Bailarino tem obra confundida com surto e é detido à força e sedado

Bailarino tem obra confundida com surto e é detido à força e sedado

Igor Cavalcante Medina foi impedido de concluir uma performance ao ar livre que realizava na cidade de Caxias do Sul-RS
 

RIO — Na manhã do último sábado, o dançarino Igor Cavalcante Medina foi impedido de concluir uma performance ao ar livre na cidade de Caxias do Sul (RS), depois que agentes da Guarda Municipal e do Samu confundiram seu trabalho com "um surto psicótico" e o retiraram à força do local, mediante sedação. Igor foi levado a um pronto-atendimento 24h, o Postão, de onde só foi liberado oito horas mais tarde, após a psiquiatra que o atendeu constatar que o artista não apresentava sinais de surto.

A performance, intitulada "Fim.", era uma ação autorizada pela Prefeitura da cidade e integrava a 8ª edição do festival Caxias em Movimento, porém os agentes de segurança e de saúde não compreenderam o trabalho e avaliaram que o artista, que segurava uma rosa numa das mãos e tinha um arame farpado envolto sobre o seu pescoço, era um transeunte em surto.

Testemunhas relataram que o artista foi abordado pelos guardas e, num primeiro momento, teria permanecido em silêncio. Entrevistado pelo site Pioneiro, o diretor da Guarda Municipal, Ivo Rauber, relatou que, após a abordagem, o artista "começou a soltar frases filosóficas, citava a Somália a todo momento. Os guardas entenderam que poderia ter algum problema de saúde e acionaram o Samu".

Já o artista afirmou que, no momento em que foi abordado, declamava um poema que abordava a discriminação racial e social no país, com os seguintes termos: “Mata, espanca, xinga , mutila, esquarteja, destrói, sangra, mas isso é só se for pobre, preto e sofredor”.

Os agentes de saúde, então, interromperam a performance e utilizaram um colete de contenção para imobilizar o artista, colocá-lo numa maca e sedá-lo. Num vídeo publicado na web é possível ver Igor dizer "Tirem a mão de mim. Por que eu estou sendo transportado? Por que vocês estão fazendo isso?".

Após ser liberado, o artista disse ao portal Pioneiro que os agentes não levaram em consideração as suas palavras, de que a performance era autorizada pela Prefeitura e que integrava um festival de dança.

— Tentei explicar, mas eles repetiam que eu estava em surto psicótico e que tinha de ser levado para atendimento. Diziam que estavam me ajudando. Eu falava da autorização que tinha (no calção), mas não me ouviam. Me deram uma injeção de calmante, porque diziam que eu estava alterado. Quem estava alterado eram eles — relatou Medina.

O bailarino é integrante da Cia. Municipal de Dança da cidade, e a performance "Fim." tem como objetivo abordar a violência e colocar o corpo em evidência para "trazer à tona as diversas formas de brutalidade do cotidiano, sejam elas físicas ou psicológicas".

Procurada pelo GLOBO, a Prefeitura de Caxias do Sul informou que "está apurando as informações sobre a abordagem ao bailarino". A partir desta segunda-feira, a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS) "começará a ouvir os relatos dos envolvidos para esclarecer a situação e dar os encaminhamentos necessários. Logo os fatos sejam esclarecidos, a prefeitura voltará a se manifestar oficialmente sobre o caso".

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Autor / Fonte: O GLOBO

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