Publicada em 08/12/2025 às 09h31
A rejeição aos brasileiros está crescendo em Portugal: 51% dos portugueses acreditam que o número de imigrantes vindos do Brasil no país deveria ser reduzido, de acordo com uma pesquisa da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Os dados foram publicados pelo jornal "El País" neste domingo (7). De acordo com a reportagem, além de formarem a maior comunidade de estrangeiros em Portugal - são 31,4% de 1,5 milhão dos residentes -, os brasileiros também são os que mais sofrem rejeição ou, ao menos, os que mais a combatem: foram deles 34% das denúncias que chegaram à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial do governo em 2022.
'Vá pra sua terra', 'Não quero escutar sua língua': brasileiras vítimas de xenofobia na Europa expõem crime nas redes.
Foi no mesmo ano, inclusive, que a comissão apresentou seu último relatório anual, que apontou um aumento de 142% nas queixas de discriminação e xenofobia no país desde 2018.
Os números apresentados pelo "El País" corroboram vários relatos de discriminação que ganharam a atenção pública nos últimos tempos.
Em setembro, um caso de ameaça de morte chocou: o português João Paulo Silva Oliveira, um padeiro de 56 anos da cidade de Aveiro, prometeu uma recompensa de 500 euros pela 'cabeça' de brasileiros em um vídeo postado nas redes sociais. Agora, após ser denunciado ao Ministério Público português, ele responde na Justiça por apologia da violência e incitação ao assassinato.
No final de outubro, pela primeira vez no país, um homem indiciado por ameaças e discurso de ódio teve a prisão preventiva decretada pelo crime. Bruno Silva, de 30 anos, foi para a cadeia após oferecer 100 mil euros pela morte da jornalista brasileira Stefanie Costa.
Jornalista brasileira Amanda Lima, retratada como macaca, em montagem feita por ativista de extrema direita de Portugal — Foto: X / Reprodução
Outra jornalista do Brasil que trabalha em Portugal, Amanda Lima, também era alvo constante de ataques do mesmo homem e lamenta:
"Existe um preconceito criado pelo estereótipo de que a brasileira é uma mulher fácil. E isso todas nós percebemos em diferentes âmbitos, como na busca por casa ou emprego. (...) Não vejo esse tipo de xenofobia contra quem vem de outros países de língua portuguesa. A nós dizem que não sabemos falar português e esse racismo tem a ver com um sentimento nacionalista português que teme o avanço de um país maior como o Brasil".
Em suas postagens nas redes, Bruno era defensor do partido de extrema direita português, o Chega, que tem as políticas anti-imigração como uma de suas principais bandeiras.
Na opinião de Ana Paula Costa, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, associação fundada em 1992 para trabalhar em favor da integração de imigrantes, o discurso promovido pelo fundador do partido, André Ventura em debates, na TV e em cartazes pela rua tem contribuído para o crescimento da xenofobia no país.
"A guinada política faz pensar que todos os imigrantes são delinquentes e incendeia as relações com essa lógica de separação entre nós e eles. Além de criar um ambiente muito tóxico, é injusto porque a maioria dos imigrantes contribui para a construção do país", afirma.



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