Dodge pede que Segovia não fale sobre inquérito de Temer

Dodge pede que Segovia não fale sobre inquérito de Temer

Para Dodge, manifestações sobre apuração em curso contraria 'moralidade' (Adriano Machado/Reuters)

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira sua manifestação sobre o inquérito que investiga supostos atos de corrupção do presidente Michel Temer (MDB) na edição do Decreto dos Portos, que teria beneficiado a operadora portuária Rodrimar, uma das concessionárias dos terminais do Porto de Santos.

Sobre a entrevista em que o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, declarou que a investigação tende a ser arquivada por falta de provas, Dodge solicitou ao ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito, uma ordem judicial para que Segovia se abstenha “de qualquer ato de ingerência sobre a persecução penal em curso”, incluindo manifestações públicas sobre as apurações. A procuradora-geral pede que, caso desrespeite a ordem, o diretor da PF seja afastado do cargo.

Raquel Dodge ressaltou que o cargo ocupado por Segovia é de natureza administrativa e, assim, ele não tem a atribuição de conduzir apurações. “Quaisquer manifestações a respeito de apurações em curso contrariam os princípios que norteiam a administração pública, em especial o da impessoalidade e da moralidade”, afirma Dodge.

Em audiência com Barroso no Supremo, na semana passada, Fernando Segovia afirmou ter tido as declarações distorcidas e se comprometeu com o ministro a não se manifestar mais sobre os fatos que estão sendo apurados.

No mesmo documento remetido ao STF, a chefe da PGR concorda com o pedido do delegado Cleyber Malta Lopes, que conduz o inquérito contra Temer, para ampliar o prazo para conclusão da investigação em mais sessenta dias. Dodge pontuou, no entanto, que a ampliação do prazo já havia sido autorizada por Luís Roberto Barroso, em dezembro de 2017, sem o conhecimento do Ministério Público Federal.

“Embora o objetivo tenha sido nobre, o deferimento de prorrogação de prazo sem prévia manifestação do titular da ação penal acaba por atrapalhar o próprio andamento da apuração, pois prejudica o conhecimento por parte do Parquet da linha investigatória desenvolvida e do estágio das investigações”, afirma a procuradora-geral ao STF.

Ainda na manifestação ao Supremo, Raquel Dodge diz que Barroso já autorizou, a pedido da PGR, em setembro e dezembro de 2017, diligências na investigação sobre o Decreto dos Portos. Uma das medidas determinadas pelo relator a pedido da procuradora-geral da República foi a quebra de sigilos bancário e fiscal de investigados no inquérito. A PGR confirma a decisão, mas não informa quais foram os alvos das quebras de sigilo.

A investigação contra Temer

O inquérito sobre o Decreto dos Portos foi aberto a partir de grampos telefônicos da Operação Patmos, deflagrada pela PF em maio de 2017 com base nas delações de executivos do Grupo J&F, que controla a JBS. Em conversas gravadas, o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures aparece articulando com Ricardo Mesquita, executivo da Rodrimar, sobre o decreto e tratando com integrantes do governo, incluindo o presidente, a respeito do assunto.

O foco da atuação de Rocha Loures, que se notabilizou por ser filmado pela PF correndo com uma mala de propina por uma rua de São Paulo, era estender a flexibilização das concessões portuárias a empresas que tinham contratos anteriores ao ano de 1993, a exemplo da Rodrimar.

Em outro diálogo gravado pela PF, entre Rodrigo Rocha Loures e o ex-diretor de relações institucionais da JBS Ricardo Saud, o ex-assessor de Temer sugeriu o nome de Ricardo Mesquita como alternativa para receber o dinheiro da JBS, ideia que não agradou a Saud. Na mesma conversa, Rocha Loures afirma que “Edgar” seria um dos operadores viáveis à coleta das propinas da empresa porque “Yunes” e “Coronel” não poderiam mais fazê-lo. Ele se referia ao advogado José Yunes e ao coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, ambos amigos de longa data do presidente.

Em respostas à Polícia Federal, Temer negou que tenha autorizado Rodrigo Rocha Loures a tratar em seu nome com empresários do setor portuário ou a receber recursos de empresas do ramo em retribuição ao Decreto dos Portos. Ele disse também que não autorizou Yunes e Lima Filho a receber recursos de empresas beneficiadas pelo Decreto dos Portos. O presidente negou também conhecer Edgar Safdié, empresário a que, segundo a PF, Rodrigo Rocha Loures se referiu na sugestão a Ricardo Saud.

Autor / Fonte: Veja

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