Publicada em 24/07/2025 às 14h31
Porto Velho, RO – A vereadora Sofia Andrade (PL) voltou a ocupar o centro do debate político local ao aparecer em vídeo atacando uma faixa colocada em espaço público que, segundo ela, promovia o comunismo. O episódio reacendeu a discussão sobre a contradição entre os discursos da parlamentar em defesa da liberdade e suas práticas reiteradas de intolerância com manifestações ideológicas diferentes das suas.
No registro, publicado pela própria vereadora em suas redes sociais, Sofia aparece afirmando: “Mais de 100 milhões de mortes. Era isso que a maldita faixa que tinha aqui vangloriava”. Em outro trecho, completa: “Viemos para retirar essa faixa, que já não estava mais lá e se estivesse, iríamos sim jogar no lixo, que é o único lugar que ela merece!”. Segundo ela, o ato se justificava pela necessidade de impedir a “romantização” de regimes comunistas.
O gesto se soma a uma sequência de episódios recentes envolvendo membros da atual legislatura da Câmara Municipal de Porto Velho. Um dos mais emblemáticos é o caso das bonecas “reborn”, em que o vereador Dr. Breno Mendes (Avante), com apoio de parlamentares como a própria Sofia Andrade, aprovou um projeto de lei que proíbe o uso de recursos públicos para atendimento a objetos inanimados. A proposta, que também prevê avaliação psiquiátrica para quem solicitar serviços voltados a bonecas, foi aprovada por 17 dos 23 vereadores.
Na ocasião, o projeto ganhou destaque nacional por sua excentricidade. Editorial do site Rondônia Dinâmica apontou a falta de dados concretos que justificassem a medida, classificando-a como parte de uma “onda nacional” de legislações inspiradas por vídeos virais e pânicos digitais. “É como instalar um semáforo no meio do deserto para evitar colisão entre camelos invisíveis”, disse o texto.
Agora, com o caso da faixa, repete-se a dinâmica: situações de pouca relevância prática, associadas a simbolismos ideológicos, transformam-se em palco para ações performáticas. A vereadora, que frequentemente se apresenta como defensora da liberdade, utiliza os mesmos mecanismos que critica para silenciar ideias divergentes. O padrão já é reconhecível. Em vez de combater leis ou narrativas por meio do debate, opta por ações unilaterais, como a tentativa de remover símbolos que não correspondem ao seu posicionamento político.
Ao comentar o episódio, Sofia Andrade afirmou: “Rondônia é de direita e Rondônia não aceita que fiquem colocando faixa exaltando o comunismo”. E acrescentou: “Simplesmente dê um Google e veja a realidade do mal que o comunismo pode fazer”. Embora se posicione contra regimes autoritários, sua atitude, ao tentar eliminar manifestações públicas com base em conteúdo ideológico, resvala justamente nos métodos que diz combater.
A atuação legislativa municipal, nesses casos, tem se revelado cada vez mais suscetível a temas efêmeros que ganham projeção nas redes sociais. Sejam bonecas ou faixas, o critério de relevância parece pautado pela viralização, e não pelas reais necessidades da população. Enquanto isso, problemas como a ausência de CAPS infantis, o déficit na regulação da saúde pública, a precariedade do transporte urbano e o déficit em saneamento básico permanecem fora da agenda prioritária.
No caso do Fiscal de Boneca, a justificativa legal foi baseada em relatos não comprovados e inspirada em conteúdo de internet. Agora, com a Inspetora de Faixa, o combate simbólico ao comunismo se sobrepõe ao princípio constitucional da liberdade de expressão. Em ambos, o resultado é o mesmo: energia institucional desviada para o enfrentamento de inimigos imaginários.
Porto Velho parece fadada a acompanhar uma legislatura mais preocupada com os fantasmas ideológicos do que com os dados objetivos da realidade. E, paradoxalmente, quem mais grita por liberdade é quem primeiro tenta calar.
Comentários
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INACIO AZEVEDO DA SILVA 25/07/2025 - 08:08Apenas querendo ser notícia. “A liberdade de organização política e a democracia são conceitos interligados e cruciais para o funcionamento de um sistema político justo e representativo. A liberdade de organização política, que inclui a liberdade de associação, reunião e expressão, permite que os cidadãos se organizem em partidos, grupos de interesse e movimentos sociais para influenciar o processo político e defender seus interesses.” Querer taxas Porto Velho de uma cidade apenas “de direita”, que não aceita a convivência de outras vertentes políticas, e afirmar que tiraria uma faixa do Partido Comunista, é um afronte a liberdade de organização, que a parlamentar sabe muito bem ou deveria saber. No Brasil, entre as organizações proibidas está a “apologia ao nazismo” que além dos 11 milhões de judeus que assassinou em seus campos de concentrações, usava lema “Deus, Pátria e Família”, justamente o lema que o partido da vereadora usou nos últimos processos eleitorais. De quem é a culpa de Porto Velho ter representantes desse nível? Respondo: dos 3.359 votos que a elegeram vereadora na capital, cuja campanha foi feita com o discurso de combater a corrupção, mas tem umas gravações de reunião com o executivo que foram noticiadas, que não deixa dúvidas que o combate a corrupção foi “deixado de lado” (https://tribunapopular.com.br/coluna-ponto-critico-cai-a-mascara-do-falso-moralismo-dos-vereadores-de-porto-velho/); ou o combate a liberdade de religião ao expor autora de literatura afro-brasileira (https://www.rondoniadinamica.com/noticias/2025/03/vereadora-de-porto-velho-expoe-autora-de-literatura-afro-brasileira-e-divide-opinioes-nas-redes-sociais,213673.shtml); Ou ainda exigir que ao pais sejam consultados previamente sobre eventuais atividades religiosas nas escolas, como se a escolas não pudessem ser um local de diversidades religiosas asseguradas pela Constituição Federal. E por ai vai. Cada vez demonstrando para que realmente queria ser eleita. Em tempo: não vi nenhuma ação quanto a qualidade dos serviços de setores como saúde, educação, saneamento, transporte escolar, estradas vicinais e etc.



Rapaz, quando penso que a gente elege pior tipo de parlamentar, vem a atual legislatura da Câmara Municipal de Porto Velho, com atuações e propostas esdrúxulas. Que tipo de relevância isso tem para a população do nosso município? Aff!