Publicada em 27/12/2025 às 09h48
PORTO VELHO (RO) - A pré-corrida pelo Governo de Rondônia em 2026 chega ao fim de 2025 sem um desenho definitivo e com sinais claros de que o processo ainda está longe de se cristalizar. As pesquisas divulgadas ao longo do ano não apontam um favorito incontestável, revelam empates técnicos recorrentes, alto índice de eleitores indecisos e, sobretudo, evidenciam um ambiente político em construção, no qual nomes fortes coexistem com obstáculos jurídicos, dilemas estratégicos e dificuldades de consolidação de campo.
O caso mais emblemático desse descompasso entre números e realidade política segue sendo o de Ivo Cassol. O ex-governador aparece liderando ou disputando a dianteira em diversos cenários simulados, mesmo estando formalmente inelegível até 2028 em razão de condenação confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. A insistência de institutos em testar seu nome cria uma distorção que influi no debate público, alimenta expectativas irreais e, ao mesmo tempo, preserva o peso simbólico de uma liderança que, embora fora da disputa, segue atuando como polo de influência. Cassol não está no jogo eleitoral, mas permanece no jogo político, seja como potencial apoiador, seja como figura capaz de transferir capital político — ainda que esse poder de transferência seja hoje mais debatido do que comprovado.
Entre os nomes efetivamente aptos, Marcos Rogério surge como o pré-candidato mais organizado do ponto de vista partidário. O senador do PL assumiu publicamente sua disposição de disputar o governo, tem respaldo da estrutura bolsonarista no estado e já opera movimentos claros de composição, ao projetar alianças para o Senado e fortalecer sua base municipal. Seu discurso combina pautas conservadoras com apelos ao diálogo, buscando reduzir resistências fora do núcleo ideológico mais fiel. Ainda assim, sua liderança nas pesquisas não se traduz em hegemonia, e o próprio desempenho variável nos levantamentos indica que sua candidatura, embora robusta, está longe de ser liquidada no primeiro turno.
Fernando Máximo ocupa posição semelhante em termos de viabilidade. Deputado federal mais votado do estado em 2022, ex-secretário de Saúde e com discurso centrado na eficiência administrativa, Máximo aparece competitivo em praticamente todos os cenários em que é testado. O fator pendente segue sendo partidário. A indefinição quanto à legenda e o flerte com diferentes campos da direita indicam cautela estratégica, mas também revelam que sua pré-candidatura ainda não encontrou uma ancoragem política definitiva.
No interior, Adaílton Fúria consolidou-se como um dos nomes mais relevantes do ciclo. Prefeito reeleito de Cacoal com ampla margem, ele construiu uma narrativa baseada em resultados administrativos e se apresenta como alternativa fora dos polos tradicionais. Seu discurso de direita moderada, avesso a radicalismos, encontra ressonância em um eleitorado cansado de disputas ideológicas puras. As pesquisas que o colocam na liderança em alguns cenários reforçam essa percepção. Ao mesmo tempo, denúncias e investigações envolvendo sua gestão passada introduzem um elemento de incerteza que pode se transformar em ativo de confronto na campanha, dependendo do desfecho jurídico e do uso político do tema pelos adversários.
A entrada do Delegado Flori Cordeiro altera de forma significativa o tabuleiro. Prefeito de Vilhena, com forte apelo no discurso de segurança pública, enfrentamento a estruturas corporativas e gestão de choque, Flori emerge como novidade competitiva. Sua atuação recente, especialmente na área da saúde, ampliou sua visibilidade estadual e consolidou a percepção de que sua pré-candidatura é irreversível. Ao ocupar o espaço do conservadorismo anticorrupção fora do eixo tradicional, Flori disputa eleitores tanto com o PL quanto com candidaturas municipais de perfil técnico, adicionando complexidade ao campo da direita.
Hildon Chaves, por sua vez, segue como uma incógnita. Ex-prefeito de Porto Velho com elevada aprovação ao deixar o cargo, ele aparece com percentuais relevantes nas pesquisas, mas mantém postura distante do debate eleitoral. Sua base fortemente concentrada na capital e o silêncio estratégico indicam que, até aqui, Hildon observa mais do que se movimenta, o que pode ser tanto prudência quanto hesitação em um cenário que exige decisões antecipadas.
No campo governista, a fragmentação é evidente. O vice-governador Sérgio Gonçalves saiu politicamente enfraquecido após o rompimento com o governador Marcos Rocha, que, por sua vez, evita antecipar movimentos eleitorais e concentra-se em preservar sua posição institucional. A eventual saída de Rocha para disputar o Senado abriria uma sucessão complexa e potencialmente conflituosa dentro do próprio grupo. Os bastidores indicam, no entanto, que o governador não pretende mais concorrer. E isso, por si, é mais uma pedra no sapato do vice, que automaticamente perderia a vitrine.
À esquerda, o quadro é ainda mais delicado. Confúcio Moura, principal liderança progressista do estado, enfrenta um momento de desgaste visível. Seu alinhamento explícito ao governo Lula, embora coerente com sua trajetória recente, encontra resistência em um eleitorado majoritariamente conservador. As pesquisas mostram desempenho modesto, rejeição elevada e dificuldade de tração. A alternância de postura — ora conciliadora, ora mais ideológica — contribui para a percepção de indefinição estratégica. Nesse contexto, cresce a avaliação de que, se o MDB não conseguir reorganizar seu discurso e suas alianças, o campo progressista pode acabar orbitando em torno de Samuel Costa. O advogado da Rede Sustentabilidade, ainda que com percentuais baixos, tem se afirmado como voz crítica da fragmentação da esquerda e pode emergir como nome viável caso Confúcio e outras lideranças tradicionais como o ex-prefeito Roberto Sobrinho, por exemplo, não encontrem convergência. Logo, Confúcio deve mesmo é tentar se reeleger.
Ao final de 2025, o retrato que se impõe é o de um estado politicamente aberto, sem candidatura dominante, com múltiplos projetos em disputa e um eleitorado atento, porém indeciso. As pesquisas indicam tendências, mas não sentenças. As alianças nacionais pesam, mas não definem sozinhas. E o passado político, embora ainda influente, já não garante vitórias automáticas.
O ano termina com Rondônia em ponto de inflexão. As peças estão no tabuleiro, mas o jogo ainda não começou de fato. Para o eleitor, resta observar menos as porcentagens momentâneas e mais a consistência dos projetos que, nos próximos meses, precisarão sair do campo da intenção e entrar no terreno concreto da viabilidade.



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