Publicada em 19/07/2025 às 10h23
Porto Velho, RO – Em 18 de julho de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre elas o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno, proibição de uso de redes sociais e contato com aliados. A reação da maioria da bancada federal de Rondônia foi imediata — e uníssona: ataques ao Judiciário, defesa irrestrita de Bolsonaro e silêncio sobre os elementos mais sensíveis da crise.
O senador Marcos Rogério (PL-RO), por exemplo, gravou vídeo denunciando uma suposta “perseguição judicial travestida de decisão técnica”. Disse ainda que não há evidências que sustentem as medidas e acusou o STF de tentar “humilhar, desgastar, impedir e desmoralizar um adversário político”. Rogério, que hoje ergue a voz em nome da liberdade, é o mesmo que ajudou a enterrar a CPI da Lava Toga em 10 de abril de 2019, ao lado de Renan Calheiros, quando votou pelo arquivamento da proposta na Comissão de Constituição e Justiça. À época, classificou a investigação como uma “intromissão indevida de um poder sobre outro” — postura que lhe rendeu o título de “coveiro da Lava Toga”, aplicado, editorialmente, pelo Rondônia Dinâmica.
No plenário do Senado, Jaime Bagattoli (PL-RO) foi ainda mais incisivo. Chamou Alexandre de Moraes de “rei da Toga”, afirmou que tudo o que é aprovado no Congresso “vai ser anulado pelo Supremo” e ironizou: “Vamos todo mundo pra casa. Não há necessidade de votar nada aqui”. No entanto, o tom inflamado do discurso contrasta com sua recente trajetória política. Em novembro de 2023, Bagattoli perdeu o comando do diretório estadual do PL para o próprio Rogério e admitiu: “Eu não tenho forças para fazer”. Depois de buscar apoio pessoal com Bolsonaro e não conseguir reverter a decisão, o senador se rendeu. Hoje, seus discursos contra o STF soam como “choro de pinscher”, sem efeito prático.
Na Câmara, o tom foi o mesmo. O deputado federal Fernando Máximo (União Brasil) defendeu o “devido processo legal”, enquanto Thiago Flores (Republicanos) publicou story com a expressão “abuso de poder” e a hashtag #DitaduraDaToga. Lúcio Mosquini (MDB) falou em “perseguição política”, e Cristiane Lopes (União Brasil) alertou para o “autoritarismo que fere garantias individuais”. Já o líder da bancada, Maurício Carvalho (União Brasil), publicou que “Bolsonaro foi alvo de medidas abusivas” e classificou o momento como “inaceitável para um Estado de Direito”.
O deputado Coronel Chrisóstomo (PL) foi além: exaltou o golpe de 1964, afirmou ter se orgulhado das Forças Armadas naquele período e apelou para que elas ajam “em favor do povo”. As declarações geraram desconforto e questionamentos durante coletiva no Senado, da qual participaram outras lideranças da oposição.
Apesar de toda essa movimentação em torno de Bolsonaro, os mesmos parlamentares permanecem calados sobre outro fato com repercussões profundas: a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. O filho do ex-presidente, de acordo com reportagens internacionais e manifestações de congressistas aliados a Donald Trump, tem liderado uma articulação para condicionar a retirada das tarifas americanas ao arquivamento de ações contra o pai no Brasil. A taxação de 50%, anunciada em 12 de julho por Trump, começa a valer em 1º de agosto e foi oficialmente justificada pela "perseguição judicial" contra Bolsonaro — numa tentativa clara de pressão sobre o Judiciário brasileiro.
O episódio representa uma escalada inédita no que já deveria se classificar na diplomacia como terrorismo geopolítico, com Eduardo transformando interesses comerciais da nação em moeda de troca para garantir a liberdade do pai e de outros investigados pelos atos de 8 de janeiro. Nenhum dos representantes de Rondônia se manifestou sobre isso até agora.
O silêncio da bancada também se estende ao próprio tarifaço. Embora o senador Confúcio Moura (MDB) tenha criticado publicamente a medida — dizendo que a sobretaxa vai “encarecer carne, café, milho e pesar no bolso do agro” —, os demais preferiram omitir-se. Marcos Rogério, que se apressa a defender Bolsonaro, não mencionou Trump nem os impactos no agronegócio. Chrisóstomo, por sua vez, chegou a exaltar os Estados Unidos em discurso anterior e chamou o presidente Lula de “garnisésinho” diante do “galo” Trump.
O governador Marcos Rocha (União Brasil) afirmou à CNN Brasil que apenas 5% das exportações de Rondônia vão para os EUA. No entanto, entidades do setor, como a CNI e a Abiec, alertam que os reflexos da medida serão sentidos em todo o país. Ainda assim, os deputados e senadores que se dizem defensores do agro não deram um pio.
A omissão diante da chantagem internacional liderada por Eduardo Bolsonaro e da agressão econômica norte-americana revela as prioridades de uma bancada que escolhe seus alvos conforme a conveniência. Defender o Brasil parece estar abaixo da defesa de um nome. E Rondônia permanece hoje sob a sombra de um silêncio cúmplice.



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