Ezequiel Neiva cospe na cara da Justiça ao dizer que promotor do escândalo da ponte é parente de deputado que o denunciou

Ezequiel Neiva cospe na cara da Justiça ao dizer que promotor do escândalo da ponte é parente de deputado que o denunciou

Ezequiel Neiva mentiu ao insinuar que há parentesco e amizade entre promotor de Justiça e deputado Hermínio Coelho

Porto Velho, RO – A última entrevista concedida por Ezequiel Neiva à emissora de rádio da Zona da Mata é uma verdadeira escarrada no rosto do Judiciário de Rondônia.

O ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/RO) é apontado como responsável direto pelo suposto escândalo da ponte de Ji-Paraná, onde o Ministério Público (MP/RO) o acusa de participar de “trama ardilosa para roubar dinheiro público”.

Ouça

Não fosse a intervenção da Justiça, R$ 30 milhões dos cofres públicos – do meu e do seu dinheiro – teriam ido parar na conta da construtora Ouro Verde, pivô do esquema revelado minuciosamente pelo promotor Geraldo Henrique Ramos Guimarães após denúncia apresentada pelo deputado estadual Hermínio Coelho (PCdoB).

Embora bata o pé e responsabilize a imprensa por repassar informações falsas – absorvendo a banalização do termo fake news promovida pelo ex-patrão Confúcio Moura (MDB), a realidade é que a juíza Inês Moreira da Costa, da 1º Vara da Fazenda Pública de Porto Velho, determinou o bloqueio de R$ 18,5 milhões nas contas e bens de todos os réus da ação civil pública. A ideia é que, ao final da demanda, caso julgada procedente, haja garantia plena de ressarcimento ao erário.

RELEMBRE
Justiça bloqueia R$ 18,5 milhões de Ezequiel Neiva e demais réus do escândalo da ponte

LEIA EM "O ESPECTADOR"
Leo Moraes faz denúncia séria contra Nazif; Moreira Mendes e a Lava Jato – e Confúcio banaliza definição de fake news

Mas não há óleo de peroba no mundo em quantidade suficiente para lustrar a grandesíssima cara-de-pau de Neiva, pré-candidato a deputado estadual.

O que se ouve em menos de cinco minutos acerca do assunto é um verdadeiro show de mendacidade.

Mentira #1

“O Estado de Rondônia devia um realinhamento, um reajuste à empresa que fez a ponte lá sobre o Rio Machado, em Ji-Paraná. A empresa, na época, tomou um prejuízo enorme”.


Construtora Ouro Verde não tinha direito a reajuste, dizem técnicos do DER/RO / Imagem: Reprodução

Comentário

Além de o próprio Ezequiel Neiva assinar documento deixando claro que o Estado de Rondônia não devia mais nada à Ouro Verde, os técnicos do DER/RO, conforme suscitado na denúncia apresentada, se posicionaram do mesmo jeito. Aliás, conforme destacou o promotor Geraldo Henrique Ramos, houve, sim, uma deflação nos preços dos serviços e insumos da construção civil no momento em que 65% da obra foi realizada.

Mentira #2

“Mandei o processo para a nossa Procuradoria-Geral. A Procuradoria deu parecer favorável, que haveria realmente necessidade de pagar. Foi procurada a Câmara Arbitral para dar uma transparência maior ao fato”.

Comentário

A “transparência maior” alegada por Neiva, na realidade, foi um ato inescrupuloso para distrair os órgãos de controle e a Justiça em si.

O MP/RO foi enfático neste quesito:

“Mas, apenas como argumentação, mesmo que estivesse em condições de contratar [fala da empresa Ouro Verde], nunca poderiam discutir pretensão de realinhamento de R$ 30 milhões no Juízo arbitral, porque isto é direito absolutamente indisponível. E, além de ser indisponível, não havia nada que ser pago, porque tudo já havia sido custeado conforme muito bem explicado pelos senhores engenheiros”, pontuou o promotor.


Ex-diretor transacionou sobre dinheiro público sem autorização do Procurador-Geral do Estado / Imagem: Reprodução

Sobre autorização da Procuradoria-Geral, Ezequiel é desmentido em um dos pedidos na ação. "Que seja declarada a nulidade e, por consequência, desconstituído os efeitos da decisão homologatória da Câmara Arbitral de Ji-Paraná, considerando que [...] c)  pelo fato do gestor ter comparecido para transacionar sobre o dinheiro público do Estado de Rondônia sem autorização do senhor Procurador-Geral do Estado".

Mentira #3

 “Conseguimos baixar o valor. Eram quase R$ 45 milhões, veio para R$ 30 milhões. Isso foi divido em 12 vezes para que o Estado pudesse quitar [a dívida] com a empresa”.


Promotor questiona cálculo apócrifo no processo arbitral / Imagem: Reprodução

Comentário

No processo arbitral surge um cálculo apócrifo recebido e assinado por Ezequiel Neiva nos valores de R$ 46,3 milhões. Isso, claro, após declarar oficialmente não haver mais nada a pagar à empreiteira.


Cálculo apócrifo recebido e assinado por Neiva foi inserido no proceso arbitral; o detalhe é do promotor / Imagem: Reprodução

Em primeiro lugar, não havia dívida a ser quitada, conforme os laudos técnicos anexados aos autos. Em segundo, o cálculo totalmente avulso feito nas coxas, completamente diferente da tal perícia técnica gabaritada aventada pelo ex-diretor na entrevista, foi usado para diminuir os valores escandalosos a fim de conferir pretensa imagem econômica ao ato ilegal.

Mentira #4, a pior de todas

“O Estado já havia pago R$ 15 milhões quando certo deputado, com inveja e ciúmes, sabe, uma coisa do inferno, dentro da política, fez esssa denúncia com um promotor que era parente dele lá, muito amigo dele”.


Para o MP/RO, Ezequiel participou de "evidente esquema criminoso" / Imagem: Reprodução

Comentário

É impressionante como o ex-governador Confúcio Moura e seus chegados conseguem falar descaradamente sobre notícias falsas e apontar o indicador em riste a quem quer que seja enquanto Ezequiel Neiva, sem o mínimo rubor facial, declara à sociedade inteira que Geraldo Henrique Ramos é parente do deputado Hermínio Coelho. Aliás, não são sequer amigos – como quis fazer crer.

É o tipo de conduta que desafia todo o Poder Judiciário, o MP/RO e demais autoridades constituídas. Não existe o mínimo receio de punição; para Neiva, a impunidade é certa e a lentidão da Justiça – ele comemora por não ter sido sequer citado – irá estender tapete vermelho para que alcance facilmente um dos 24 assentos no Legislativo. Deixá-lo livre, leve e solto é aceitar o deboche de quem trata as instituições como verdadeiros bobos da corte. 

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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