Instituições que cuidam de dependentes químicos não recebem ajuda do poder público
— Publicada em 02/06/2014 às 17h36min
Porto Velho, RO – Francisca Magalhães da Silva, de 72 anos, dedica a sua vida tentando recuperar dependentes químicos em Porto Velho. Ela preside a Apatox (Associação de Pais e Amigos dos Toxicômanos), instituição formada em 1991 por ela e outras seis mulheres. Mãe de dois ex-viciados, Francisca faz o que pode com contribuições particulares de empresários e da comunidade. Do poder público, garante, não recebe um só centavo.
– Faço tudo aqui. Quando falta alguém no serviço, é comigo mesmo. Não tem tempo ruim para ajudar o próximo. Aqui é uma clínica terapêutica, tem horário para tudo. Vivemos de doações. Não recebo ajuda do Município de Porto Velho ou do Estado de Rondônia há muito tempo. Mas há pessoas fieis e engajadas que me ajudam sempre – contou.
Na capital, segundo a presidente da instituição, o índice de jovens entre os dependentes químicos já atinge a assustadora margem de 70%.
– Mesmo aqui nas redondezas é uma situação difícil. Há muita gente se drogando, o tempo inteiro. É necessário ter amor para lidar com os casos, porque é muito difícil cuidar de um usuário de drogas. Quem não tem dinheiro para pagar a internação, fica aqui de graça. Quem pode, paga até um salário mínimo como ajuda de custo. Hoje abrigamos vinte e quatro pessoas. A procura é grande. Não podemos atender mais dependentes no momento – lamentou.
Apelo
As principais necessidades da Apatox atualmente giram em torno dos custos com água, energia elétrica e alimentação.
Francisca Magalhães também falou sobre a Sepaz (Superintendência Estadual de Promoção da Paz), criada pelo governador Confúcio Moura (PMDB) com o pretexto de ajudar especialmente a restabelecer dependentes químicos e reintegrá-los à sociedade.
– Precisamos de ajuda porque não dá mais para esperar. Se há verba para prevenção às drogas, por que não para custear o tratamento, que é o mais importante? – questionou.
“Apoio moral”
No dia 29 de junho de 2011, há quase três anos, Confúcio Moura visitou a Apatox. Na ocasião, segundo matéria publicada no antigo site oficial do Governo de Rondônia, o peemedebista deu apoio moral para os internos. Ficou por isso.
Durante a visita Confúcio garantiu o lançamento de um grande projeto de apoio a instituições que cuidam dos dependentes.
– Há coisas que entidades privadas sabem fazer melhor que o governo. Esta é uma delas – mencionou o governador. Ele tinha razão.
Leia mais em – Governador visita instituição que trabalha com recuperação
Resgatando vidas
Para Amazonina Aniceto Barbosa (49), fundadora da Associação Resgatando Vidas, o dependente precisa se reestruturar espiritualmente antes de começar a pensar em se reintegrar à convivência social. Há quase 15 anos trabalhando na associação, ela se diz ignorada pelo poder público, prestando seus serviços com ajuda de doações.
– Aqui abrigamos entre trinta a quarenta homens, às vezes mais. Nós resgatamos vidas. Fazemos um trabalho de recuperação espiritual, restabelecendo a autoconfiança do interno. Empresários e amigos nos ajudam a manter tudo isso porque nem prefeito nem governador vêm nos visitar, saber como estamos ou se precisamos de algo. Os políticos nos procuram em época de eleição. Prometem mundos e fundos, mas não cumprem nada – desabafou.
De acordo com ela, a Superintendência da Paz foi até o local, fez muitas exigências, pediu que a casa fosse padronizada, entre outras solicitações.
– O que essas pessoas precisam é de amor. A estrutura que temos e podemos prover, por enquanto, é essa. Mas a maneira com que nós os tratamos faz toda diferença. Muita gente sai daqui tendo um futuro – finalizou.
“Somos gente”
Aos 43 anos, o desempregado Francisco Alencar da Silva, que já foi açougueiro, é um dos internos vivendo na Resgatando Vidas. Ele está na casa há duas semanas.
– Quando me separei da minha esposa fiquei viciado em álcool. O vício me deixou na lama. Eu bebia pra esquecer a vida, mas quando o efeito passava, tudo vinha à tona. Hoje a vida é outra, somos gente – comemorou.
O entalhador Djavan de Paula (33) está sem usar drogas há duas semanas.
– Usei de tudo. Maconha, cocaína e cheguei ao crack por influência das más companhias. A vida de usuário é miserável. Hoje quero casar, ter uma família – disse.
O jornal eletrônico Rondônia Dinâmica tentou contato com a titular da Sepaz, Maria da Penha de Souza, para ouvir a versão do Governo de Rondônia a respeito do panorama apresentado na reportagem.
Sônia Oliveira, assessora técnica do órgão, informou que a superintendente estava em reunião, não podendo responder aos questionamentos, mas que assim que pudesse retornaria o contato. Até o fechamento da matéria não houve retorno.
Autor / Fonte: Rondoniadinamica
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