências prolongadas. Nesse cenário, o mesmo histórico que hoje se tenta suavizar pode aprisionar novamente Marcos Rogério no campo frio e solitário da derrota — e, desta vez, sem um mandato para chamar de seu.
O eleitor, como sempre, será o juiz final desse teste.



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