Publicada em 30/04/2025 às 10h52
Com a Faixa de Gaza devastada pela guerra, milhares de pessoas, inclusive crianças, vão todos os dias às cozinhas solidárias montadas pelo território na esperança de conseguir comida para suas famílias.
No entanto, com quase dois meses de bloqueio da entrada de ajuda humanitária no território, muitas delas vêm fechando e nas que seguem funcionando as filas para conseguir alguma comida são cada vez maiores.
Nesta quarta-feira (30), no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do enclave, o cenário era de caos. Homens, mulheres e crianças, com panelas, vasilhas e até latas nas mãos, tentavam levar qualquer alimento.
Yusef al-Najar, de 10 anos, um dos que estavam entre a multidão, falou à agência de notícias AFP:
"As pessoas se empurram com medo de perder a vez. Crianças pequenas caem. Às vezes, no meio do caos, a panela escorrega das minhas mãos e a comida se espalha pelo chão. Volto para casa de mãos vazias... e essa dor é pior que a fome", conta ele, que perdeu o pai na guerra e agora é o responsável pela mãe e a irmã.
Os suprimentos estão cada vez mais escassos. Na sexta-feira (25), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, um dos principais fornecedores de ajuda alimentar em Gaza, disse que enviou suas "últimas reservas de alimentos" para as cozinhas solidárias.
Amjad Shawa, diretor da Rede de ONGs Palestinas (PNGO) em Gaza, afirma que as cerca de 80 cozinhas ainda ativas no enclave devem fechar suas portas em quatro ou cinco dias.
Diante da escassez de farinha, do fechamento das padarias e do aumento dos preços dos alimentos básicos, esses lugares se tornaram a única fonte de alimento para dezenas de milhares de moradores de Gaza.
Aida Abu Rayala, de 42 anos, que teve a casa destruída por um bombardeio e agora vive com a família em uma barraca improvisada, conta que já voltou para casa de mãos vazias após mais de três horas de espera para conseguir comida.
"Voltei para casa de mãos vazias. Meus filhos choraram (...) e naquele momento, desejei morrer para não vê-los passar fome novamente. Não tem farinha, não tem pão, não tenho como alimentar meus filhos. Passamos horas em pé, sob o sol escaldante e, às vezes, no frio congelante", lamenta.
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