A desfaçatez do brasileiro sem vergonha faz Temer prosperar

A desfaçatez do brasileiro sem vergonha faz Temer prosperar

Porto Velho, RO – Há dois reflexos que uma constrangedora vergonha pode causar no ser humano. O primeiro, profundo desgosto consigo, gerando, logo em seguida, vontade irrefreável de corrigir um erro, consertar deslizes ou mesmo pedir perdão. Neste caso, o constrangimento traz paralelamente a nobreza sublimando as características mais humanas que alguém pode carregar.

A segunda sequela – não cumulativa– observada em um vexame é a desfaçatez, esta sim perigosa, perigosíssima, pois denota cinismo contagiante de caráter pedagógico a ensinar, de forma errônea, que equívocos se apagam com o tempo independentemente das consequências. O débil age como se sem vergonha fosse, embora sofra silenciosamente em íntimos flagelos – eu sei, não negue.

Para fins dialéticos neste artigo, tomemos como norte aqueles padecidos pelo segundo reflexo: a cegueira relativizada infligida não por patologias, mas pela realidade político-social dicotômica a nos penalizar em pleno século XXI.

O paciente? O cidadão de bem.




Contaminado pelo velho maniqueísmo conveniente a estragar possibilidades de grandes debates pela simplista absorção do conceito equivocado entre o bem e o mal, o enfermo passa a vida a bradar contra tudo aquilo que não esteja inserido em sua microscópica rodela social tratando contraditas como ofensas.

Constantemente enraivecido, vê no diferente a personificação do acintoso, uma vez que seu próprio umbigo é utilizado como régua moral a aferir comportamentos ao redor do Mundo.


Mas o pagador de impostos – só ele e sua trupe pagam, ninguém mais – orgulhosíssimo pai de família tradicional, pois as outras são aberrações do Satanás, alcançou o último estágio do embaraço . 

Acanhamento brusco a corroer os vestígios finais de entranhas combalidas e agora, além da vista, o bom samaritano despede-se tanto das cordas vocais quanto dos dedos atrofiados que outrora, inquietos, dedilhavam teclados de computadores e celulares rebelando-se noutros idos diuturnamente contra a corrupção.

– Não sei como Deus me colocou aqui, disse hoje (27) o presidente ilegítimo Michel Temer (PMDB) em seu derradeiro pronunciamento acerca das acusações apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Embora tenha gerado repercussão imediata, a frase não foi a pior entre as aberrações proferidas no discurso.

O peemedebista, como de praxe, optou por ofender a autoridade acusadora se postando, claro, como “vítima de infâmia”.

Se as claras evidências demonstradas pelas gravações escandalosas apresentadas pelo criminoso empresário Joesley Batista, da JBS, não são provas concretas de acordo com o usurpador puxador de tapetes, o momento seria vê-lo enxergá-las como tal.

Para isso, imprescindível a ação da turba da panela que, tivesse interesse em se insurgir, retiraria agora mesmo as teias de aranhas da louça em aço inox usada, após o impeachment, apenas para receber visitas em ocasiões especiais que nunca vêm.

Infelizmente, toda rebelião precisa de um patriarca, um comandante logístico; porém o cidadão de bem, moribundo, não tem a mínima condição de alcançar o altíssimo armário onde ficam as panelas. A voz que gritava “Fora, Dilma!” está embargada e o máximo que dá pra fazer é balbuciar “Eu quero melão” à la Dom Lázaro Venturini, de Meu Bem, Meu Mal. Coitado, pobre coitado...



– Quem votou em Dilma, votou em Temer – justifica o sapiente sem fazer ideia de quem seja Aloysio Nunes, por exemplo. Assunto para outra dissertação...

Enquanto isso nossa República – ora republiqueta – se contorce diante de tanta indiferença: é o preço a se pagar por preterir a democracia.

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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