
Publicada em 17/05/2025 às 09h46
A movimentação em Brasília para a criação de uma nova 'superfederação' partidária envolvendo MDB e Republicanos promete repercussões profundas no cenário político nacional — e em especial no xadrez local de Rondônia com vistas às eleições de 2026.
Com números expressivos, a federação nasceria com 5 governadores, 15 senadores, 87 deputados federais e mais de 1.300 prefeitos. Ficaria atrás apenas do PL e da já concretizada União Progressista, que uniu União Brasil e Progressistas. A aliança, contudo, levanta uma questão incômoda: como harmonizar interesses e ideologias de partidos historicamente distintos, sobretudo em estados como Rondônia, onde os protagonistas locais já demonstram caminhos diferentes?
De um lado está o senador Confúcio Moura, recentemente alçado à presidência do MDB em Rondônia. Único integrante da bancada federal rondoniense com proximidade real com o governo Lula, Confúcio tem defendido pautas mais próximas ao campo progressista e se consolidado como uma voz moderada, dialogando com setores de centro e centro-esquerda. É apontado, inclusive, como um possível nome competitivo ao governo do Estado em 2026, especialmente num cenário de fragmentação da direita e de desgaste do bolsonarismo.
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Do outro lado está o Republicanos, partido comandado no estado por Aparício Carvalho, patriarca da família Carvalho, que inclui os irmãos Mariana e Maurício, ambos no União Brasil. O Republicanos é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, presidido nacionalmente pelo bispo Marcos Pereira. Atualmente, comanda também a presidência da Câmara dos Deputados, ocupada por Hugo Motta (PB), o que revela sua força institucional e articulação no centro do poder.
Além da sua capilaridade, o Republicanos se tornou protagonista de um debate estratégico para a direita nacional. Sua principal estrela é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro. Com o ex-presidente inelegível, Tarcísio passou a ser considerado por muitos aliados bolsonaristas como o "plano B" para a disputa presidencial de 2026 — uma alternativa viável para manter o projeto político da direita no poder, caso Bolsonaro não consiga recuperar seus direitos políticos.
Se confirmada, essa federação significará, na prática, uma convivência delicada entre projetos políticos de orientações distintas. No caso de Rondônia, essa diferença se expressa nas trajetórias de Confúcio Moura e do deputado federal Lúcio Mosquini, que possuem visões ideológicas contrastantes. Mosquini, alinhado ao bolsonarismo, já manifestou desconforto com os rumos atuais do MDB e sinalizou sua saída da sigla. Com Confúcio à frente da legenda e a possibilidade de aliança com o Republicanos — partido também identificado com pautas conservadoras —, o cenário exige um equilíbrio cuidadoso entre interesses diversos.
O jornalista Carlos Sperança revelou, em sua coluna, que no acordo inicial da nova federação, Rondônia ficaria sob o comando do MDB liderado por Confúcio Moura. Ou seja, o senador teria carta branca para conduzir o projeto local da federação — o que pode incluir, inclusive, sua própria candidatura ao Palácio Rio Madeira.
É aí que o dilema ganha contornos mais complexos. Como Confúcio, uma figura que prega a ponderação, a escuta e o diálogo institucional com o governo federal, lidará com a associação direta a uma legenda que é, hoje, uma das principais vitrines da direita bolsonarista no país? Aceitará ser o rosto de uma coalizão que, em nível nacional, pode desembarcar do governo Lula para apoiar uma eventual candidatura de Tarcísio?
A federação MDB/Republicanos, caso avance, será um teste de coerência e habilidade política para Confúcio Moura. Ele terá que decidir entre duas rotas: ou tenta liderar um arranjo pragmático, assumindo o risco de desgaste com o eleitorado progressista e com o governo federal, ou resiste à federação e assume o ônus de isolar o MDB em um momento em que o partido nacionalmente busca sobrevivência com alianças amplas.
Para Rondônia, a decisão de Confúcio terá implicações diretas no jogo eleitoral de 2026. Em um estado com polarização acentuada, onde os campos da direita e da esquerda seguem em constante atrito, o senador pode ser — como alguns apontam — o único nome com capacidade real de formar uma frente democrática e plural, agregando setores hoje órfãos de representatividade, especialmente os que não se sentem contemplados nem pelo lulismo puro nem pelo bolsonarismo radical.
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Resta saber se essa costura será possível dentro de uma federação que reúne um MDB oficialmente de centro, mas historicamente flexível em suas alianças, com um Republicanos de perfil conservador e alinhado à centro-direita. Ou se, mais uma vez, a lógica das cúpulas nacionais vai se sobrepor às realidades e dinâmicas locais.