Publicada em 16/04/2025 às 09h17
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO) é uma das instituições apoiadoras na apresentação do Professor do Campus Ji-Paraná, Miguel Brunet, em evento na Alemanha. Fruto de parte de sua pesquisa de doutorado “Gerações Sociais e Trajetórias de Classe no Século 21”, o trabalho integrou a programação da Conferência Conjunta das Seções Desigualdade e Estratificação Social e Políticas Públicas da Associação Alemã de Sociologia (DGS), que teve como tema “Social Policy and Inequality in the Polycrisis”.
A apresentação foi na Universität Bamberg, no dia 24 de março, intitulada “Future expectations as markers os social class: Analysis of Brazilian and German public opinion during the COVID-19 pandemic”. E demonstrou a correlação entre classes sociais e expectativas de futuro, comparando o Brasil com a Alemanha. Segundo o docente, esta foi uma forma de divulgar a pesquisa realizada no IFRO na Alemanha, país em que se realiza pesquisa científica com alto rigor e qualidade. “É importante destacar que a pesquisa é realizada com o apoio do IFRO, da UFRJ, da EUF e do DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico)”, completa.
A pesquisa comparou as expectativas pessoais sobre o futuro com as expectativas sobre o futuro do país, para analisar a associação/dissociação entre as expectativas pessoais e coletivas sobre o futuro durante o período de crise social causada pela pandemia da Covid-19, revelando uma nuance de percepções que diferiam de acordo com o país e os estratos sociais.
O objetivo era entender como a situação anômica da pandemia foi interpretada por diferentes estratos sociais e como isso evidencia as condições de vida desiguais desse período, comparando uma economia emergente e uma pós-industrial, o que permitiu observar a diversidade dos fenômenos em estudo por meio da variação na forma como eles se comportam nesses diferentes contextos.
A pesquisa foi baseada nos bancos de dados Datafolha para o Brasil e ALLBUS para a Alemanha, ambos de 2021, quando a pandemia de Covid-19 estava ocorrendo. A técnica de Análise de Correspondência Múltipla foi usada para construir um espaço social para cada sociedade e uma técnica de agrupamento foi realizada para identificar os padrões de estratificação social.
Miguel Brunet explica que os resultados mostram um padrão vertical de distinção em cinco clusters em ambos os países, destacando o pessimismo dos estratos de capital mais baixos e o otimismo dos estratos dominantes. Esses também diferem: no Brasil, os estratos de alto capital apresentaram um otimismo dissociativo, ou seja, acreditam que seu futuro pessoal será melhor que o futuro do país, diferentemente das classes superiores alemãs, que apresentara um futuro associativo, ou seja, creem que tanto seu futuro quanto o futuro do país serão melhores. Por outro lado, os estratos de baixo capital evidenciaram mais pessimismo em relação aos futuros pessoal e coletivo.
Segundo o docente, também foi possível observar diferenças específicas entre os países: os alemães foram mais otimistas em relação ao seu futuro do que os brasileiros, o que reflete diretamente as diferenças nos quadros institucionais relacionados ao estado de bem-estar social. “Os participantes do evento foram pesquisadores de doutorado e pós-doutorado, bem como professores de diferentes universidades da Alemanha”, completa, informando sobre o público participante do encontro na instituição alemã.
Afastado para realização do curso de pós-graduação stricto sensu desde o segundo semestre de 2023, conforme Edital nº 05/2023, da Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação (Propesp/IFRO), o docente pesquisa o tema “Gerações Sociais e Trajetórias de Classe no Século 21”. O estudo para tese de doutorado é conduzido pelo Professor Miguel Brunet, sob orientação da Profa. Dra. Celi Scalon (UFRJ) e do Prof. PhD Florian Hertel (EUF), por meio de uma parceria binacional entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Europa-Universität Flensburg (EUF).
DGS
A Conferência Conjunta das Seções Desigualdade e Estratificação Social e Políticas Públicas da Associação Alemã de Sociologia ocorreu na Universidade de Bamberg (Otto-Friedrich-Universität Bamberg), na cidade de Bamberg, localizada na região da Bavária, no Sul da Alemanha, entre os dias 24 e 26 de março de 2025.
O evento teve como objetivo discutir a política social frente às múltiplas crises que desafiam a estabilidade das sociedades modernas, a crescente desigualdade, os efeitos dos conflitos internacionais, a crise climática, o envelhecimento demográfico e a migração, que geram desafios os quais exigem respostas urgentes e sustentáveis. As perguntas que nortearam o evento foram: como os Estados de bem-estar social devem se adaptar a esse cenário em transformação? Quais são as implicações das reformas atuais para a percepção dos cidadãos sobre a desigualdade?
A Conferência promoveu a reflexão sobre o papel da política social em tempos de policrise, abordando como as respostas governamentais moldam as estruturas sociais e a coesão democrática. Com uma perspectiva interdisciplinar, buscou-se gerar um diálogo sobre a dinâmica da desigualdade e suas consequências a longo prazo. Foi um espaço de intercâmbio e análise, com foco no futuro do bem-estar social em tempos de incerteza.
Segundo os organizadores Corinna Kleinert, Katja Möhring e Andreas Weiland: “gostaríamos de estender nossa gratidão a todos os apresentadores, coordenadores de sessão e participantes de nossa conferência Política Social e Desigualdade na Policrise! Aprendemos muito e foi muito divertido!”.
Na avaliação do Professor Miguel Brunet, “a Conferência foi muito proveitosa, pois pude ter maior contato com pesquisas de outros professores e pesquisadores da área. É muito bom dialogar com outros pesquisadores sobre a pesquisa que desenvolvo na Alemanha, pois outros pontos de vista nos auxiliam a sermos mais precisos em nossas análises. E me surpreendi positivamente com o rigor e a organização das pesquisas científicas apresentadas, que serviram de exemplo e de inspiração para continuar realizando pesquisas científicas no Brasil”.
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