EDITORIAL

Histórico do ex-deputado de Rondônia Eyder Brasil deve ensinar lição a Chrisóstomo sobre a ‘‘Síndrome do Fiscal de Banheiro’’

Porto Velho, RO – Em 2018, além do próprio Jair Bolsonaro, à época ainda no PSL, hoje União Brasil, surgiram para a política brasileira diversos nomes até então desconhecidos, especialmente do seio militar, como, regionalmente falando, os deputados Eyder Brasil, estadual, e Coronel Chrisóstomo, federal.

Os dois excursionaram ideologicamente pelo espectro mais à direita no tabuleiro; lado outro, apesar dos discursos ferrenhos e das gesticulações sempre veementes, a dupla se distanciou quando o assunto tinha a ver com a prática.

Brasil fez escolhas na vida privada – que não nos diz respeito –, destoando dos pronunciamentos como candidato, antes de alçado ao Poder, e também na condição de autoridade constituída pelo voto. Além, disso, procurou manter o foco nas palavras ao vento, buscando sempre afagar a “bolha” com pautas segmentadas.

O primeiro termômetro foi brutal com ele. Em 2020, quando concorreu à Prefeitura de Porto Velho, o militar foi à bancarrota logo no primeiro turno, encerrando sua participação em sétimo lugar, com apenas 5.620 votos. E é preciso levar em conta que o ex-deputado recebeu só do PSL mais de R$ 840 mil em dinheiro público para gastar na campanha, embora tenha dispendido mais que isso, ultrapassando R$ 1 milhão em despesas contratadas.

Parte disso ocorreu porque a população detectou essas movimentações dissonantes  entre o que era dito e a cota empírica. Ou seja, a sociedade avaliou o quanto daquela conversa virou ação de fato.

Isto sem contar os ataques deliberados e a raiva incrustada no discurso.

Quando lançou sua campanha à reeleição, “apostou” na mesmice, deixou de se reciclar como político, e lançou publicidade eleitoral esdrúxula “combatendo” o tal banheiro unissex.

E foi assim que Eyder se despediu do mandato: com a imagem de fiscal de banheiro, por escolha própria, trilhando caminhos errados. Esta não é somente uma opinião do Rondônia Dinâmica: Brasil passou por dois “referendos”, afinal, e tanto em 2020 quanto em 2022 disseram não a ele. Lamentavelmente.


Ex-deputado apostou suas fichas em pautas ideológicas e perdeu em 2020 e em 2022 / Reprodução

A única semente “significativa” que plantou também acabou de ser dizimada pelo Supremo (STF). A Suprema Corte formou maioria a derrubou a lei de sua autoria que proibia o uso da “linguagem neutra” em escolas de Rondônia.

Ainda que com ressalvas, até Nunes Marques, o membro do Pretório Excelso escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, se posicionou para fulminar a norma concebida pelo antigo representante da Assembleia (ALE/RO).

De acordo com a Agência Brasil, Nunes Marques alega que a língua é um sistema vivo e que as transformações não devem ser ditadas por normas, regras ou acordos.

“Entendo, sempre com o mais elevado respeito a entendimento diverso, que qualquer tentativa de se impor mudanças ao idioma por meio de lei, como se a língua pudesse ser moldada por um decreto, será ineficaz”, disse.

E prosseguiu:

“Pelas razões expostas é que acompanho o eminente relator quanto à inconstitucionalidade sob o aspecto formal. Contudo, com as mais respeitosas vênias à Sua. Excelência, divirjo da tese proposta e proponho a seguinte redação da tese de julgamento: “norma estadual que imponha ou proíba modalidade de uso da língua portuguesa, diversa da norma padrão estabelecida, viola a competência legislativa”, acrescentou.

Coronel Chrisóstomo, por sua vez, se reelegeu como deputado federal e voltou à Câmara dos Deputados para mais quatro anos de mandato.

O mesmo aconteceu com Coronel Marcos Rocha, governador do Estado, que manteve as rédeas do Palácio Rio Madeira. E ambos regressaram aos seus ofícios porque decidiram fazer mais do que falar, deixando para lá picuinhas vazias e a conversa fiada, ao menos na grande maioria das vezes.

O congressista mandou veicular na imprensa regional sua indignação fervorosa contra um toalete feminino, que, especificamente para cadeirantes, abre uma exceção propiciando o uso para homens e mulheres. Uma questão simples de humanidade.


Chrisóstomo parece querer assumir cargo extraoficial de Eyder Brasil como "fiscal de banheiro" / Reprodução

O assunto foi abordado na última sexta-feira (10) pelo Rondônia Dinâmica.

RELEIA
Decadência: a grande preocupação de Coronel Chrisóstomo é o banheiro dedicado a homens e mulheres cadeirantes na Câmara

Em vez de atuar pelos interesses de Rondônia buscando recursos para estruturação, saneamento básico, estradas, nosocômios, escolas, enfim, uma infinidade de necessidades locais, o homem que adotou a boina verde-oliva parece se entregar, finalmente, à faceta mais jocosa de sua personalidade.

O fim dessa via mais folclórica o rondoniense já conhece.

Chrisóstomo, em vez de seguir a fórmula que deu certo, agora assumiu de a vontade de pegar para si o cargo extraoficial que Eyder gostaria de ter: o de fiscal de banheiro.