Publicada em 29/04/2022 às 10h20
Mais de 3.000 migrantes morreram no mar em 2021 quando tentavam chegar ao continente europeu, o dobro do número registrado no ano anterior, informou a ONU nesta sexta-feira (29).
"Do total, 1.924 pessoas foram declaradas mortas ou desaparecidas nas rotas do Mediterrâneo central e ocidental, enquanto outras 1.153 morreram ou desapareceram na rota marítima do noroeste da África para as ilhas Canárias", declarou Shabia Mantoo, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Em 2020 foram registradas 1.544 mortes nas duas rotas.
"É alarmante que, desde o início do ano, outras 478 pessoas morreram ou desapareceram no mar", afirmou Mantoo.
A organização pede aos governos que desenvolvam "alternativas" para que os refugiados e migrantes não precisem embarcar em viagens que os deixem à mercê dos traficantes ou que coloquem suas vidas em risco.
De acordo com o ACNUR, a pandemia de covid-19 e o fechamento das fronteiras tiveram um impacto sobre os fluxos migratórios, pois muitos refugiados e migrantes recorreram a traficantes para tentar chegar à Europa.
Em um relatório publicado nesta sexta-feira, o ACNUR indica que 53.323 pessoas chegaram à Italia por mar no ano passado, 83% a mais que em 2020. Além disso, 23.042 pessoas chegaram às ilhas Canárias, quase o mesmo número que em 2020.
Também houve um aumento de 61% nas saídas por mar da Tunísia no ano passado em comparação com 2020 e um aumento de 150% da Líbia. Já as saídas da Argélia aumentaram pouco (+3%).
A maioria das travessias marítimas é feita a bordo de botes infláveis superlotados e em péssimo estado de conservação. Muitas embarcações desinflam ou viram, o que provoca a morte dos passageiros.
- Violação dos direitos humanos -
"A viagem no mar a partir dos Estados costeiros do oeste da África, como Senegal e Mauritânia, para as ilhas Canárias, é longa e perigosa e pode durar até 10 dias", destacou a porta-voz do ACNUR em Genebra.
"Muitas embarcações ficaram à deriva ou desapareceram sem deixar rastros", acrescentou.
O Mediterrâneo central é a rota migratória mais mortal do mundo. Desde 2014, o projeto Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações (OIM) documentou 17.000 mortos e desaparecidos nesse trajeto.
Por outro lado, o ACNUR manifestou que as travessias terrestres também são perigosas para os migrantes e calcula que muito mais pessoas podem ter morrido em terra do que no mar, ao cruzarem o deserto do Saara ou serem mantidas em cativeiro por traficantes e contrabandistas.
Mantoo insiste que os migrantes enfrentam não só a morte, mas também muitas violações dos direitos humanos: execuções extrajudiciais, detenções ilegais e arbitrárias, violências sexuais, trabalho forçado, escravidão, casamento forçado...
Devido à publicação de suas estatísticas, o ACNUR solicitou 163,5 milhões de dólares para ajudar e proteger milhares de refugiados e outras pessoas que tentam chegar à Europa através das perigosas rotas marítimas do Mediterrâneo central e ocidental e do Atlântico.
Segundo o ACNUR, a instabilidade política, os conflitos, a deterioração das condições socioeconômicas e a mudança climática são fatores que poderiam provocar um aumento da migração para a Europa nos próximos anos.
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