Publicada em 17/10/2025 às 08h47
O governo de Israel endureceu o tom contra o Hamas após o grupo palestino admitir que não conseguiu devolver todos os corpos de reféns israelenses mortos durante o conflito iniciado em 2023. Em pronunciamento nesta quinta-feira (16), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou estar “determinado a trazer de volta todos os reféns e vítimas”, classificando a devolução dos corpos como “um dever moral do Estado”.
O acordo de cessar-fogo, firmado entre as partes após mais de dois anos de confrontos, previa que o Hamas entregasse todos os reféns — vivos ou mortos — em até 72 horas. O prazo terminou na segunda-feira (13), mas apenas 20 reféns vivos e nove corpos foram repassados a Israel. Segundo o grupo, muitos corpos permanecem soterrados sob escombros ou em túneis destruídos por bombardeios israelenses.
Netanyahu discursou durante uma cerimônia no Monte Herzl, em Jerusalém, e afirmou que “ninguém será deixado para trás”. Enquanto cobra o cumprimento do acordo, Israel também devolveu 120 corpos de palestinos mortos nos confrontos.
A situação elevou a tensão política e militar. O ministro da Defesa, Israel Katz, advertiu que o país poderá retomar as operações militares em Gaza “com apoio dos Estados Unidos” se o Hamas não cumprir integralmente o pacto. O presidente americano Donald Trump, por sua vez, fez declarações agressivas ao ameaçar “eliminar” integrantes do grupo, responsabilizando-o por execuções recentes de civis palestinos.
A crise reacendeu pressões internas. O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos pediu a suspensão do acordo até que todos os corpos e reféns sejam localizados. Entre as famílias que receberam boas notícias está a de Silvia Cunio, argentina que vive em Israel e reencontrou os filhos Ariel e David após dois anos de cativeiro.
Na frente diplomática, a Turquia enviou 80 especialistas da Agência de Gestão de Desastres (Afad) para auxiliar nas buscas por corpos em Gaza. A primeira fase do acordo ainda prevê retirada parcial das tropas israelenses e o aumento da entrada de ajuda humanitária, enquanto a segunda etapa inclui negociações sobre o desarmamento do Hamas e a reabertura do posto de Rafah, na fronteira com o Egito, prevista para domingo (19).
A ONU e organizações internacionais alertam para a gravidade da crise humanitária. O Ministério da Saúde de Gaza, reconhecido pela ONU, estima mais de 67,9 mil mortos, a maioria civis. A OMS alerta que doenças infecciosas se espalham rapidamente, e o sistema IPC (Classificação Integrada de Segurança Alimentar) aponta que grande parte da população enfrenta fome aguda.
“Não temos água potável, comida nem abrigo”, disse Mustafa Mahram, um dos milhares de palestinos deslocados que tentam retornar a Gaza. “Só restam ruínas e corpos sob os prédios.”



Comentários
Seja o primeiro a comentar!