
Publicada em 02/05/2025 às 10h50
Uma declaração aparentemente neutra do senador Marcos Rogério (PL) pode ter revelado mais do que um simples diagnóstico político: ela sinaliza a construção de uma narrativa estratégica para as eleições de 2026 em Rondônia. Ao mencionar que o também senador Confúcio Moura (MDB) é uma figura capaz de aglutinar a esquerda, o centro e os eleitores anti-bolsonaristas, Rogério parece ter delimitado o campo adversário e dado início a um reposicionamento simbólico: nós contra eles.
O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a se movimentar no xadrez político de Rondônia. Em vídeo publicado recentemente nas redes sociais do pecuarista e pré-candidato do PL ao Senado Bruno Scheid, Bolsonaro não deixou dúvidas: o seu apoio nas eleições para o governo de Rondônia em 2026 será para Marcos Rogério.
O gesto político, ainda que simbólico, funciona como um sinal verde para que Rogério intensifique sua presença na disputa estadual, mesmo que publicamente ainda evite confirmar a candidatura. É também um recado claro ao eleitorado bolsonarista de Rondônia — que, vale lembrar, é um dos mais expressivos do país, como demonstraram os números das eleições de 2022, quando Bolsonaro superou Lula por ampla margem no Estado.
É nesse contexto que chama atenção um trecho específico da recente entrevista concedida por Marcos Rogério ao Painel Político. Ao analisar o cenário regional, o senador destaca Confúcio Moura como uma figura capaz de aglutinar a esquerda, o centro e o eleitorado anti-bolsonarista. A leitura política, embora objetiva, carrega um subtexto estratégico: ao vincular Confúcio a um espectro mais progressista, mesmo que sutilmente, Rogério pode estar reposicionando o adversário como representante do “outro lado” — o lado oposto ao bolsonarismo.
Rondônia, por sua natureza política recente, tende a ver a disputa eleitoral em termos binários. Em 2022, o voto conservador se consolidou de forma sólida em todo o Estado. Dificilmente esse cenário se inverterá em curto prazo. Nesse sentido, construir uma narrativa de "nós contra eles", ou melhor, "direita contra esquerda", pode ser a chave eleitoral para galvanizar uma base que já demonstrou fidelidade ao ex-presidente.
Ao enaltecer a capacidade de Confúcio de dialogar com setores fora do espectro ideológico da direita, Rogério parece lançar luz sobre a necessidade de o eleitorado conservador se manter unido em torno de um projeto que ele próprio representa — com respaldo de Bolsonaro. A estratégia de confrontar ideologicamente os campos não é nova, mas em Rondônia ela pode ter efeito multiplicador, já que boa parte da população mantém preferência consolidada por candidaturas alinhadas à direita.
Rogério, ao que tudo indica, prefere não correr riscos desnecessários, mantendo a cautela em relação à própria candidatura, mas deixando pistas. Com o aval do maior nome da direita nacional e o cuidado de posicionar adversários com um viés ideológico claro, o senador constrói aos poucos um cenário polarizado onde ele já surge como o protagonista preferido do eleitorado de direita.
Resta saber se essa estratégia será suficiente para vencer uma eleição que, apesar de polarizada, ainda pode surpreender. Em um jogo tão antecipado, o "nós contra eles" garantirá o mesmo efeito de outrora?