Publicada em 30/11/2024 às 09h35
Porto Velho, RO – Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apela por uma anistia ampla para pacificar o país, o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO) adotou um caminho oposto, apesar de pedir o mesmo, reacendendo divisões ideológicas ao trazer de volta alegações falsas sobre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Durante a 211ª Sessão Deliberativa Extraordinária da 57ª Legislatura, realizada na quarta-feira (27), Chrisóstomo usou seu espaço na tribuna para associar Dilma a ações violentas da ditadura militar, apesar de essas narrativas já terem sido amplamente desmentidas por investigações históricas e veículos de imprensa confiáveis.
LEIA TAMBÉM:
Bolsonaro liderou tentativa de golpe de Estado e sabia de plano para matar Lula, diz PF
Bolsonaro faz apelo a Lula e Moraes por anistia: 'Alguém tem que ceder'
É falso que Dilma tenha participado de atentado que matou soldado Mario Kozel Filho
Chrisóstomo não mencionou diretamente o caso do soldado Mário Kozel Filho, morto em 1968 em um ataque realizado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). No entanto, as acusações genéricas feitas pelo parlamentar ecoam um discurso amplamente propagado por aliados bolsonaristas, incluindo o próprio Bolsonaro, que tentou vincular Dilma ao atentado em 2019. Investigações realizadas pelo jornal Estadão em 2020 comprovaram que Dilma não fazia parte do grupo responsável pelo ataque e que não há registros de sua participação em ações armadas durante o período da ditadura.
Mesmo com essas evidências, Chrisóstomo afirmou: “Ela assassinou um soldado do Exército na frente do quartel junto a outros”, reacendendo uma narrativa que fomenta polarização e desacredita a busca por reconciliação política.
Inclusive, há três anos, a 4ª Vara Cível de Brasília condenou uma usuária do Instagram a pagar R$ 30 mil de danos morais à ex-presidente Dilma Rousseff por divulgar uma notícia falsa, acusando-a de envolvimento no homicídio do soldado Mário Kozel Filho, ocorrido há décadas. A publicação, que também a envolvia em outros crimes como roubo e formação de quadrilha, foi desmentida por veículos de mídia, como a Agência Lupa e o Jornal Estadão, além de ser desmentida pelo Exército. A ré, que não se manifestou no processo, foi considerada responsável por violar a honra e a imagem de Dilma, extrapolando os limites da liberdade de expressão ao propagar informações falsas de forma sensacionalista
E AINDA:
Usuária de rede social deve indenizar ex-Presidente da República por publicação de notícia falsa.
Enquanto Chrisóstomo elevava o tom do debate, Jair Bolsonaro assumiu um discurso oposto em uma entrevista à Revista Oeste. O ex-presidente apelou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que considerassem uma anistia ampla, incluindo os investigados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. “Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal, por favor, repensem, vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado”, disse Bolsonaro, enfatizando a necessidade de "zerar o jogo daqui para frente" para que o país avance.
A postura de Bolsonaro reflete uma tentativa de suavizar sua posição política em meio a investigações que o colocam no centro de uma suposta tentativa de golpe. Relatórios da Polícia Federal indicam que o ex-presidente liderava uma organização criminosa voltada à desestabilização do Estado Democrático de Direito e que o plano só não se concretizou por "circunstâncias alheias à vontade" dos envolvidos.
O contraste entre o discurso de pacificação de Bolsonaro e a retórica incendiária de Chrisóstomo expõe contradições no campo político da direita. Enquanto Bolsonaro busca construir uma narrativa de reconciliação, inclusive apelando "por favor" ao STF, o deputado rondoniense joga “gasolina” sobre as tensões ideológicas, recuperando desinformações desmentidas e reabrindo feridas que dificultam qualquer possibilidade de promoção da paz.
O discurso de Chrisóstomo não apenas desvia o foco da necessidade de pacificação como também reforça a polarização política que marcou os últimos anos. Ao reacender uma acusação falsa contra Dilma, o parlamentar cria um obstáculo adicional para que as instituições e a sociedade avancem rumo à estabilidade.
Se o objetivo de Bolsonaro é "zerar o jogo" e promover a reconciliação, a atuação de aliados como Chrisóstomo indica que a unidade dentro de seu próprio campo político ainda está longe de ser alcançada. Em vez de promover um discurso de conciliação, o deputado de Rondônia escolheu aprofundar divisões, afastando qualquer chance de que o país encontre o caminho para a pacificação verdadeira.